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Mero deslize? Escalações sem lógica na nova novela das nove comprometem a ficção

Por Globo 18/10/2016 12h47
Mero deslize? Escalações sem lógica na nova novela das nove comprometem a ficção
Reprodução - Foto: Assessoria

Erros de escalação não são raros. Eles podem se suceder nas melhores produções. No entanto, em “A lei do amor”, o que está ocorrendo não é um mero deslize, mas uma soma de atores que destoam da idade de seus tipos da ficção. O telespectador se deixa levar por qualquer história, até mesmo a mais mirabolante, desde que ela tenha lógica, faça algum sentido. O tipo de desacerto cometido nesta produção tira o mínimo de credibilidade necessária para que se possa embarcar numa fantasia.

Vamos às razões. Qualquer pessoa que tenha visto um pouco de televisão no Brasil nas últimas décadas sabe que um personagem vivido pelo magnífico Tarcísio Meira será hoje, inevitavelmente, o avô da trama. Foi portanto com algum esforço que o espectador foi obrigado a absorver que não era bem assim em “A lei do amor”. Na primeira fase, ele interpretava um homem de meia-idade, ainda iniciando uma carreira política. Recorrendo à extrema boa vontade, essa escalação poderia ser contabilizada como o tal deslize a ser relevado. Mas a novela insistiu nos erros.

Ainda naquela fase, Helô (Isabelle Drummond), decepcionada com Pedro (Chay Suede), decidiu se casar com Tião, interpretado então por Thiago Martins. Sob todos os aspectos, ele era um jovenzinho, como ela. Porém, 20 anos se passam e, para espanto geral, temos que aceitar o seguinte: Tarcísio é ainda um político em atividade e o jovenzinho passa a ser José Mayer, muitos anos mais velho que Cláudia Abreu (agora a Helô). Sem dizer que Gabriela Duarte (Suzana) se tornou Regina Duarte. Há 20 anos, a secretária de Magnólia (Vera Holtz) era mais nova que ela. Com a passagem de tempo, o degrau entre elas se inverteu exageradamente. Gabriela e Regina, mãe e filha na vida real, se parecem. Já aconteceu de elas dividirem, com muito sucesso, um papel na minissérie “Chiquinha Gonzaga”, em 1999. Mas, no caso de “A lei do amor”, não funcionou.

Na última sexta-feira, a coisa se agravou bastante em cenas de flashback. Soubemos que Magnólia teve um caso com Tião (Thiago Martins antes, José Mayer agora). Aconteceu quando ele era pobre, um operário na olaria de São Dimas e ela, filha do dono da empresa. Ou seja, era para que acreditássemos que Thiago Martins, o jovenzinho, tinha a idade de Vera Holtz na primeira fase, quando ela já era avó.

Vale ressalvar que os atores mencionados já provaram que são mestres no que fazem, talentosíssimos, com grandes desempenhos no currículo. Mas, em que pese o brilhantismo de todos, o desafio que estão tendo que enfrentar é insuperável. Nem o espectador menos atento deixa de sentir um desconforto imenso.

É importante dizer que o que acontece na novela das 21h não é um fato isolado. Na trama das 18h, “Sol nascente”, há outro disparate: o grande Luis Melo é um japonês. Alguma coisa está acontecendo com as escalações na Globo. Acreditem, isso põe em risco o fator primordial para que alguém decida acompanhar um folhetim: a verossimilhança.