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Ex-CRB, atacante Kazu será o jogador mais velho do mundo em 2018

Japonês renova contrato com o Yokohama; ele marcou o futebol alagoano com passagem relâmpago de 37 dias

Por Júnior de Melo – Editor de Esportes com Tribuna Independente 27/01/2018 11h53
Ex-CRB, atacante Kazu será o jogador mais velho do mundo em 2018
Reprodução - Foto: Assessoria

No dia 26 de fevereiro de 2018 o atacante japonês Kazuyoshi Miura, popularmente conhecido como Kazu, completará 51 anos e terá uma temporada inteira para bater recordes. Na verdade ele já bateu ano passado quando marcou um gol e tornou-se o jogador mais velho a disputar uma partida profissional com 50 anos e sete dias em março de 2017, ultrapassando a marca do inglês Stanley Matthews. Esse japonês, filho de um grande empresário do país asiático, tem raízes no futebol brasileiro. E mais. No futebol alagoano. Kazu passou por muitos times do Brasil, e entre eles o CRB.

“Ele chegou em Maceió dia 06 de outubro 1987, vindo do Matsubara-PR. Tinha apenas 20 anos de idade. Em sua passagem no CRB não fez nenhum gol. Estreou dia 07 em um amistoso na Usina Sinibú que terminou com placar de 1x1. Kazu não disputou o alagoano. Jogou apenas no Brasileiro da 3ª divisão, no Módulo Amarelo em um grupo com quatro clubes (CRB, Central, Catuense e Auto Esporte)”, revelou o historiador e plantão esportivo da rádio Correio-CBN, Walter Luiz.

Na estreia de Kazu em jogos oficiais o CRB venceu o Central no Rei Pelé por 1x0, o gol foi marcado por Cícero e o japonês foi destaque do jogo entrando no segundo tempo. Todos os dados históricos de Kazu estão cuidadosamente guardados com Walter. Ele é uma das referências do Estado nesse segmento. Kazu renovou  semana passada seu contrato com a equipe do Yokohama FC. Ele está no clube desde 2005 e não pensa em se aposentar. O anúncio foi feito pelo clube que irá disputar a segunda divisão do Campeonato Japonês esse ano. O jogador passou por clubes no Brasil como Coritiba, XV de Jaú, Matsubara e Santos. “Foi o primeiro japonês a fazer um gol no futebol brasileiro, quando atuava pelo XV de Jaú. Além disso, foi o primeiro japonês a disputar o Campeonato Italiano quando atuou pelo Genoa entre 1994 e 1995”, disse Walter.

Kazu já revelou ter intenções de continuar jogando até os 60 anos. Ele ganhou fama no Japão ainda na década de 1990, quando era o atleta profissional de futebol mais conhecido de toda a Ásia, contribuindo para trazer notoriedade ao futebol do país após a sua profissionalização, em 1993.  Pela seleção japonesa, o “Rei Kazu”, como é conhecido pelos torcedores, tem 55 gols em 89 partidas. Em 2017, Kazu participou de 12 jogos pelo Yokohama FC e marcou um gol, quebrando o seu próprio recorde de jogador mais velho a balançar as redes na liga japonesa.

“Kazu quase sempre entrava no segundo tempo. Apesar de muito habilidoso, ele sentiu o clima de Alagoas. Seu contrato com o CRB foi até dezembro e seu último jogo aconteceu dia 12 de novembro de 1987, lá em Camaçari diante do time da Catuense. Na ocasião o CRB perdeu por 3x1 e foi eliminado do Brasileiro. Seu pai era muito rico e bancava ele. O presidente na época era Waldemar Correia e o técnico regatiano era Paulo Roberto Guilhardi”, detalhou Walter lembrando que o atleta asiático ficou apenas 37 dias no CRB. “Lá de Camaçari ele nem voltou para Maceió, pois foi solicitado pelo Matsubara. Assim não jogou mais no CRB”.

Jogadores da época e profissionais de imprensa revelam fatos curiosos de Kazu

[caption id="attachment_57579" align="alignleft" width="964"] Borçato, Jobson e Guimarães estiveram lado a lado com Kazu durante os 37 dias em que ele esteve em Alagoas (Fotos: Reprodução / Montagem – Tribuna Independente)[/caption]

Companheiro de clube e de concentração. O ex-jogador Borçato hoje mora em Maceió e jogou ao lado de Kazu no CRB. As histórias com o colega asiático são muitas. “A gente sempre fazia muita brincadeira, pois ele estava arrastando o português. Uma vez eu perguntei quantas letras tinha o alfabeto japonês, ele disse que só conhecia 4 mil (risos). Ele também ficava muito feliz em ir na praia ver as mulheres brasileiras. Gostava do biquíni pequeno. Era um jovem muito legal”, lembra Borçato.

O amigo relata que Kazu era um jogador de muita habilidade, era rápido e driblava com facilidade tanto com a perna direita como a esquerda.  “Eu acho que jogar com 51 anos é uma puxada muito grande, pois do outro lado vai ter a motivação de um garoto de 20 ou 25 anos que vai pensar: estou encarando um cara de 50 anos. É uma responsabilidade muito grande. Eu acho que hoje não caberia mais isso no futebol, mas respeito a decisão dele”.

O goleiro do CRB em 1987 era Jobson. Hoje ele trabalha como preparador de goleiros do CSA. Mas lembra bem dessa passagem inusitada no clube regatiano. “Era um cara tranquilo, mas não falava bem o português. Ele gostava de contar piadas, mas do jeito dele, que só ele entendia (risos). Era uma pessoa que procurava seu espaço tanto que saiu logo para outro clube.  Foi uma surpresa grande saber que o colega vai seguir jogando profissionalmente aos 51 anos. “É uma coisa diferente. Eu parei em 1994 porque eu quis. Desejo sorte e que ele jogue com 42, 53, pois ele se cuida e tem um biótipo bom”, afirmou Jobson.

Na imprensa o contato também era folclórico. Kazu chegou em Maceió e foi logo “atacado” pelos repórteres.  O cronista Antônio Guimarães era um dos profissionais da época. “A chegada do Kazu foi uma festa para o futebol alagoano. Ele chegou ao CRB de forma tímida e com poucos treinamentos já era atração do clube, com arrancadas fulminantes e dribles desconcertantes. Com apenas 20 anos se tornou a sensação. Era ousado, partia pra cima com suas firulas que o transformaram no xodó da torcida regatiana. Ele estava no Brasil para aprender, mas acredito que veio para ensinar. O futebol atual está tão carente de bons jogadores que acredito que se ele estiver bem fisicamente, com certeza deve continuar sim jogando aos 51 anos”, detalhou Guimarães.