Economia

Disparada de preços esvazia carrinho de compras do trabalhador

Não existe mais vilão da vez; inflação já atinge todos os itens da feira e está cada dia mais difícil colocar comida na mesa

Por Sirley Veloso - Colaboradora com Tribuna Independente 30/04/2022 09h10
Disparada de preços esvazia carrinho de compras do trabalhador
Consumidor tem ido mais vezes ao supermercado e comprado menos, como é o caso de Flávio Afonso - Foto: Edilson Omena

Com a alta de preços generalizada e uma inflação galopante, o trabalhador precisa fazer malabarismo para conseguir colocar comida na mesa. Não existe mais o vilão da vez, que começou com produtos como café, arroz, óleo, carne, ovo, cenoura e tomate. Com reajuste, que nem de longe acompanha a elevação dos preços, o assalariado começou fazendo substituições de marcas e tipo de alimentos, mas já não tem para onde “correr”, e a cada dia precisa ser mais criativo para continuar sobrevivendo.

O engenheiro em automação Flávio Afonso afirma que vem sentindo bastante a alta de preços e que tem mudado hábitos para tentar fechar a conta. “Comecei mudando marcas. Agora, baixei vários aplicativos em busca de melhores preços e vou toda semana ao supermercado para comprar somente itens em promoção”.

Esse tipo de mudança nos hábitos de compras do consumidor já foi sentido pelo gerente de supermercado, Edmilson Delfino. “Tenho notado que as pessoas estão vindo mais vezes ao supermercado. No entanto, elas têm comprado menos”, afirmou Delfino.

Kleice Félix está começando vida nova. Saiu da casa dos pais recentemente para casar. “Já tomei um choque de realidade. Tenho pesquisado muito os preços em vários estabelecimentos e só compro o necessário. Nada de supérfluos. Além disso, planejo um cardápio para todos os dias, para que não haja nenhum tipo de desperdício”, afirmou.

A inflação oficial de 2021 foi de 10,06, a mais alta desde 2015, que ficou em 10,67. Na prática, a variação de preços é sentida de forma bem mais onerosa para o trabalhador. Produtos, a exemplo do café, que há cerca de dois anos era comprado com o valor aproximado de R$ 4, atualmente chega a superar os R$ 8. O mesmo percentual atingiu também o óleo de soja, ou seja, um reajuste na casa dos 100%.

Para economista, “não há expectativa de melhora nesse atual governo”

A previsão do Banco Central é que este ano, novamente a inflação fique acima da esperada. Com os novos reajustes de itens, como combustível e energia, um novo efeito cascata deve ocorrer elevando ainda mais os preços dos produtos, de uma forma generalizada.

Para a economista Luciana Caetano, “infelizmente não há expectativa de melhora nesse atual governo, considerando a atual política que define o preço dos combustíveis e a falta de controle das agências reguladoras de energia elétrica e de outros itens que são essenciais e contaminam toda cadeia produtiva”, declarou.

Segundo Luciana, o salário mínimo não é mais suficiente para subsistência das famílias. “Muitos já não conseguem comprar itens básicos, como carne e outros produtos essenciais para a qualidade de vida, para assegurar uma saúde razoável”, afirmou a economista.

Ela disse ainda que a concentração de terras nas mãos de poucas pessoas, de certo modo, também faz com que haja um controle da oferta, impulsionando os preços para cima. “Temos uma apropriação da riqueza gerada sobre a forma de lucros, em detrimento dos salários. Os salários estão congelados ou muito defasados”, destaca Luciana Caetano.

Conforme Luciana, só o que não sobe é o salário. “E as pessoas que estão na base da pirâmide têm sido cada vez mais exploradas e submetidas a condições adversas de sobrevivência. Não sei que futuro nos espera, mas enquanto não tivermos mudanças de governo, a gente tende a amargar tudo isso que está acontecendo no país”, alertou a economista.