Interior

São Bento, em Maragogi, reúne turismo e história

É o local ideal para quem quer fugir do trânsito, movimento e badalação

Por Claudio Bulgarelli – Sucursal Litoral Norte 24/02/2018 15h23
São Bento, em Maragogi, reúne turismo e história
Reprodução - Foto: Assessoria
Quem chega ao povoado de São Bento, no Litoral Norte, atravessando a ponte sobre o Rio Salgado, vindo de Japaratinga, nem imagina que o local possui inúmeras facetas e um mistério a ser desvendado. É o povoado conhecido pela fabricação do bolo de goma, biscoito artesanal feito com coco, tem uma praia com águas calmas, bastante visitada por moradores e turistas, possui formações coralinas conhecidas como Coroa de São Bento, tem culinária antiga e de tradição e tem ainda um encontro com ruínas que contam a história de um passado cheio de mistérios. O Povoado, que fica a cinco quilômetros do centro de Maragogi, passa normalmente despercebido dos viajantes não avisados, apesar de guardar grande beleza e simplicidade com ar bucólico e tranquilo. É o local ideal para quem quer fugir do trânsito, movimento e badalação, sem perder a oportunidade de quando tiver vontade ir até Maragogi para almoçar, jantar ou passear. Histórico Histórias diferentes são contadas sobre a sua origem. Alguns afirmam que teria surgido quando um fazendeiro chegou com sua família à região, fugindo de uma epidemia da qual estava enfermo. Doente, fez uma promessa a São Bento e quando se recuperou cumpriu-a construindo uma igreja em homenagem ao Santo. Efetivamente a região começou a ser habitada nas proximidades de Barra Grande, com a denominação de Gamela da Barra, ao norte de Maragogi. Em seguida a próxima localidade teria sido São Bento, com a denominação de São Bento do Porto Calvo, em referência a freguesia da qual era sede. Por volta de 1875, o povoado foi transferido para o que hoje é Maragogi, restando São Bento esquecido no tempo como uma vila de pescadores e mariscadores. São Bento tem uma orla com pouco movimento, mas possui um restaurante dos mais antigos e tradicionais de Alagoas, o Restaurante do Mano, local aconchegante e rústico, onde se saboreia alguns dos pratos mais deliciosos da região, sempre com peixes, camarões e lagostas. Ainda destaca-se a farmácia do Senhor Manoel e uma venda que se pode comprar de quase tudo, com um nome bem interessante o “Mini Carrefur”. Mistério das ruínas No alto de uma colina, de onde se avista todo o povoado e o mar e provavelmente da época da formação do povoado, existe o mosteiro ou igreja de São Bento de Maragogi, de relevância histórica e com muitos mistérios a serem desvendados. Parcialmente em ruínas, mas tombado pelo Patrimônio Cultural Nacional como sítio arqueológico, os restos do monumento causam impacto no primeiro olhar. Para chegar lá é fácil: depois de atravessar a ponte, em direção a Maragogi, tem uma placa com indicação para entrar à esquerda. Há uma ladeira com calçamento e um trecho de terra, que no verão, é seco e não oferece nenhum perigo. No período das chuvas, é melhor evitar a subida. Existem muitas controvérsias sobre as origens do monumento. Algumas fontes dizem que a igreja foi feita sobre a estrutura de um mercado cujo dono era um francês. Talvez alguém que tenha fugido dos bandos de corsários que teriam invadido a costa leste do Nordeste no final no século XVI e que resolveu permanecer no Brasil. Outra versão, essa repetida por muitos moradores mais velhos do povoado, é de que a igreja de São Bento teria sido construída por um retirante que veio do sertão, isso lá pelo século VXII. Ao conseguir se estabelecer no povoado, ele mandou erguer uma capela em agradecimento a São Bento e essa capela seria depois ampliada, sendo construída a igreja. Ruínas em mapas da época de Maurício de Nassau Uma imagem referente ao templo pode ser vista na placa do Iphan, junto das ruínas, que indica que ele já aparecia em mapas feitos no ano de 1643, pelo cientista alemão Marcgraf, que veio com os holandeses, na comitiva de Maurício de Nassau. Há também muitos relatos dos moradores mais idosos, que chegaram a conviver com a igreja ainda de pé: missas, celebrações variadas, festas de santos e até casamentos, afinal, o templo era o centro da vida social do povoado. Por volta do começo dos anos 1970, a igreja começou a apresentar rachaduras nas paredes e infiltrações que comprometiam a sua manutenção. Não houve reformas e como o templo não era tombado, não houve intervenção de institutos ou de organizações. A comunidade então passou a frequentar a matriz de Santo Antônio, no centro de Maragogi e uma nova igreja foi construída mais perto da praia, ali mesmo em São Bento. Outro mistério que envolve o sítio é que numa área ao lado das paredes mais altas, se encontra uma espécie de cemitério. Até o final do século XIX, cemitérios públicos eram raros no Brasil e as igrejas eram espaços onde eram sepultados os sacerdotes e os membros das irmandades: pessoas que não faziam parte do clero católico, mas se reuniam em associações pra promover atividades nas igrejas. Em 2004, técnicos da companhia de água e esgoto de Alagoas fizeram escavações pra instalações de saneamento em Maragogi e descobriram botijas, o que atiçou a imaginação de “caçadores de tesouros” que achavam que poderiam encontrar ouro nas ruínas de São Bento. Em 2013 foi montada uma “força-tarefa” composta por arqueólogos, historiadores, arquitetos e até médicos, pra fazer levantamentos e coleta de materiais pra tentar descobrir, por exemplo, a história real da construção da igreja. Enfim, são perguntas que talvez mais estudos possam responder. A colina da igreja de São Bento é um lugar enigmático, cheio de histórias e que vale uma visita. Se você for a Maragogi e quiser ter uma experiência bem diferente das piscinas naturais e praias, esse é um lugar que certamente você vai gostar.