Economia

‘Tarifaço’ de Trump afeta indústrias em Alagoas

Exportações para os Estados Unidos correspondem a 10% da produção sucroalcooleira no estado e perdem competitividade com a taxa

Por Emanuelle Vanderlei - colaboradora / Tribuna Independente 17/07/2025 07h45
‘Tarifaço’  de Trump afeta  indústrias em Alagoas
José Carlos Lyra avaliou a situação econômica com base no levantamento do Observatório da Indústria de 2025 - Foto: Edilson Omena

Com o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar os produtos brasileiros em 50% a mais, lideranças do setor produtivo do país inteiro reagiram com preocupação acerca dos impactos do que isso pode causar nos negócios. Em Alagoas, com uma produção predominante do setor sucroalcooleiro a balança comercial pode ser afetada devido ao ao “tarifaço”, que pode ser cobrado pelo governo americano.

Na avaliação da Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (FIEA), essa é uma medida injustificável. Em nota enviada à reportagem da Tribuna Independente, a entidade afirma que “a medida compromete o ambiente de negócios e afeta diretamente a indústria alagoana, em especial o setor sucroalcooleiro, cuja principal pauta exportadora para os Estados Unidos é o açúcar”.

Mencionando o levantamento do Observatório da Indústria de 2024, a FIEA reforça que “os EUA foram o terceiro maior destino das exportações do estado, somando mais de US$ 61 milhões”.

Já sobre o ano vigente, os números também são grandes, ainda segundo a FIEA. “Em 2025, somente São Miguel dos Campos respondeu por mais de 90% das exportações de açúcar para os Estados Unidos”. O presidente da FIEA, José Carlos Lyra, defende o caminho da conciliação. “É essencial que o diálogo diplomático e comercial prevaleça, com vistas à manutenção de uma relação estratégica entre os dois países e à proteção dos empregos e investimentos no Brasil”.

De acordo com o economista Cícero Péricles, há uma parcela significativa da produção alagoana indo para os Estados Unidos. “As nossas exportações, que são destinadas a dezenas de países, estão concentradas em 80% em açúcar, quase 20 % de minério de cobre e 2% dos demais produtos, um pouco de fumo e outros produtos. No ano passado, Alagoas exportou uma grande quantidade de açúcar para os Estados Unidos, 70 milhões de dólares, que representam 10% do açúcar total exportado. Este ano exportou 40 milhões de dólares, dos 400 milhões do total de açúcar exportado”.

Nos números apresentados por Péricles, o papel norteamericano é grande em Alagoas. “Na balança comercial externa alagoana, os Estados Unidos se apresentam como segundo mercado para os produtos alagoanos. As exportações de açúcar para os EUA têm uma legislação específica, a Cota Americana, resultado de um acordo que vem desde os anos 1960. O Nordeste exporta anualmente 140 mil toneladas de açúcar com preço especial, e Alagoas fica com quase metade dessa quantidade. Se esta tarifa não for suspensa, o preço especial deverá ser modificado, dificultando as exportações porque elas também sofrerão o aumento de 50%”. Apesar disso, o economista acredita que o produto local segue com potencial. “Mas, mesmo assim, o açúcar brasileiro – e alagoano – continuará com preços competitivos e poderá abrir novos mercados”.

Do ponto de vista geral, Cícero Péricles acredita que a medida pode afetar as relações entre Brasil e Estados Unidos. “Tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, que entrará em vigor no dia 1 de agosto, incidirá sobre mercadorias enviadas desde o Brasil para lá. Os efeitos poderão contemplar uma diminuição do comércio Brasil-Estados Unidos de alguns produtos industriais ou agrícolas exportados para lá, que, não encontrando outro comprador no exterior, pode ser colocado no mercado interno, diminuindo seus preços nos supermercados brasileiros. Mas, isso somente será sentido nos meses seguintes”.

Sobre as importações, também não deve ser imediato o efeito. “Por outro lado, os produtos norte-americanos (máquinas, insumos industriais, etc.) que importamos deverão receber, provavelmente, também uma taxa extra, caso as negociações não avancem. Mas, são mercadorias que não chegam, diretamente, ao mercado interno brasileiro. Conclusão, até lá não devemos ter influência, no dia a dia, da taxa de 50%”.

O economista critica a medida de Trump, classificada por ele como um erro absoluto. “ A tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, é decisão unilateral, numa tentativa de interferir na política interna brasileira. O Brasil é um país independente, no qual as suas instituições – parlamento, poder judiciário, partidos e imprensa – estão funcionando plenamente, sem problemas, não cabe aos Estados Unidos definir o que devemos fazer; segundo é que na relação comercial entre os dois países, o Brasil compra mais aos Estados Unidos do que vende àquele país. É uma relação favorável aos EUA, que têm superávit nessa relação. Não existe razão econômica. É um erro absoluto essa tarifa”.