Interior

65ª edição do Baile da Chita reúne gerações e movimenta economia de Paulo Jacinto

Em 2015, evento recebeu o Título de Patrimônio Imaterial Histórico e Cultural do Estado

Por Tribuna Independente 22/07/2017 17h51
65ª edição do Baile da Chita reúne gerações e movimenta economia de Paulo Jacinto
Reprodução - Foto: Assessoria

O baile mais tradicional do estado já tem data e hora marcada, será realizado sábado, 29 de julho a partir das 23h no Clube Cultural Recreativo Paulojacintense (CRPJ). O evento é a manifestação cultural mais importante no calendário da cidade. Em 2015, o Baile da Chita recebeu o Título de Patrimônio Imaterial Histórico e Cultural de Alagoas. O evento foi criado há 65 anos e até hoje vem promovendo o desenvolvimento socioeconômico, político e cultural de Paulo Jacinto, região agreste de Alagoas.

E os moradores da cidade já estão ansiosos e se preparando para celebrar a festa. Os menos de oito mil habitantes não veem a hora de se vestir de chita e rever os filhos da terra que voltam à cidade nessa época para participar da tradição.

‘’Existe essa euforia, porque é o nosso referencial. O baile é a nossa identidade cultural. “Está sobrevivendo até hoje e foi por causa dele que nos tornamos independente politicamente. Como todos já sabem a principal causa da criação do baile foi à emancipação política, pois na época o povoado conhecido como Lourenço de Baixo que pertencia a Victória (atual cidade de Quebrangulo) já estava bem desenvolvido e os moradores sentiam a necessidade de se tornarem independentes politicamente. Então, moradores do povoado liderados por Josefa Barbosa ou Zefinha Barbosa como era conhecida, se reuniram para traçar e sugerir ideias que desse para ganhar dinheiro e tornar a vila um município”, esclareceu Valney Erik, pesquisador e ex-secretário de cultura.

ENCONTRO DE GERAÇÕES

O baile da Chita se transformou em um evento familiar onde acontece um encontro de gerações. A festa já formou muitos casais que até hoje estão juntos e frequentam o baile, como é o caso de Andréia Suzie Almeida e Fabiano, que se conheceram no baile de 2001 e estão juntos até hoje.

“Conheci Fabiano no baile. Ficamos e estamos juntos há 16 anos. Desde então, vamos todos os anos e agora com nosso filho de 15 anos. É um evento familiar”, contou Andréia.

Baile da Chita na década de 1950 (Foto: Paulo Henrique Vasconcelos / Arquivo - Cortesia)

O estudante Weverton Rodrigues, natural de Paulo Jacinto, mas que reside em Maceió contou que vai todos os anos com a família e sempre tenta seguir a tradição e ir  trajado de chita. “Vou todos os anos com minha família. É o melhor evento do estado, sem dúvida. É tradição”, expôs.

COMEÇO

Segundo a história contada por vários moradores mais antigos da cidade, tudo começou após várias reuniões, onde Josefa Barbosa (Conhecida como Zefinha), José Aurino de Barros (In memorian), e outros, discutiram o que fazer para pagar o advogado, foi quando a própria Josefa teve a ideia de realizar um baile no povoado. Depois de tudo planejado, surgiu o nome de ‘’Baile da Chita’’, segundo os professores e pesquisadores da cidade, a chita era um tecido da época que tinha um grande poder de comercialização, então os organizadores resolveram dar origem a está referência.

Nos preparativos para o primeiro baile, Josefa teve a ideia de colocar uma rainha, uma vez que o baile seria realizado após os festejos juninos, no mês de julho. A rainha era eleita através dos fundos adquiridos, a que mais arrecadasse dinheiro na venda de rifas e bingos seria a eleita. Todos esses acontecimentos se deram por volta da década de 50.

ECONOMIA LOCAL

No período da festa, a movimentação na cidade aumenta. Gerando mais renda para o comércio local.  “Nessa época a gente ganha mais. Desde junho tivemos encomendas. E tenho certeza que até o baile vai dobrar. Vem muita encomenda por aí”, disse Cícera Monteiro, coordenadora da Associação das Costureiras de Paulo Jacinto.

2017

Este ano o Baile da Chita completa 65 anos de tradição. Os responsáveis pela a organização do evento afirma que os preparativos estão sendo realizados e que os frequentadores não vão se arrepender de participar. “O público vai dançar com a Orquestra High Society e Fabrício do Acordeon e Trio Pé de Serra. As vendas de ingressos individuais e mesas já iniciaram e estamos com mais de 90% vendidas. As mesas para os sócios custam R$130,00, não sócios R$150,00. Já os individuais para sócios é R$30,00 e não sócio R$35,00,” informou o presidente do CRPJ José Barros.

