Economia

Em Alagoas, 8% das famílias tiveram como recurso financeiro apenas o Auxílio Emergencial

Debate sobre descontinuidade do pagamento traz preocupação econômica ao país

Por Texto: Carlos Amaral com Tribuna Independente 16/01/2021 11h56
Em Alagoas, 8% das famílias tiveram como recurso financeiro apenas o Auxílio Emergencial
Reprodução - Foto: Assessoria
Não fosse o Auxílio Emergencial (AE), os resultados da economia brasileira em 2020 seriam ainda piores. Foi esse benefício que garantiu o mínimo de movimentação comercial diante da crise gerada pela pandemia de covid-19 que resultou em desemprego e achatamento de salários, especialmente nos estados mais pobres, como Alagoas. Por aqui, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 8% das famílias sobreviveram somente com recursos do AE, o quinto maior índice do país e quase o dobro da média nacional (4,32%). Além disso, o que o Ipea classifica como “Renda Habitual do Trabalho”, em Alagoas, caiu de R$ 1.573,44 para R$ 1.487,82 em outubro de 2020. Ou seja, achatamento de salários. O Ipea organizou dados obtidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Covid-19, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O economista Rômulo Sales destaca que “sem essa ação do Governo Federal sem dúvida nenhuma teríamos visto o caos social ter se aprofundado e muitas famílias poderiam ter sido devastadas tanto pelo vírus como pela fome. Uma situação bem emblemática apenas como evidência do impacto positivo do AE”, aponta. “Essa verificação aponta para o que percebemos na prática, a importância não só para Alagoas, mas de todo o Nordeste da ajuda federal, uma vez que a região Nordeste, juntamente com a região Norte, são as que mais foram beneficiadas”, completa. O economista ainda exemplifica como o AE foi positivo na economia local, já que durante o chamado pico da pandemia, período com maior isolamento social. “Uma peixaria em que costumo comprar sururu, na época do pico da pandemia, sinalizou que o marisco estava em falta. O pessoal tinha deixado de retirar marisco da lagoa. O Auxílio emergencial que possivelmente chegou nessas famílias deu melhores condições de vida, melhorou a renda deles, fazendo possivelmente que essas famílias que sobrevivem daquele trabalho insalubre, tivesse outras oportunidades”, analisa Rômulo Sales. “O Auxílio, assim como qualquer outro benefício social, cumpre seu papel de melhor se o bem-estar da população. Contudo, sabemos que o melhor programa social é o emprego. E este se deteriorou no último ano”, comenta. DESCONTINUIDADE A economia brasileira ainda não se recuperou dos baques recentes, ainda mais dos reflexos da pandemia de covid-19 e o fim do Auxílio Emergencial deve elevar o percentual de brasileiros que vivem na extrema-pobreza, cuja renda familiar per capita é menor que R$ 155 por mês. Atualmente, de 10% a 15% da população do país, algo entre 21 milhões e 31 milhões de pessoas, vive nestas condições. Nesta sexta-feira (15), 3,4 milhões de trabalhadores – nascidos em julho – sacaram pela última vez os recursos do AE. Foram creditados pela Caixa Econômica R$ 2,4 bilhões. Desse total, R$ 2,16 bilhões são referentes a cotas da extensão de R$ 300; o restante (R$ 214,4 milhões) se refere a parcelas do AE de R$ 600. Fim do auxílio trará graves consequências Para o economista Rômulo Sales, “descontinuar o auxílio emergencial nesse momento sem a retomada da geração do emprego formal é jogar uma pá de cal em quem está ainda sofrendo as consequências econômicas da pandemia”. No Congresso Nacional, há diversos parlamentares cobrando o fim do recesso para que deputados e senadores discutam a manutenção do Auxílio Emergencial. Logo em seu início, foram os parlamentares que garantiram o valor de R$ 600 do programa, uma vez que o governo Jair Bolsonaro (sem partido) defendia que fosse pago R$ 200. Na bancada federal alagoana, por exemplo, o O deputado Arthur Lira (PP-AL), candidato à presidência da Câmara, disse, na última semana, que não teria como propor uma “solução a curto prazo” para substituir o auxílio emergencial, encerrado no fim do mês passado. Ele disse que defendeu ao longo de 2020 a busca para uma alternativa ao fim do auxílio, enquanto ainda estava em vigor o Orçamento de Guerra, que permitia ao governo gastos extraordinários por causa da pandemia. O governo tem dito que não pretende renovar o auxílio. “A gente está cuidando da causa quando não cuidou do problema lá atrás. E volto a dizer o que disse aqui. Cobrei 2020 inteiro para que arrumássemos uma solução, com a PEC do Orçamento de Guerra em vigor. Eu não sou mágico. A gente não tem como propor uma solução a curto prazo”, afirmou Lira. No Senado, por exemplo, há pelo menos quatro pedidos para que o estado de calamidade pública seja mantido, segundo a assessoria da Casa. Assim, o pagamento do Auxílio Emergencial poderia ser prorrogado. O estado de calamidade pública, decretado em março de 2020, terminou no último 31 de dezembro. O fim de sua validade dificulta a destinação de recursos para políticas de assistência social e ações emergenciais na saúde e ao chamado setor produtivo.