Esportes

Em 2007, nascia a Tribuna Independente e surgia Yohansson Nascimento

Paratleta alagoano cresceu no esporte junto com o projeto inovador dos jornalistas e gráficos

Por Tribuna Independente 11/07/2017 14h48
Em 2007, nascia a Tribuna Independente e surgia Yohansson Nascimento
Reprodução - Foto: Assessoria

Um sonho sonhado por muitas pessoas fica mais fortalecido para se tornar realidade. O mundo do esporte é feito desses sonhos. Realizações que passam não só pelo atleta, mas por todos que estão ao seu redor. Pais, mães, irmãos, tios, amigos, quem quer que seja que possa ser útil neste sonho. Assim como em 2007, jornalistas e gráficos de Alagoas sonhavam com um futuro promissor em suas carreiras dentro de um projeto inovador, o paratleta alagoano Yohansson Nascimento sonhava brilhar como atleta de seu país. Mas como lutar esta batalha se ele não tinha as mãos? Como ganhar projeção e ter um treinamento adequado se Maceió não possuía estrutura? Era necessário uma força de alguém. E esse alguém foi a professora Walquiria Campelo, que é a grande responsável pelos treinamentos em Alagoas do desporto paraolímpico.

“Deus que colocou a pessoa certa na minha vida. Até o fato de eu já ter nascido assim, sem as mãos. Eu já nasci um paratleta. Muitas pessoas falam que ninguém é capaz de formar um velocista, o velocista já nasce veloz. Então, eu acredito que Deus já sabia que tinha um plano muito grande para a minha vida”, lembrou.

Foi então que o garoto pequeno, franzino, foi orientado a concentrar toda sua força nos membros inferiores. Pernas velozes que despertaram para o mundo, e que enchem de orgulho todos os alagoanos. Hoje, este talento da terra dos marechais mora em São Caetano do Sul-SP. É lá que aprimora seus recursos para ganhar mais medalhas. Mesmo à distância, Yohansson concedeu uma excelente entrevista para Tribuna Independente, relembrando os 10 anos de carreira e a projeção para o futuro.

“Minha principal alegria é saber que estou dando orgulho a muitos brasileiros, principalmente aos alagoanos. Tenho muito orgulho da minha terra e falo com muito carinho deste momento que chego aos 10 anos de carreira”, disse.

Yohansson nasceu sem as duas mãos. Conheceu o atletismo apenas aos 17 anos, convidado pela técnica Walquíria dentro de um ônibus. Seu nome é uma homenagem de seus pais ao piloto sueco de Fórmula 1 Stefan Johansson. Primeiro foram os treinamentos e depois as competições. Os Jogos Parapan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, marcaram a primeira competição internacional em que Yohansson se destacou pela Seleção Brasileira.

Ele deixou o Rio com três medalhas de ouro - nos 100m, 200m e 400m. No ano seguinte, o alagoano disputou os Jogos Paralímpicos de Pequim-2008. Ao lado de Alan Fonteles de Oliveira, André Luiz Oliveira e Claudemir Santos, faturou a medalha de prata no revezamento 4x100m T42-46. Foi ainda bronze nos 100m T46. Três anos mais tarde, consolidou-se como um dos principais velocistas do mundo em sua classe.

“As principais dificuldades de um paraatleta, e também de todos os atletas brasileiros é o apoio financeiro. Falo de um modo geral. Hoje, depois de tudo que eu conquistei,  não tenho mais esse problema. Mas vejo que quando alguém tenta iniciar no esporte trava essa batalha e isso é muito complicado”.

No Mundial Paralímpico de Atletismo de 2011, em Christchurch, na Nova Zelândia, conquistou três medalhas: foi campeão dos 100m, com o tempo de 11s01, prata nos 200m, e bronze no revezamento 4x100m T42-46. Chegou desta maneira como um dos grandes favoritos a medalhas nos Jogos Paralímpicos de Londres, em 2012.

