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Um caminho cheio de afeto: músico Daniel Maia faz balanço de sua carreira

Também jornalista, ele conversou com o D&A e falou do quanto a pandemia influenciou sua música

Por Tribuna Independente 29/05/2021 08h07
Um caminho cheio de afeto: músico Daniel Maia faz balanço de sua carreira
Reprodução - Foto: Assessoria
Da busca por atenção a ser um artista ciente de si e do fazer artístico que lhe cerca, o músico e jornalista Daniel Maia percorreu um caminho repleto de descobertas e reviravoltas. Nessa estrada lançou dois trabalhos, o disco Forró de Primavera (2016) e o Verde da Lagoa (2019), ganhou prêmio, teve uma relevante banda de reggae, se descobriu compositor e “hoje em dia quando toco para mim, eu consigo me satisfazer com o momento que eu mesmo crio, despido de outros propósitos interpessoais. Essa é a relação verdadeira com a música, com a arte em si. Aguçar os meus sentidos”. O D&A conversou com o artista, por meio de redes sociais, para saber qual o balanço que ele faz da sua carreira e o quanto o isolamento social influenciou na transformação de sua arte. Como a música entrou na sua vida? Buscar por afeto, ser amado pelas pessoas e encontrar na música a via dessa realização é algo que acontece com praticamente todas as crianças que se interessam pela vida artística. Comigo não foi diferente. Aos nove anos de idade ganhei o primeiro violão do meu pai porque eu gostava da ideia de ser associado a um instrumento e com isso ter o prazer de fantasiar essa representação, influenciado por coisas que você vê na TV, desde muito cedo. Aos doze anos eu conheci o poder da sonoridade do violão e percebi que poderia reproduzir ao meu modo algumas músicas que eu gostava. E como foi essa relação com o passar dos anos? Quando eu realmente consegui tocar o instrumento pude perceber o quanto ele me aproximava das pessoas. Comecei a colecionar letras dos artistas que eu gostava, troquei experiências com os meus amigos. Pude aprimorar a minha execução e carregar o universo da música como a minha identidade. Isso aconteceu no colégio, na igreja, no cursinho, por onde passava. Formei uma banda com alguns amigos do cursinho em 2006, um projeto que veio se consolidar na Banda Resistência, uma banda de reggae importante no cenário alagoano que fechou o ciclo de apresentações em 2015. Mas, em 2010, ano em que me formei em Jornalismo, a música ‘Negro’, de minha autoria, foi classificada no Festival de Música do Sesc. Daí eu pude perceber que tinha uma habilidade para compor mais do que para tocar. Então corri atrás de estudar lições de harmonia e improvisação na guitarra. Daí em diante passei a acreditar na importância de seguir com o objetivo de gravar as músicas que eu mesmo compunha. Esse processo foi árduo e durou 10 anos. Tive êxito por duas vezes quando lancei o disco Forró de Primavera (2016), produzido por mim mesmo, e o Verde da Lagoa (2019), produzido por Van Silva. A pandemia mudou sua música? O que você tem feito nesse tempo de isolamento? Na pandemia, finalmente entendi que, por mais difícil que a música seja, é tarde demais para desistir. Consigo olhar para trás e me apoiar nas tentativas bem sucedidas. Mas ser somente artista nesse período de terror é um fardo. É necessário ser pessoa acima de tudo, ter outros anseios para sustentar o ser humano por trás da música. Continuo estudando, continuo atuando como jornalista, faço terapia, cozinho, sou dono de casa e jogo xadrez nas horas vagas. Quando você está só e não há público e diante disso você ainda continua com paixão é sinal de que ela é um alimento espiritual e uma espécie de patrimônio. Seu último trabalho tem dois anos! Me fala um pouco do que ele trata e o que sua música mudou nesse tempo? Isso. O Verde da Lagoa foi uma tentativa de aproveitar as sonoridades pitorescas que surgiram na minha cabeça de 2016 a 2018 em que eu ousei encaixar letras com um tom poético. Tratou da minha segunda experiência em estúdio. Deu certo, mas trata de um desenvolvimento de um artista. Isso é bonito. Não força paradigmas de mercado e estilos emprestados. Trata-se das minhas necessidades de expressão que estão se criando e ganhando vida no ouvido das pessoas. Hoje estou mais amadurecido. Após percorrer o litoral e vários municípios de Alagoas e realizar os meus shows antes da pandemia, tomei consciência das minhas limitações. Nas minhas apresentações existe muito mais segurança, irreverência. Eu sou mais eu e o meu violão, e acredito humildemente que esse potencial pode ser compartilhado com os companheiros (as) talentosos (as) do nosso estado e por aí afora... Há muita lenha pra queimar.