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Estrutura que caiu na Arena Corinthians tinha fator de segurança inferior

Peça de 1,76 tonelada caiu 141 dias depois de ter sido instalada

Por Globo Esporte 28/12/2016 11h38
Estrutura que caiu na Arena Corinthians tinha fator de segurança inferior
Reprodução - Foto: Assessoria

No dia 18 de fevereiro de 2016 uma peça de 1,76 tonelada e 31 metros quadrados desabou no quinto andar da Arena Corinthians. Um parecer técnico elaborado pela Odebrecht, empreiteira que ergueu o estádio, concluiu que "os painéis [...] estão com fator de segurança inferior ao recomendado".

A estrutura continha forro de gesso, cabos, metal, luminárias e um painel de madeira. Havia outras cinco peças idênticas no mesmo andar.

Imagens de câmera de segurança registram momento da queda (Imagem: GloboEsporte.com)

O GloboEsporte.com obteve documentos e imagens relativos ao acidente no estádio, que é alvo de uma disputa entre o Corinthians e a Odebrecht.

A peça que caiu ficou pronta em 30 de setembro de 2015 e desabou 141 dias depois. Nesse período o Corinthians mandou oito partidas no estádio – incluindo dois clássicos contra o São Paulo – nas quais somou um público de 309.485 torcedores, média de quase 39 mil por jogo.

(Foto: Reprodução)

A queda ocorreu numa quinta-feira, por volta das 10h40, num momento em que poucas pessoas circulavam pela Arena. A estrutura que caiu tem o peso de dois carros de pequeno porte.

Além da estrutura que caiu (em vermelho), havia outras cinco iguais no quinto andar da Arena (Foto: Reprodução)

O parecer técnico de 38 páginas obtido pelo GloboEsporte.com tem data de 22 de fevereiro, portanto quatro dias depois do acidente, e sugere que naqueles locais deveriam "ser executados reforços estruturais".

A recomendação era para que fossem instalados "tirantes adicionais" – as peças que prendem a estrutura ao teto. Segundo a Odebrecht, os reforços foram feitos e não há risco de que um acidente deste tipo aconteça novamente.

– Não tem [risco]. Fizemos as verificações. O laudo é conclusivo nisso, mas precisa ter uma rotina de manutenção, que é responsabilidade do clube – disse Corrégio ao GloboEsporte.com. O Corinthians voltou a jogar na Arena em 27 de fevereiro, nove dias após a queda.

Na entrevista, o engenheiro disse não ter certeza da causa do acidente. Numa apresentação ao Conselho Deliberativo do Corinthians, em março de 2016, Corrégio afirmou que a causa foi "sobrepeso nos tirantes de sustentação".

Segundo o parecer técnico da Odebrecht, os tirantes estavam instalados a uma distância de 1 metro um do outro. Depois da queda, foram instalados 36 tirantes adicionais, com uma distância máxima de 60 centímetros entre um e outro.

Para chegar ao fator de segurança citado no documento, a construtora fez testes de peso nos locais do estádio onde havia estruturas semelhantes às que caíram.

Laudo da Odebrecht mostra que "valor mínimo de segurança não foi atingido" no quinto andar do estádio (Foto: Reprodução)

A própria Odebrecht definiu que, para ser considerada segura, uma estrutura tinha que aguentar o dobro do peso para a qual fora originalmente projetada. Diz a página 17 do relatório:

– Um fator de segurança menor do que 1 significa ruptura ou ruína. Um fator de segurança maior do que 2 significa que, ainda que a carga seja o dobro, a estrutura irá aguentar. Adotaremos portanto um fator de segurança igual a 2 como o mínimo admissível para segurança dessas estruturas.

Nos painéis do quinto andar, o fator de segurança medido foi 1,12 – ou seja, abaixo do que a própria Odebrecht classificou como "mínimo admissível".

Disputa com fornecedor

Dias depois da queda, a Odebrecht tentou responsabilizar a Deliart, empresa que forneceu o painel de madeira que estava na estrutura. A construtora enviou uma notificação extra-judicial para a Deliart, que respondeu com uma contra-notificação.

O engenheiro Ricardo Corrégio, da Odebrecht, disse que era responsabilidade da Deliart "verificar se o sistema de suportação era suficiente" e eventualmente "propor ajustes".

Em e-mail enviado ao GloboEsporte.com, a Deliart apresentou uma versão diferente:

– Fomos contratados para fornecer o painel [de madeira] e fixar na estrutura disponibilizada pela CNO [Construtora Norberto Odebrecht]. A responsabilidade pela capacidade de suporte da estrutura é da CNO. As peças foram fixadas com autorização da CNO.

Corrégio, da Odebrecht, disse que nenhum teste de peso foi feito antes da queda da estrutura. E afirmou que nenhuma outra empresa além da Deliart foi notificada.

– Os materiais têm certificado de qualidade. Quando o fornecedor entrega o material na obra, você tem todos os certificados, que atesta que aquele elemento resiste. A praxe não é fazer [testes]. Você tem que atender norma, não se usa material que não atende norma.

Depois da queda do teto no quinto andar, a Arena Corinthians sofreu com outros acidentes, como o desprendimento de uma placa na porta de um elevador, além de vazamentos e infiltrações. O Corinthians foi procurado, mas não comentou o assunto.