Foi na Inglaterra que Yohansson conseguiu seu primeiro ouro, nos 200m rasos, além de outra prata, nos 400m rasos. Em sua primeira prova em  Londres-2012, ele correspondeu às expectativas com o tempo de 22s05. Logo após a prova, o atleta surpreendeu o mundo e mostrou um cartaz em que pedia sua então namorada, Thalita, em casamento. O atleta seguiu sua campanha vitoriosa na Paralimpíada britânica com o segundo lugar e a prata nos 400m, que percorreu em 49s21.

Yohansson teve a honra de carregar a tocha dos jogos de 2012

Yohansson era favorito à conquista da medalha de ouro nos 100m, tendo quebrado o recorde mundial da distância na semifinal. Contudo, logo na largada da disputa final ele rompeu o músculo do quadríceps da perna direita. Chorando, Yohansson percorreu a distância e cruzou a linha de chegada depois dos rivais, mas aplaudido pelo público do Estádio Olímpico de Londres.

“Acredito que as tristezas que tive nesses dez anos foram são tão poucas que nem me lembro. Penso positivo e somente em coisas boas. O atletismo veio na minha vida só para me proporcionar felicidades. E muita coisa ainda virá”, destacou.

No caminho para os Jogos Paralímpicos do Rio 2016, Yohansson conquistou diversas medalhas em Campeonatos Mundiais. Em Lyon 2013, ele ficou com o ouro novamente nos 200m, além de uma prata no revezamento 4x100m T42-46 e bronze nos 100m. Dois anos mais tarde, no Mundial de Doha 2015, ele faturou o título dos 200m pela segunda vez consecutiva e foi medalhista de prata nos 100m.

Nos Jogos do Rio Yohansson fez a sua melhor marca pessoal nos 100m, com 10s75, e ficou com a medalha de bronze. O alagoano ainda obteve a medalha de prata no revezamento 4x100m T42-47, ao lado de Petrúcio, Alan Fonteles e Renato Nunes.

O esporte em Alagoas cresceu nesses dez anos e Yohansson sonha em ver mais garotos como ele. “Eu acredito que sim (cresceu), mais espero que continue evoluindo cada vez mais. Quero que Alagoas não seja apenas um estado de belas praias. Quero que seja a terra de grandes campeões. Os primeiros passos para um jovem ser um campeão é se dedicar ao máximo e treinar muito. Não é fácil a jornada.  Mas, quando se chega a grandes conquistas, tudo valerá a pena”

 No meio de tudo isso, o jovem recorda do começo difícil e de como nunca desistiu.  Ele fez uma rifa para poder comprar a primeira sapatilha. Nas primeiras competições Yohansson corria com uma sapatilha de número menor que o pé. “Mesmo assim sempre continuei trabalhando, treinando, querendo dar o meu melhor para conquistar muitas medalhas pelo Brasil e pelo mundo a fora. A mensagem que eu deixo pra todas as pessoas que admiram meu trabalho é que elas continuem acreditando nos seus sonhos, sei que elas vão conseguir realizar muitas coisas na vida, basta acreditar e trabalhar duro pra realizar tudo”.

Yonhansson Nascimento é um dos símbolos desta marca de 10 anos da Tribuna Independente. Quem sempre noticiou suas medalhas e tem grande alegria e estar lado a lado celebrando uma década. O alagoano participou de três Jogos Paralímpicos em toda a carreira: Pequim (2008), Londres (2012) e Rio de Janeiro (2016). Apesar da experiência e dos 29 anos de idade, o atleta projeta ir para Tóquio em 2020 e aumentar a galeria de seis medalhas paralímpicas.

“O esporte é essencial não só para mim, como para qualquer pessoa, deficiente ou não. Fazer uma atividade física é bom para a autoestima, é bom para a saúde. Mas, para mim, o esporte é essencial porque mudou toda a minha história. E não só minha, mas acho que também da minha família e do meu estado. Eu saí lá de Maceió, vindo de uma família humilde, e consegui vencer na vida, consegui conquistar muitas coisas, justamente pelo esporte”.