Francisco das Chagas Soares dos Santos. Se o nome não diz muito para grande parte dos brasileiros, em Portugal ele é sinônimo de gol, mas atende por um apelido. Tiquinho Soares vem sendo o grande destaque do Porto pelo Campeonato Português. Em seus cinco primeiros meses pelo clube, o centroavante impressiona pelos números. Paraibano, ele tem 12 gols em 12 partidas pela equipe no torneio nacional, e ainda atuou em outros dois jogos contra a Juventus, pela Liga dos Campeões, mas não marcou contra a defesa que foi vazada apenas duas vezes na competição. E, apesar da média de um tento por jogo pelo Português, o que chama atenção é a velocidade com que o atacante se adaptou ao Dragão, mais rápido que outros goledores do passado recente do time.

Tiquinho precisou de apenas nove partidas pelo torneio nacional para marcar 10 gols. O também paraibano Hulk, por exemplo, balançou as redes oito vezes em 25 jogos pelo Português em toda a sua primeira temporada (2008/2009). O colombiano Falcao García teve que vestir a camisa do Porto em 14 jogos para fazer 10 gols, em 2009/2010. Já Jackson Martínez é quem está mais próximo do "novo Hulk" neste número. O colombiano precisou de 11 duelos para atingir o dígito duplo em 2012/2013. Todos os dados são do site "Soccerway". Para o jornalista português João Figueiredo, do site "Maisfutebol", o principal motivo que explica o início de Soares no Porto é um bom casamento entre o clube e o jogador.

- Acho que se juntaram dois fatores muito importantes. O primeiro é que ele tem vontade de aprender e margem para crescer. E o segundo é que Porto precisava de um atacante. Jogava com André Silva, que é um jovem com bastante potencial, mas está na primeira temporada. É uma pressão muito grande em cima de um jovem. O Porto tentou algumas alternativas, como o belga Depoitre no início da temporada. E o Tiquinho surpreendeu muita gente, porque os gols vinham, e tinham dúvidas no começo se ele iria se firmar no Porto. Ele aproveitou o fato deles precisarem de um atacante - afirma João, que cobre a rotina dos portistas.

E a surpresa do bom começo da história de Soares no Porto não foi só em Portugal. No Brasil, Tiquinho passou por alguns clubes, principalmente na Paraíba e no Rio Grande do Sul, mas foi no Centro Sportivo Paraibano, ou CSP, que ele teve destaque, quando chegou a brigar pela artilharia do Campeonato Paraíbano. Na época, o centroavante era treinado por Ramiro Sousa. O técnico confessa que acreditava que Soares teria um futuro na profissão, e até que esperava que ele se destacasse em grandes clubes no Brasil. Mas não no Velho Continente.

- A principio não (espera esse destaque na Europa). A verdade é essa. Até conversando em particular com ele, eu falava para trabalhar duro, porque tinha potencial enorme. Poderia jogar numa equipe de ponta da Série A, mas não achávamos na Europa. Pensávamos que poderia fazer um grande campeonato no Brasil, e aí talvez chegar à Europa.

Ramiro ainda define o atacante como "um cara tranquilo, não muito de brincadeira, concentrado e muito caseiro". Essa personalidade um tanto séria, talvez, explique o porquê do atacante não querer falar com o GloboEsporte.com em reta final do Campeonato Português. Afinal, o Porto está em segundo lugar, três pontos atrás do líder Benfica, faltando três rodadas para o fim da competição.

Adaptação em clubes menores e permanência em Portugal

Há um fator que diferencia Soares dos últimos três grandes goladores do clube português: seu passado na Terrinha. Diferentemente do trio, o brasileiro passou por duas outras equipes portuguesas antes de assinar com o Porto. Já Hulk chegou ao Porto vindo do Tokyo Verdy, do Japão, enquanto Falcao se transferiu do River Plate, da Argentina. Jackson Martínez atuava no Jaguares, do México, antes de acertar com o Porto.

Antes de ter o Estádio Dragão como casa, foram duas temporadas pelo Nacional de Funchal, na Ilha da Madeira, em que atuou em 42 oportunidades e balançou as redes 12 vezes. No meio do ano passado, Soares acertou com o Vitória de Guimarães, onde marcou sete vezes em 16 partidas, até fechar contrato com o Porto em janeiro de 2017. O conhecimento do futebol local e a adaptação ao estilo de jogo do país são fatores que podem explicar como Soares se encaixou no Porto, de acordo com Figueiredo.

- É sempre bom porque qualquer jogador que vem do Brasil, precisa se adaptar. Os brasileiros falam que é muito diferente de lá. E o período com menores clubes, com todo respeito ao Nacional e ao Vitória de Guimarães, para ver como é (o futebol português), aos poucos, torna mais fácil a adaptação. Depois quando chega aos clubes grandes, é diferente. O Porto não tinha acertado (nas contratações) antes, ele veio quebrar uma, e foi uma aposta certa. Mostrou que vale a pena olhar para as outras equipes de Portugal.

Tiquinho também vai contra uma situação recorrente com muitos brasileiros que vão para Portugal em busca do futebol: retornam ao Brasil por não conseguirem destaque em sua passagem pela Europa. Mesmo atuando em equipes menores, ele aguardou a oportunidade em um clube de primeiro nível no Velho Continente. De acordo com Ramiro, a determinação de Soares o fez continuar na luta por seu espaço na Terrinha.

- Ele não voltou pela vontade, pela gana que tem de vencer na vida. Ele teve muita vontade de sair da nossa João Pessoa e, quando chegou em Portugal, tinha desejo de realizar esse sonho, mesmo sendo em um clube menor de lá. Agora com essa nova realidade, ele não pensa em voltar. Pensa sempre em novos horizontes - afirmou Ramiro que ainda mantém contato frequentemente com o centroavante.

Com 19 gols no Português (12 pelo Porto e sete pelo Guimarães), Tiquinho é o vice-artilheiro do campeonato, atrás apenas de Bas Dost, do Sporting, que tem 31. Com um contrato de quatro anos e uma multa recissória de 40 milhões de euros (R$ 140 milhões aproximadamente), Soares ainda terá tempo para buscar manter a boa média de gols pelo Porto.