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Jovem negra é a nova Miss Brasil ao vencer barreira do preconceito

Monalisa Alcântara desbancou 26 candidatas de todo o país em concurso nacional realizado na noite deste sábado

20/08/2017 08h42
Jovem negra é a nova Miss Brasil ao vencer barreira do preconceito
Reprodução - Foto: Assessoria

Fui negada a vestir uma roupa por ser negra"

- "As vezes as pessoas nem percebem que são pequenas coisas, palavrinhas, que podem ferir a outra"

- "Nada de 'deixa pra lá', a justiça está aí pra isso"

- "Começou assim, dentro da escola. Disse, 'vou soltar o meu cabelo'"

A declaração foi dada pela nova Miss Brasil 2017 que venceu na noite deste sábado (19) o concurso nacional, realizado no Teatro Vermelhos, em Ilhabela, litoral de São Paulo e foi promovido pela Tv Bandeirantes. Ela desbancou 26 candidatas e foi eleita a mulher mais bonita do país Monalysa Alcântara.

A nova Miss Brasil tem 18 anos e é estudante de administração. Ela venceu outras 26 candidatas e irá representar o país no Miss Universo. Monalysa é a terceria negra a vencer o concurso. Em 2016, a vencedora foi a candidata do estado do Paraná, Raissa Santana, segunda negra a ganhar a competição.Assim por duas vezes consecutivas, o concurso é vencido por mulheres negras.Em segundo lugar, ficou a modelo e estudante de gestão financeira Juliana Mueller, de 25 anos, representante do Rio Grande do Sul. A terceira colocada foi a também modelo e estudante de engenharia de produção Stephany Pim, 23 anos, que representou o Espírito Santo.

Mona, como é chamada pelos amigos, já inspirava desde cedo. Ainda no colégio ela decidiu não mais alisar e nem deixar o cabelo preso. Afinal, ser igual a todo mundo nunca foi o seu forte. "Começou assim, dentro da escola. Disse, 'vou soltar o meu cabelo', deixar ele", conta. E foi depois de entrar no mundo da moda que a jovem cresceu, e moldou sua personalidade. O trabalho e a convivência com outros profissionais lhe deram esta experiência, pois mesmo quebrando paradigmas em seu circulo de amizades, ela ainda tinha receio de encarar o mundo de frente com seu posicionamento.

Foi quando começou a aparecer em anúncios na TV, em portais de notícia, em jornais, falando sobre seu padrão diferente em Teresina, que percebeu seu poder de influenciar o mundo ao seu redor. "Achei que só eu passava por isso. Comecei a imaginar, já que eu sempre quis ser diferente, que sempre ouvi que faça o que for, faça algo para mudar a vida de alguém. Já que eu gostava do mundo da moda, entendi que poderia transmitir força e empoderamento, levar autoestima para crianças e adolescentes", diz Monalysa.

PRECONCEITO E LUTA POR DIREITOS Apesar de ter sido sempre muito bem recebida no mundo da moda, ele às vezes foi injusto com a estudante. "Passei por uma situação que nunca acreditava que ia passar, no meu mundo, no lugar que eu trabalho, que mais amo. Foi um ato de preconceito, injúria racial, no qual fui negada a vestir uma roupa por ser negra. A pessoa em questão acreditava que a minha cor não ia valorizar as peças dela. E foi um susto. Claro que foi um susto", relata a Miss Piauí.

Mas Monalysa fez o que toda vítima de preconceito precisa e deve fazer, procurou os seus direitos. "Gosto de transmitir isso, mas para dizer que você não pode deixar isso passar. Infelizmente isso é muito normal, acontece. O que não pode é a gente se calar. Espero que ela pague por isso. As vezes as pessoas nem percebem que são pequenas coisas, palavrinhas, que podem ferir a outra".

Aos 12 anos foi também vítima de preconceito, quando em uma loja foi impedida de ter acesso a um produto por ser negra. Apesar dos "mil motivos", Monalysa reforça que sempre sabe "o porquê", "quem é negro sabe". E defende que não há como ignorar a busca por justiça. "Nada de 'deixa pra lá', a justiça está aí pra isso".