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Músico alagoano Leandro Amorim é selecionado para mestrado no CalArts na Califórnia

Em entrevista ao D&A, ele defende pesquisa nas artes e crê que música é importante para desenvolver a sociedade

Por João Dionisio Soares - Editor de D&A 05/09/2020 10h03
Músico alagoano Leandro Amorim é selecionado para mestrado no CalArts na Califórnia
Reprodução - Foto: Assessoria
Em entrevista por email para o D&A, o músico alagoano Leandro Amorim falou de sua trajetória dentro e fora do estado. Radicado em São Paulo para aprofundar suas pesquisas, ele afirma a importância de se pesquisar arte, de seus objetos de estudo e de como chegou a um dos institutos mais importantes de estudos de música e outras manifestações artísticas dos Estados Unidos.  Com importantes reflexões, o artista esclarece a importância de se estudar música e como essa manifestação da arte pode se relacionar relaciona com as Estruturas Sociais, com a Acústica, com o Tempo, o Espaço, a cognição, as paixões, a educação e com o desenvolvimento da sociedade e para as Ciências Humanas, a Física, a Matemática e a Psicologia. D&A - Qual sua história com a música? Quer dizer, quando você se apaixonou pela música e quando você decidiu que essa seria sua profissão? Leandro Amorim - Bom, minha história com a música aconteceu naturalmente na infância. Meu pai, Benedito Amorim, era músico e na minha família tem muitos músicos que atuam de forma amadora. Acredito que me apaixonei pela música ainda criança e sempre tive um vislumbre muito mais apaixonado do que puramente profissional, até porque sempre é natural ouvir que essa profissão não é tão atrativa como carreira do que as outras. Então, apenas no começo da vida adulta decidi me tornar profissional e construir minha carreira com a música. Isso aconteceu em 2009 e meu primeiro trabalho realmente considerado profissional foi com o Junior Bocão e a Ana Galganni em um show no posto 7 com o projeto “Bocão e a Casa Flutuante” com quem continuei trabalhando no Divina Supernova até 2016. Antes disso, eu tive muitas bandas e sempre levei a música muito à sério, porém, de forma amadora. Na minha percepção, o que separa o músico profissional do amador é apenas o fato de estar atrelado ao mercado. Um músico amador pode (e deve rsrs) levar a música a sério. D&A - Do que trata sua pesquisa, o que você estuda? Leandro Amorim - Sempre fui mais atento às performances musicais que envolvem pluralidade. Por ter um espírito mais aventureiro ligado a múltiplas influências eu fui naturalmente me interessando em aprender sobre diversos tipos de Música ao mesmo tempo que me interesso em estabelecer relações que naturalmente parecem desconexas. Por exemplo, existe um álbum gravado em 2010 na Espanha que se chama AfroCubism. É um álbum muito prestigiado que criou uma ideia musical estética que agrega músicos considerados de natureza jazzística de Cuba e de Mali, que fica no Nordeste do continente africano. Esse álbum faz alusão ao conceito do Cubismo, escola artística que buscava decompor a forma original do objeto e que tem o pintor Espanhol Pablo Picasso como um dos maiores expoentes. A Espanha, por sua vez foi colonizadora das Américas, inclusive Cuba. Percebamos que o ambiente do produto final gravado no disco é uma fusão cultural, que se torna muito mais rica quando observamos a correlação desses detalhes. Esse disco é muito prestigiado, sendo nominado no Grammy e que tem, só no Spotify, muito mais do que 5 milhões de acessos. Eu busco estabelecer essas relações como o pano de fundo onde construo meu pensamento como artista, pesquisador e professor. O que sempre me incomodou é o juízo, quase como aquele árbitro carrasco de futebol dando cartão vermelho, que a música sofre quando busca transcender fronteiras. Em vez de segregar, é incluir. Juntar. Por causa do caminho que fui naturalmente seguindo, fui investigando essas possibilidades na prática da Música Contemporânea chamada de erudita e depois fui aprofundando minha curiosidade pelo