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Com resultados ruins em simples, Brasil vira potência nas duplas de tênis

Nos últimos dez anos, duplistas brasileiros levantaram mais de 50 troféus, enquanto em simples, foram apenas quatro títulos

Por Globo Esporte 06/03/2017 10h53
Com resultados ruins em simples, Brasil vira potência nas duplas de tênis
Reprodução - Foto: Assessoria

O fim de semana foi bem positivo para os brasileiros que jogam duplas no Circuito da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais). Em São Paulo, André Sá e Rogério Dutra Silva ganharam o Brasil Open, enquanto no México, Bruno Soares, ao lado do britânico Jamie Murray, levou o ATP 500 de Acapulco. Por outro lado, em simples, o país teve seis atletas na chave principal do torneio paulista, mas só um avançou para a segunda rodada, João Souza, o Feijão, mas caiu logo nas oitavas de final.

Isso não é novidade no tênis brasileiro. Nos últimos anos, o duplistas têm se destacado muito mais que os jogadores de simples. Só como exemplo, desde 2007, o país já conquistou mais de 50 títulos de duplas, incluindo três Grand Slam, mas só teve quatro troféus individuais no período, todos com Thomaz Bellucci. Os brasileiros perceberam cedo que as partidas de simples e duplas são bem diferentes.

Bruno Soares e Jamie Murray no US Open 2016 (Foto: Reuters)

O gaúcho Marcelo Demoliner, de 28 anos, disputou a final do Brasil Open, ao lado do neozelandês Marcus Daniell, e ficou com o vice-campeonato. O tenista, que começou a carreira em simples, passou a jogar o circuito de duplas com maior intensidade nos últimos dois anos, e hoje já se consolida no top 70 do ranking mundial. Para ele, é essencial entender a diferença das partidas de simples e duplas:

- É questão de talento e principalmente entendimento do jogo. Os meninos (Bruno, Melo e Sá) entenderam o jogo de duplas, como se joga duplas. É o esporte muito diferente, simples e duplas são coisas diferentes. Nosso país é acostumado a ir bem em equipes, né? Futebol, vôlei, basquete... Eu comecei a jogar duplas faz dois anos, estou entendendo muito mais agora. Isso me ajuda na evolução- disse Demoliner, que não atua mais nas chaves de simples.

André Sá também fez essa transferência de simples para duplas, mas há uma década. Tenista que até hoje tem o melhor resultado do país em Wimbledon, avançou às quartas de final em 2002, o mineiro chegou a ser 55º do ranking de simples. Mas, a partir de 2007, viu que poderia se dar melhor nas parcerias:

- Comecei minha carreira há muito tempo, mas eu sempre gostei de duplas. As coisas básicas das duplas são muito boas para evoluir em simples. A minha transição foi natural, tinha 32 anos, e já não tinha mais o mesmo nível. As coisas foram muito rápidas. O Marcelo Melo ficou na minha orelha pedindo para jogar com ele (risos). Aí a gente jogou alguns challengers, depois fomos campeões em Estoril e avançamos para a semi em Wimbledon. Aí era a decisão correta a fazer, mudar totalmente para as duplas. Foi um risco calculado - explicou.

Demoliner e Marcus Daniell na final de duplas do Brasil Open de duplas (Foto: DGW Comunicação)

Nos últimos anos, Bruno Soares e Marcelo Melo têm feito um sucesso tremendo. Melo chegou a liderar o ranking de duplas no ano passado e, no currículo, tem o título de Roland Garros em 2015, ao lado do croata Ivan Dodig. Bruno formou, ao lado de Jamie Murray, a melhor parceria de 2016, e após um começo de temporada apático, levou o título do ATP 500 de Acapulco, no México. Os dois estão no top 10 do ranking mundial de duplas mas, no início da carreira, tentaram a sorte no individual.

Rogério Dutra Silva entrou para o hall dos brasileiros vencedores de um torneio ATP neste domingo, ao levar o Brasil Open ao lado de Sá. Ele, que está com 33 anos, vive uma ótima fase em simples, e, apesar de flertar com o circuito de duplas, só buscará uma migração total dentro de, pelo menos, dois anos:

- Estou passando pelo melhor momento da minha carreira, meu foco ainda é simples, mas óbvio, como o André disse, é olhar com bons olhos as duplas. Vou usar bastante o que faço nas duplas. Por enquanto eu espero jogar mais uns dois ou três anos focado em duplas, mas sempre olhando com bons olhos as duplas - disse.