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Divina Supernova lança terceiro álbum, o ‘Bossatômica’

Por Mácleim 14/01/2023 15h12 - Atualizado em 14/01/2023 16h07
Divina Supernova lança terceiro álbum,  o ‘Bossatômica’
Divina Super Nova - Foto: Divulgação

Fazendo um rapidíssimo balanço do que a Depois do Play apresentou aos nossos 14 leitores em 2022, teremos 18 álbuns resenhados, dos quais, 11 deles são de artistas locais, sobretudo, resultantes dos projetos contemplados pelos editais da Lei Aldir Blanc. Ou seja, em média, tivemos um álbum por mês de artistas do aquário, embora saibamos que muitos outros foram lançados no ano passado. Portanto, para um mercado ainda pueril, a produção local foi de vento em popa, apesar dos castigos e dos pesares impostos pelos quatro anos de trevas. Muitos ainda estão por vir e, desde já, saúdo e desejo longa vida aos futuros rebentos!


Assim sendo, é com satisfação renovada que tenho o imenso prazer em começar o ano resenhando um novo álbum, também resultante do fomento da Lei Aldir Blanc, que acaba de sair do forno e é capaz de nos proporcionar o entendimento de renovação, no sentido de outros caminhos, onde a possibilidade da repetição estagnaria foi descartada e ressignificada em novidades, especialmente, se olharmos pelo retrovisor de quem propõe esse trabalho. Refiro-me ao mais recente álbum ‘Bossatômica’, do duo Divina Super Nova, formado por Ana Gal e Junior Bocão, que dispensam comentários ao público aquariano. Esse é o terceiro álbum do Divina Supernova e traz algo não muito comum ao duo, pelo ponto de vista do que já conhecemos dos álbuns anteriores: ‘Pulsares’, lançado em 2013 e ‘Torus’, de 2015.

Frescor Renovado

A nossa prazerosa audição começa por ‘Bossatômica’, um tema instrumental, que também empresta título ao álbum. Porém, ao apreciador mais atento, tanto o título como o tema instrumental em questão apontam para uma proposta revigorada do duo, explorando um gênero musical específico, com frescor renovado e uma pegada diferenciada do que já foi posto convencionalmente por eles. Não que a atmosfera sonora desse trabalho já não tenha sido explorada por outros artistas, porém, essa não é a questão em si. O importante aqui é o conceito desse álbum, que explora outras possibilidades criativas, rítmicas e melódicas. Daí, como que pra pegar o ouvinte de sobressalto e lançar a isca para o que virá, o tema ‘Bossatômica’ começa com um solfejo rítmico, onde os vocais repercutem o tamborim e juntos dão sustentação à linha do baixo, para em seguida acontecer o piano de Dinho Zampier e depois o belo solfejo melódico da Ana Gal. O interessante, é que foi criado um pequeno interlúdio, onde, antes da volta à melodia do tema, o que até então era uma bossa vira baião, com pitadas hermetianas ao piano ou coisa que o valha. Tudo isso em pouco mais de um minuto, e ponto final.

Em seguida, ‘Deixa Estar’ é um samba-bossa malemolente, onde o precision do Félix Baigon aparece muitíssimo bem, quase um Mestre-sala, conduzindo a rapaziada em sua gravidade imponente! Nessa faixa, também temos a bateria do grande e premiadíssimo Kiko Freitas, porém, aparece discretamente, não pela performance em si, mas, certamente, pelo conceito de mixagem que, ao deixá-la no fundo da cozinha, mais coadjuvante do que seria o normal, não permitiu o seu protagonismo como Porta-bandeira. E, aqui, Ana Gal canta que no seu coração quem manda é o samba! Não há como negar, pelo o que esse trabalho entrega e traduz. ‘Plunge’, cuja tradução literal é mergulho, acontece como um rápido mergulho na sonoridade diviniana pretérita, contudo, é fiel à proposta de explorar o gênero bossa nesse trabalho. Destaque para a bateria de Leandro Amorim e o contrabaixo de Ykson Nascimento.

Força Magnética

‘Palavras São Flechas’ reúne, novamente, a dupla de mestres Félix Baigon e Kiko Freitas, em seus respectivos instrumentos, como timoneiros da levada e do barco citado nessa bossa desinibida e leve, bem a caráter para o canto de Ana Gal. Também é bastante interessante a guitarra de Junior Bocão, simulando fraseados do contraponto de um violão de 7 cordas imaginário e fazendo um solo que, no que tem de discreto tem de bom! Ou seja, na medida exata, onde menos é mais! Como num devaneio, chegamos para além da metade do álbum, posto que são apenas sete faixas. Aliás, todas com autoria partilhada entre Ana Gal e Junior Bocão ou vice e versa. ‘Desagrado Meu’ é um daqueles sambas cuja cadência e a própria letra nos remete aos clássicos do samba tradicional, trazendo referências dos clichês melódicos e harmônicos, que sempre estarão de bem com a vida e felizes para sempre, quando na companhia harmoniosa de uma cuíca, cavaquinho, surdo e tamborim. Porém, pela instrumentação e arranjo alvitrados pelo Divina Supernova, foi pensado com as vestes de um desfile de modas da São Paulo Fashion Week, que lhe fizeram sambar quadrado, o que é completamente compreensível. Pela primeira vez, aparece Felipe Barros no contrabaixo, mostrando sua versatilidade em estilos.

‘O Perfume’, abre um parêntese no que vinha acontecendo até então, uma espécie de brecha no que era o conceito desse trabalho. É um dos pontos altos do álbum, onde a linha de baixo estabelecida por Ikson Nascimento, insinuantemente reggae, aliada à programação eletrônica de Junior Bocão, são atrativos suficientes para conduzir o ouvinte até a armadilha do refrão interrogativo e muitíssimo bem construído! A tal brecha anterior, também deixou passar o afoxé ‘Desgraça Pouca Não é Bobagem’, que fecha o álbum e abre a questão: será que deveria estar no set list? Deixou-me a impressão de que não pertence ao todo e ficou um tanto descontextualizada. Porém, o todo sempre será mais importante que a parte, e o que nos propõe o álbum ‘Bossatômica’ tem a unidade de um núcleo de carga musicalmente positiva, que nos atrai e encanta pela força magnética do Divina Supernova!

No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!

SERVIÇO
Bossatômica, Divina Supernova
Disco físico: à venda em (82) 99132 5828
Preço: R$ 10,00
A partir de 20/01 estará nas plataformas digitais: Amazon music, Spotify, Apple Music, Deezer, YouTube, Soundcloud