jazz. Observo que hoje em dia um músico é capaz de assimilar diversos gêneros de forma muito mais abrangente, bem como, uma música multi-influenciada já existe e se consolida cada vez mais. Minha prática parte da curiosidade, da inventividade. O artista, antes de tudo é um curioso, e o que é a curiosidade se não a força motriz da pesquisa? Eu tenho o interesse de fazer isso através da bateria. Minha pesquisa consiste em investigar novas formas de performance, como baterista, em função dessas relações plurais e transdisciplinares que, se observadas por uma ótica da pesquisa acadêmica, recebem o nome de Musicologia. Eu busco investigar uma prática multifacetada relacionada ao improviso, a fruição e a criatividade observando a rica linguagem desenvolvida na história da Bateria e as relações plurais da Música Contemporânea e, percebi que a CalArts, como um centro de tecnologia e performance, seria um ótimo lugar para continuar desenvolvendo as ideias que comecei durante a graduação na Unesp. D&A - Pesquisador e músico no Brasil, sua vida não deve ser fácil! Leandro Amorim - Sim. É uma vida dura e difícil, mas eu realmente acredito que qualquer outra profissão acaba sendo difícil também. Mas é claro que diante da perspectiva comum introjetada no imaginário da sociedade, o artista precisa às vezes ter mais paciência para explicar melhor aquilo que faz. Acredito que para responder essa pergunta de forma mais eficiente e objetiva, é importante dizer, antes de tudo, que qualquer pesquisa atrelada à Prática Científica é genuinamente legítima sem necessariamente nos atingir de forma direta. Na Prática Científica há um fator muito importante que, talvez, a gente não perceba no nosso dia-a-dia: o rigor e a ética. Cada vez que você vai defender uma pesquisa científica, você é julgado por uma banca de especialistas que está lá, justamente para atestar que, o que você está fazendo é muito sério e trará algum impacto na sociedade. A pesquisa em Música tem duas facetas interessantes, ela pode ser feita em um universo mais focalizado, tais como a análise musical e processos técnicos e estruturais da performance. Estes objetos de pesquisa são importantes para o desenvolvimento da área, contribuindo sistematicamente na evolução dos métodos, das técnicas e das teorias. A Música também pode estar atrelada à uma perspectiva transdisciplinar, como é o caso da minha perspectiva de localizar minha área de atuação artística e acadêmica entre a Musicologia e a Performance. D&A - Muita gente pode considerar que há ciências mais importantes para pesquisar! Qual a importância da sua pesquisa? Leandro Amorim - Eu considero a pesquisa em Música importante e abrangente porque ela pode se construir, por exemplo, nas relações que eu faço e que me ocorrem de forma muito natural. Meu caminho acabou me levando a buscar esse conhecimento pela via acadêmica. Esta que por sua vez é só mais um caminho de obtenção de conhecimento e que eu prefiro usar para construir meus alicerces, considerando que ser artista, pesquisador e professor faz mais sentido pra mim quando se completam. Uma forma que eu penso ser possível observar a importância e a seriedade da pesquisa acadêmica em Música é perceber que ela exerce um fator determinante na forma com as sociedades e comunidades se constroem culturalmente e, da mesma forma que as outras áreas, deve atender à especificidade do rigor científico que determina a completa honestidade para com o resultado que se apresenta em suas análises através da defesa de suas ideias para uma banca especializada. Também faço coro à importância da pesquisa em Música porque ela tem em si mesma uma apaixonante capacidade de agregar-se a outras áreas do conhecimento.  Vejamos então que a música se relaciona com as Estruturas Sociais, com a Acústica, com o Tempo, o Espaço, a cognição, as paixões, a educação etc. Só aí eu citei diversas relações onde a Música se encaixa e são essenciais para o desenvolvimento da sociedade, elas são: as Ciências Humanas, a Física, a Matemática e a Psicologia.