Entretenimento
Dança, arte, movimento, reconhecimento e legado marcaram dia de atividades voltadas a capoeira em Taquarana
Professor Cícero “Carocha” lenda viva e pioneiro preto da capoeira em Taquarana tornou evento possível após ser contemplado com a lei Aldir Blanc Taquarana

São mais de 30 anos de história, fazendo história, inspirando histórias, deixando assim um legado enorme marcado na história da capoeira em Taquarana, Alagoas. Agora mais um capítulo se inicia na estrada do professor José Cícero dos Santos, o professor “Carocha”, já que ele foi contemplado na Lei Aldir Blanc Taquarana.
Graças a isso, um dia inteiro voltado aos ensinamentos da capoeira, seu legado, sua linha de formação do cidadão mais justo, disciplinado, tolerante e saudável foi promovido na ultima quinta-feira, 24, em Taquarana. Trata-se da Lei Federal de Emergência Cultural Aldir Blanc, nº 14.017/2020 - Lei Aldir Blanc, que tornou possível os recursos para que fosse realizada a ação.
Graças aos seus mais de 31 anos de história na e em prol da capoeira, o professor carocha já pode e é considerado um patrimônio vivo e atuante na cultura e esporte na cidade de Taquarana, que fica a pouco mais de 110km da capital Alagoana Maceió e fica no agreste de Alagoas.
“Comecei na capoeira mais por necessidade, por ser preto e ainda mais morar na periferia, sem direito a andar numa discoteca, no centro da cidade e até mesmo na escola, por ser discriminado pelas outras pessoas. Também comecei na capoeira por ser o único esporte disponível na época e também porque eu estava buscando o reconhecimento da sociedade e a capoeira foi o único meio que encontrei para isso”, explica o professor Carocha.
Com realização do Instituto Bico de Fulô e Capoeira Arte Brasil e com a coordenação do núcleo de produção e comunicação de Keka Rabelo, algumas oficinas foram realizadas na Escola Santos Ferraz começando das 10h30 da manhã. E quem acha que só teve a teoria, se engana porque teve roda de capoeira sim e não só do grupo de capoeira, pois a interação dos alunos foi total!
As oficinas foram as seguintes: Oficina de historicidade da capoeira Arte Brasil em Taquarana, fazendo um panorama sobre a arte na região e a aula prática e roda, que não poderia faltar. Os alunos tiveram contato com os instrumentos, movimentos, estilos dentro da capoeira e deram um verdadeiro show de interação e gingado na hora das rodas.
Jose Cicero dos Santos “Carocha” lutou muito para ter o reconhecimento de sua arte e do fazer afro brasileiro na região do agreste alagoano. É organizador da Capoeira na Roça, evento que acontece há 11 anos no Sítio Salgado, recebendo capoeiristas do Brasil e de outros países.
“Quando comecei a treinar, meu mestre sempre dizia para treinar cada vez mais se quisesse ser bom e a motivação veio pelo fato de eu me sentir e ser humilhado por ser preto, da periferia, isso fez eu sentir a necessidade de treinar cada vez mais e depois passar meus conhecimentos para os demais, sempre fortalecendo, porque não importa quem somos, onde moramos e a cor da nossa pele, é o que sempre digo aos meus alunos, que brigue, lute pelos seus direitos”, destaca carocha.
O professor, que é reconhecido como patrimônio vivo conta ainda que ser reconhecido e ter sido contemplado pela Lei Aldir Blanc Taquarana é fruto de sua luta, já que durante sua trajetória ele deu de cara com portas fechadas, lugares em péssimas condições para se dar aula, mas mesmo assim ele nunca desistiu dos seus objetivos e que agora veio o reconhecimento nesse sentido.
A professora Priscila Costa Souza da Escola Estadual Santos Ferraz acredita que a capoeira é de fundamental importância por se tratar do que mais rico que a gente tem em nossa cultura, “ela é uma arte marcial, dança, um jogo, uma atividade símbolo da resistência e não apenas resistência do negro à sobrevivência, cansado de tantas torturas, tanta violência, mas principalmente pela resistência da tradição e da cultura afro-brasileira, da história que é contada pelo mais "fraco", porque estamos acostumados a ver a história sendo contada pela elite dominante nos livros e na capoeira nós vemos a história sendo contada pelos escravos, por aqueles que realmente viveram”, destaca a professora
Ela ainda conta que a capoeira é tão importante para a formação que deveria ser ensinada desde a educação infantil em todas as escolas, ela é totalmente inclusiva, inclusive até na sua formação em roda que representa a posição de igualdade entre todos os componentes além do mais, ela facilita muito no desenvolvimento, tanto na formação do cidadão para ele se encontrar enquanto classe e na inclusão social, porque é sim possível fazer um trabalho de inclusão usando os conhecimentos da capoeira.
Além disso, ele junto com os companheiros da Capoeira Arte Brasil, são anfitriões na Bicentenária Festa do Meado de Agosto que acontece no Quilombo Lunga. Também atua nos programas da Assistência Social e Educação do Município de Taquarana e também na construção do o Mamelucando, evento que acontece no Quilombo Mameluco, também em Taquarana onde recebe as demais comunidades do estado para debater a pauta quilombola.
“Eu acredito que o carocha conseguiu deixar um pouco da sua vivência e do seu conhecimento referente a capoeira para o povo de Taquarana, porque afinal de contas a capoeira não é só uma dança e nem um esporte, capoeira é uma filosofia de vida”, finaliza “mestre sapulha”.
Resumindo, foi um dia “fora da caxinha” para os alunos da Escola Estadual Santos Ferraz, que puderam se aproximar ainda mais de uma arte que carrega suor e sangue de um povo e que em muitos momentos da história, foi fonte de sobrevivência para uma legião de guerreiros, como o próprio Zumbi dos Palmares por exemplo.
Realização: Capoeira Arte Brasil e Instituto Bico de Fulô
Coordenação de Produção e Comunicação: Keka Rabelo
Coordenacao de Nucleo: Bico de Fulô
nucleo de Produção: Juliana Araujo
Registro Fotografico: Juliete Araujo e Bico de Fulô
Designer Gráfico: André Lourenci
Parceiros Culturais: Elohprint, CUFA-AL, Quintal Cultural, Movimento dos Povos das Lagoas, Agerrp, Birô de Comunicação Comunitária, UFAL, Frente Brasil Popular, CUT, Naná Doces Artesanais da Roça, Instituto Bico de Fulo e Quilombo Lunga e Quilombo Mameluco
Patrocínios: Secretaria Municipal de Cultura, Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Turismo de Taquarana, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal e Lei Federal de Emergência Cultural Aldir Blanc, nº 14.017/2020 - Lei Aldir Blanc.
Matéria produzida por Paulo Canuto, estudante de jornalismo e voluntário no projeto de extensão Bureau de Comunicação Comunitária da Agerp Cos/UFAL, coordenado pela professora Manuela Callou e adjunta Keka Rabelo para o GT do Eixo Quilombola/Indígena.
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