Educação
Pesquisadora da Ufal propõe ações para a conservação da Caatinga
Estudo tem como foco a conservação de pequenos mamíferos não voadores; bioma, além de abrigar espécies únicas, desempenha papel fundamental no combate às mudanças climáticas

A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro e um dos mais ameaçados do país. Diante dessa realidade, uma pesquisa realizada pela bióloga do Museu de História Natural (MHN) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Ludmilla Costa-Pinto, buscou traçar estratégias para a proteção dessa biodiversidade. O estudo foi reconhecido com o Prêmio de Excelência Acadêmica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), programa que valoriza publicações científicas de alto impacto.
O trabalho forneceu dados relevantes para orientar políticas públicas e ações ambientais em toda a região, tendo como foco a conservação de pequenos mamíferos não voadores. A pesquisa mapeou as áreas prioritárias para a proteção dessas espécies, considerando os impactos das mudanças climáticas e o uso intensivo do solo. A pesquisa foi publicada na revista Diversity and Distributions, que integra o portal acadêmico Wiley Online Library, publicador dos Estados Unidos com mais de 200 anos de tradição.
Para Ludmilla Costa-Pinto, a publicação representa mais do que uma conquista pessoal. “É o reconhecimento de muita dedicação e estudo, mas também da importância da Caatinga, um bioma que sou fascinada. Essa pesquisa tem muito de mim e do que vivi, então tem um sabor especial. O prêmio é um incentivo para que pesquisadoras e pesquisadores continuem se empenhando, mesmo diante das dificuldades que envolvem fazer ciência”, destacou.
Áreas prioritárias para preservação
O estudo identificou que 30% do território da Caatinga abriga áreas consideradas estratégicas para a sobrevivência dessas espécies. Essas regiões funcionam como refúgios naturais, capazes de manter populações de pequenos mamíferos mesmo diante do aumento da temperatura e da redução das chuvas, fenômenos previstos para os próximos anos em decorrência das mudanças climáticas.
“Priorizar essas áreas é uma estratégia segura e viável, independentemente dos cenários futuros. Além disso, evidenciam-se lacunas na cobertura dessas áreas prioritárias pela atual rede de unidades de conservação. Sendo assim, há a necessidade de expansão estratégica e são sugeridas formas mais custo-eficientes de amenizar essas lacunas”, explicou a pesquisadora.
A bióloga esclarece que a Caatinga, além de abrigar espécies únicas, é um importante sumidouro de carbono, desempenhando papel fundamental no combate às mudanças climáticas. Assim, sua preservação é essencial não apenas para as espécies que abriga, mas também para a qualidade de vida das populações humanas que dependem de seus recursos naturais.
Tecnologia a serviço da conservação
Para alcançar resultados precisos, a cientista utilizou ferramentas inovadoras como a modelagem de nicho ecológico e a priorização espacial. A modelagem permitiu prever como a distribuição das espécies pode mudar ao longo do tempo, enquanto a priorização espacial combinou dados sobre biodiversidade, custos de conservação e ameaças, gerando mapas que orientam ações estratégicas.
“Usar apenas dados brutos pode se tornar insuficiente diante de mudanças ambientais rápidas. Essas ferramentas permitem antecipar cenários e direcionar esforços para locais que continuarão sendo relevantes no futuro, mesmo em situações de grande pressão climática”, detalhou a estudiosa.
Essa metodologia garante que os recursos destinados à conservação sejam aplicados com eficiência ecológica e estratégica, maximizando os resultados obtidos.
Os achados têm potencial para influenciar políticas públicas ambientais em nível estadual e regional. Ao considerar os impactos das mudanças climáticas, o trabalho oferece subsídios técnicos para a criação ou reestruturação de áreas protegidas que se mantenham relevantes no futuro.
“Não adianta criar uma unidade de conservação que hoje é adequada, mas que, em poucos anos, pode deixar de oferecer as condições necessárias para a sobrevivência das espécies. Considerar cenários climáticos na seleção dessas áreas é essencial para que as estratégias de conservação sejam sustentáveis em longo prazo”, ressaltou a doutora em diversidade biológica.
Próximos passos e novas perspectivas
Ludmilla Costa-Pinto defendeu que os resultados devem ser debatidos de forma ampla entre academia, sociedade civil, gestores públicos e tomadores de decisão, fortalecendo o diálogo necessário para proteger a Caatinga e garantir o uso sustentável de seus recursos.
Com os resultados atuais, a pesquisadora pretende agora investigar como as mudanças climáticas podem impactar a diversidade funcional dos pequenos mamíferos no bioma. Essa nova etapa da pesquisa deve aprofundar o conhecimento sobre como as espécies interagem e sobre a importância ecológica de cada grupo, contribuindo para estratégias ainda mais robustas de conservação.
A bióloga da Ufal ressalta a importância do financiamento para o avanço das pesquisas. “O incentivo dado pela Fapeal estimula a continuidade e o aprofundamento dos estudos. Além de viabilizar financeiramente as pesquisas, aumenta a visibilidade da ciência produzida em Alagoas, fortalecendo assim toda uma rede científica do estado”, pontuou ela.
Os recursos vêm do Programa Mais Ciência, Mais Futuro, uma iniciativa do Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Ciência, da Tecnologia e da Inovação (Secti) e da Fapeal. Lançado em abril de 2023, o programa planeja investir R$ 200 milhões em CT&I até 2026.
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