Preparativos da festa já estão a todo vapor; decoradores já confeccionam os adereços que vão dar charme e cor à ambientação do clube (Foto: Ascom / Paulo Jacinto)

Fleury Filho um dos organizadores e sobrinho da idealizadora do evento disse que todos os anos o público supera a expectativa. “O local cabe 900 pessoas. Vendemos todas as mesas, 170 em 2016. Esse ano a expectativa é vender todo de novo. A uma semana do baile já estamos com mais de 90% vendidas”, contou.

REGISTRO DE MEMÓRIA

Até hoje existem várias versões sobre o baile da Chita, mas nas pesquisas para o Trabalho de Conclusão de Curso - TCC: Baile da Chita, um registro de memória, de autoria dos jornalistas Lucas França e Roberison Xavier, consta que durante todos esses anos a festa deixou de ser realizada em apenas um ano. Em 1978, por causa da morte do então prefeito da cidade José Correia Fontan. Já em 1989, depois de uma forte enchente que inundou a cidade semanas antes da festa, o baile foi adiado e realizado no mês de setembro. Outra inundação, no ano de 2010, adiou a edição mais uma vez. Apesar da tragédia a população não deixou de realizar a tradicional festa. Em 2014, também não houve o baile da Chita em ambiente fechado, mas foi realizado na Praça de Eventos Josefa Barbosa, aberto ao público.

Musicalidade e escolha da rainha representa continuidade da tradição

A musicalidade também se tornou importante. Na época, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira estavam fazendo sucesso com a composição Propriá, que carinhosamente ficou conhecida como Rosinha de Propriá pelos paulojacintenses, por se tornar a chamada de abertura do evento. Luiz Gonzaga estava de passagem pela região Nordeste e ao saber que sua música era considerada a chamada de abertura do baile, em agradecimento e por convite do senhor José Aurino de Barros na época prefeito nomeado em 1953 ele fez questão de realizar um show na cidade já emancipada. Até hoje a música Propriá, ainda é tocada pelas bandas e orquestras convidadas, na abertura do baile.

ETERNAS RAINHAS

Hoje, à rainha do baile não é mais escolhida através de arrecadação de fundos. Elas são escolhidas através do voto direto dos associados do CRPJ, da diretoria responsável pela organização do evento ou por uma mesa julgadora que analisam as candidatas. Todas têm que obedecer alguns requisitos, como boa “conduta”, ser simpática, bonita, idade entre 15 e 18 anos, e ser natural da cidade ou residir no município.

A escolha das rainhas sempre gerou certa polêmica. Isso porque segundo os moradores as escolhidas sempre pertenciam à família de sobrenome de destaque ou pertenciam a uma classe social mais elevada.

Escolha da rainha no baile de 2008 (Foto: JC Alves / Cortesia)

Renicacia Moreira, moradora da cidade ressalta que a escolha das rainhas deve ser feita de forma democrática e diz que todos tem o direito de opinar. “Em minha opinião esse ano foi bom porque podemos mostrar que ao contrário de anos anteriores à rainha foi escolhida pela vontade do povo. Antes, só era rainha quem era da classe média. Acho justa a participação da população na escolha da jovem que representará a festa”, concluiu.

E por falar em rainha, a representante deste ano já foi escolhida, a estudante Erika Vasconcelos, 18 anos, foi eleita através do voto direto dos associados do CRPJ e contou para reportagem da Tribuna Independente, como foi ser eleita.

“Toda menina que reconhece a grandeza da tradição, cresce com o desejo de se tornar rainha do Baile. Não só pelo prestigio que recebe no dia da festa, mas pelo valor de representar uma tradição. E eu levo a tradição comigo. Contei para pessoas de todo país, através do meu canal no Youtube, a história do baile e como tudo aconteceu”, disse Erika Vasconcelos.

Erika está sendo chamada na cidade como a representante do povo. A jovem concorreu com outras quatro candidatas. “Trabalhar com o público é importante, porque sempre fui muito insegura. O canal veio como uma maneira de me libertar de tudo. E o que me deixa ainda mais realizada é ver meninas que assim como eu, que não são confiantes com o seu cabelo cacheado, com o seu corpo fora dos padrões, se inspirarem em mim e digam: ‘’você me ajuda. Através de você eu assumi meu cabelo” Assim, também está acontecendo agora. Depois de ter sido escolhida como a rainha de 2017, ouço das conterrâneas que se sentem mais seguras de participar. Porque durante muitos anos foi posto um padrão de beleza, um padrão financeiro e familiar para esse título, entristecendo quem o tem como um sonho. Ser rainha vai além da beleza física. Ser filha de doméstica e servidor público não é vergonha, que bom que o povo está pensando assim. A Tradição é de todos.  Sinto-me lisonjeada por ser chamada de rainha do povo. Farei jus ao meu título e levarei Paulo Jacinto e sua história aonde quer que eu vá’’, concluiu a rainha.

Além do baile, programação traz atrações culturais e shows musicais gratuitos

Para acompanhar a festa privada que acontecerá no CRPJ, a prefeitura da cidade vai realizar uma festa gratuita com mostra de saberes populares, apresentações culturais e shows com grandes nomes da música regional. Os festejos acontecem nos dias 29 e 30 de julho.

