Interior

Sem chuva em União dos Palmares, Rio Mundaú pode secar em até sete dias

Segundo órgão responsável pelo abastecimento, 66 mil pessoas podem ficar sem água

Por Tribuna Independente 21/02/2017 10h00
Sem chuva em União dos Palmares, Rio Mundaú pode secar em até sete dias
Reprodução - Foto: Assessoria

O sistema hídrico de União dos Palmares, que já enfrentava dificuldades desde dezembro, entrou em colapso. Na semana passada, houve suspensão total do abastecimento. O reservatório da cidade registrava apenas 10% do volume morto. Segundo o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), se continuar sem chuvas, o Rio Mundaú irá secar deixando mais de 66 mil pessoas sem água. A previsão é de que isso ocorra em até sete dias.

As águas do Rio Mundaú, que atravessam a cidade, são usadas para diversos fins, inclusive para o consumo humano. De tão comprometida, a vazão do rio tem sido disputada. Quando os agricultores da região acionam bombas para irrigação, a população fica sem água. 

Na semana passada, a situação se agravou e o fornecimento foi suspenso durante 24 horas. No período, a cidade não teve alternativas para abastecimento.  Responsável pela captação, tratamento e distribuição, o Saae informou que o rio ‘secou totalmente’.

Segundo Mário de Barros, do setor de controle de perdas do Saae, a situação é crítica. Mesmo com o retorno do abastecimento, a interrupção pode ocorrer novamente ou até ser suspenso em definitivo.

“Fizemos um barramento de sacos na estação de captação, mas essa barreira foi rompida e toda água verteu. Se a situação perdurar, não demora uma semana para entrar num colapso total. Se a vazão não aumentar, nas condições atuais, não temos como garantir o abastecimento da cidade. Nunca vivemos situação semelhante. Ninguém estava pronto para isso”, ressalta.

O fornecimento de água para a cidade só pode ser retomado porque durante as 24 horas que esteve interrompido não houve nenhuma captação, o que permitiu um acúmulo mínimo de água.

“O rio entrou em colapso e está com vazão mínima. A cidade ficou completamente sem água. As pessoas que não têm condições de comprar água tiveram que procurar cacimbas ou tentar achar água no rio. É uma situação de calamidade”, afirmou.

A crise hídrica obrigou a implantação de um sistema de rodízio. A cidade foi dividida em cinco grandes regiões, cada área é abastecida durante dois dias. Apenas oito dias depois é que volta a chegar água.

Cidade não estava preparada para enfrentar crise, diz prefeito

O prefeito Areski Freitas reconheceu que União enfrenta uma situação “jamais vivenciada”. Segundo ele, os órgãos públicos e a população não estavam preparados e ainda tentam se acostumar com a escassez.

Ele confirmou que proprietários de terras têm utilizado a água indiscriminadamente e que as fiscalizações têm sido periódicas, mas não coíbem a prática

“É uma realidade que a gente começou a viver e está tendo que se adaptar. Porque a seca no Agreste e no Sertão a gente conhece, mas aqui na Zona da Mata não. A gente vive em constante vigília, porque quando eles colocam as bombas o rio praticamente seca e a gente tem que segurar para que as casas sejam abastecidas, já que são prioridade. A preocupação é que o rio não seque de vez, pois é o único abastecedor da água local”, expõe.

Para Manoel Ferreira, morador de União, a crise é inesperada. Por ser um rio perene, que sempre suportou a demanda até nos período de estiagem, o esvaziamento impressiona, garante ele. “Essa seca é uma coisa que ninguém nunca viu. Se a situação não melhorar, o jeito é usar carro pipa. Mas como se até as nascentes estão secando?”, questiona.

(Foto: Sandro Lima)

Prefeito Areski Freitas diz que rio é a única fonte de abastecimento da cidade

A prefeitura informa que ações paliativas têm sido desenvolvidas, embora reconheça que há falta de planejamento para o enfrentamento da crise. Além da construção de barragens ao longo do rio para contenção da água, a perfuração de poços artesianos é apontada como alternativa.

“A gente está com um trabalho com o governo do Estado para a recuperação de nascentes e recuperação de mata ciliar como um paliativo e feito já tardiamente, já que a gente nunca teve esse problema de seca na zona da mata. E hoje a gente está vendo aqui vários agricultores perfurando poços de 150 metros em fazendas que antigamente nem se pensava em razão da abundância de água”, destaca o prefeito.

O funcionário da Saae diz que União dos Palmares não possui reservas de água para tratamento.  Para ele, as chuvas são a única saída para resolver o problema, uma vez que a perfuração de poços artesianos na região é inviável.

“Estamos estudando construção de poços artesianos. A questão é que precisamos cavar 120 metros para achar água com pouquíssima vazão e 90% é salobra, por causa do cloreto das rochas. Não dá para usar. O gasto é imenso. Também estamos fazendo os barramentos ao longo do rio para quando as chuvas chegarem. Mas só quando começar a chover, porque até agora foi muito pouco”, afirma Mário de Barros.

Reservas serão abastecidas apenas em 2018

Vinícius Pinho, meteorologista da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) explica que o período de inverno no ano passado foi insuficiente para abastecer as reservas da região. Para ele, a cidade ainda vai enfrentar dificuldades nos próximos 12 meses.

“Há muito tempo tem chovido pouco na região e realmente eles estão em situação crítica. Para resolver o problema não temos perspectiva a curto prazo. Não existe perspectiva de volume grande de chuvas até abril. A perspectiva é que apenas a partir de 2018 é que tenhamos uma evolução no quadro e as reservas voltem a ser abastecidas”.

PROBLEMA DA CRISE

O meteorologista acrescenta que no ano passado choveu 40% do esperado, impactando diretamente no volume armazenado. O que, para ele, é uma das causas da crise enfrentada.

“Como essa região é uma região difícil para perfuração de poços, para resolver esse problema é torcer para que chova com intensidade brevemente. Eu não vejo outra forma”, conclui.