Escolhida rainha do baile desta edição, Erika Vasconcelos está sendo chamada de a representante do povo (Foto: Victor Menezes / Cortesia)

Na programação, além de nomes como Luan Estilizado, Raphael & Gabriel, Forrozão das Antigas e Ana Lôbo, vai ter espaço garantido para os músicos da terra no palco de shows representados pela Banda Aero5 e pelo vaqueiro cantador Maciel Valente.

Então, quem resolver passar o final de semana na cidade vai conferir muito mais que o Baile e as apresentações musicais noturnas em praça pública. Durante o dia, a agenda festiva traz ainda apresentações culturais diversas, mostra de artes visuais e outros saberes populares, sempre a partir das 15h, na Praça de Eventos Zefinha Barbosa e adjacências.

“A Festa da Chita é nossa referência cultural máxima. Imagine uma cidade que nasceu de um baile, de uma festa realizada por iniciativa popular. Foi assim que nasceu nossa cidade, antes Vila pertencente ao município de Quebrangulo”, explica a secretária de Cultura, Turismo e Comunicações de Paulo Jacinto, Clarissa Veiga.

Ela conta que este ano a Prefeitura envolve diretamente a população na construção da festa. “O projeto de cenografia, assinado pela designer Christie Pedra, vai fazer as estampas do tecido que dá nome a festa brotarem pela cidade. Donas de casa, artesãs, decoradores e voluntários diversos trabalham na elaboração dos artefatos que vão decorar o Clube Cultural e Recreativo para o tradicional Baile, bem como enfeitar a cidade para receber o público da nossa grande festa”, conta.

Para o prefeito, Marcos Lisboa, realizar a 65ª Festa da Chita, foi um desafio para a gestão. “Graças à parceria com o governo do Estado, vamos conseguir presentear o paulojacintense e seus visitantes com uma festa em grande estilo. Nosso objetivo é que nesses quatro anos possamos reviver os grandes Festivais da Chita que realizamos em outros anos à frente da gestão municipal”, explana.

Baile da Chita (Foto: Lucas França / Arquivo)

Lisboa explica ainda que, em sua 65ª edição, a Festa da Chita volta a trazer programação para todas as idades. “Dividimos o sítio do evento em dois espaços distintos, o ‘Família’ tem programação a partir das três horas da tarde com mostra de arte, artesanato e comidas típicas; enquanto no ‘Espaço Festa’, o público vai conferir e interagir com bandas de fanfarra, coco de roda, quadrilhas juninas, forró pé de serra e muito mais. À noite os grandes shows começam a partir das vinte e três horas”, diz.

SEGURANÇA E APOIO

Para manter o clima de tranquilidade típico da cidade e garantir a segurança na Festa, o prefeito ampliou a já recorrente parceria com a Polícia Militar de Alagoas e garantiu efetivo policial extra junto ao Governo do Estado. “O governador Renan Filho tem sido parceiro do município em todos os momentos, garantindo obras de infraestrutura básicas fundamentais aos nossos cidadãos, segurança e apoio na realização da nossa mais tradicional festa”, atesta o prefeito.

A Festa da Chita contará com estrutura de apoio, bombeiros civis, ambulâncias e equipe médica de plantão para atendimento imediato em casos de emergência.

Uma tenda de serviços será montada para campanhas de saúde e do serviço de assistência social do município. Atrelada a essa iniciativa soma-se a distribuição de preservativos e a realização de um aulão de zumba no palco da Praça Multieventos.

Confira a Programação Completa

(Imagem: Divulgação)

DIA 29

ESPAÇO FAMÍLIA

15h ÀS 22h

Culinária Tradicional

Artesanato

Artes visuais e Outros Saberes

Mostra Degustativa do Cardápio Oferecido na Merenda Escolar do Município

ESPAÇO FESTA

CULTURA NA PRAÇA - A PARTIR DAS 15 HORAS

Grande Encontro de Bandas de Fanfarra

Coco de Roda

Aulão de Zumba

Forró Pé de Serra, participação especial de Estudantes Repentistas

Exposição dos Alunos da EJA do Município e dos Alunos do Ensino Médio da Escola Estadual.

SHOWS MUSICAIS - A PARTIR DAS 21 HORAS

Raphael e Gabriel

Ana Lôbo

Maciel Valente

Shows na 57ª edição da festa (Foto: Reprodução)

DIA 30

ESPAÇO FAMÍLIA

15h ÀS 22h

Culinária Tradicional

Artesanato

Artes visuais e Outros Saberes

ESPAÇO FESTA

CULTURA NA PRAÇA - A PARTIR DAS 15 HORAS

Capoeira

Grande Encontro de Quadrilhas

Quadrilha Vila Forró

Junina Capim Canela

Forró Pé de Serra, participação especial de Estudantes Repentistas

SHOWS MUSICAIS - A PARTIR DAS 21 HORAS

Banda Aero5

Forrozão das Antigas

Luan Estilizado.