Economia

Dólar salta 2,8% contaminado por nervosismo em DIs e desconfiança com BC

Real teve, de longe, o pior desempenho global nesta sessão

Por Reuters 18/09/2020 17h30
Dólar salta 2,8% contaminado por nervosismo em DIs e desconfiança com BC
Reprodução - Foto: Assessoria
O dólar disparou 2,8% nesta sexta-feira, mais do que revertendo em apenas uma sessão toda a queda acumulada na semana até então e registrando a maior alta diária em quase três meses, com o sentimento de investidores abalado por intenso nervosismo no mercado de juros futuros diante de maior desconfiança em relação à postura do Banco Central num contexto de fiscal deteriorado. A piora nos mercados externos --onde o dólar passou a subir e as bolsas de valores em Nova York fecharam em baixa-- endossou o movimento por aqui. O dólar à vista fechou em alta de 2,77%, a 5,3767 reais na venda --maior valorização diária desde 24 de junho (+3,33%). Na máxima, alcançada perto do fechamento, a cotação foi a 5,3782 reais (+2,80%). Na mínima, batida ainda no começo do pregão, marcou 5,2405 reais (+0,16%). O real teve, de longe, o pior desempenho global nesta sessão. O dólar acumulou na semana alta de 0,82%. Até a véspera, registrava queda de 1,90%. Com isso, a moeda reduziu a baixa em setembro para 1,90% e elevou os ganhos no ano a 33,99%. Na B3, o contrato de dólar futuro de maior liquidez subia 2,60%, a 5,3770 reais, às 17h03. A aparente trégua no mercado de renda fixa --que na véspera ajudou a acalmar o dólar depois de o Tesouro Nacional reduzir o tamanho do leilão de prefixados-- durou pouco. O salto do IGP-M da segunda prévia de setembro divulgada nesta sexta serviu de combustível para renovadas preocupações sobre inflação --receio que para muitos agentes financeiros foi minimizado pelo BC no comunicado da reunião do Copom desta semana. O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) passou a subir 4,57% na segunda prévia de setembro, de 2,34% no mesmo período do mês anterior. A taxa acumulada em 12 meses saltou de 12,58% para 18,20%. “Mercado preocupado com a inflação. Mercado de DI estressando e dólar indo junto... Tesouro com liquidez baixa. E o BC vai deixar o dólar andar? Vai entrar num círculo vicioso muito ruim”, comentou o gestor Alfredo Menezes, da Armor Capital. Neste pregão, o Banco Central limitou-se a realizar leilão de rolagem de linhas de dólares com compromisso de recompra, colocando todo o lote de 4,15 bilhões de dólares ofertado. No comunicado do Copom de quarta-feira, o BC sinalizou manutenção da Selic na mínima recorde de 2% por um período prolongado, mas não fechou completamente a porta para novo afrouxamento monetário. No texto, o colegiado reforçou o uso do chamado “forward guidance” --ferramenta de política monetária que visa influenciar as expectativas do mercado via comunicação. Em sua orientação futura, o Copom explicitou que não pretende elevar os juros a menos que as expectativas e projeções de inflação estejam suficientemente próximas da meta de 2021 e 2022 ou no caso de o governo abandonar o atual regime fiscal. Muitos no mercado, contudo, avaliam que a ferramenta do “forward guidance” tem suas limitações no Brasil, especialmente num contexto de fragilizada situação fiscal como a de agora. “A falta de resposta dos mercados ao ‘forward guidance’ reflete preocupações sobre as perspectivas fiscais, à medida que uma deterioração significativa pode levar a uma moeda mais fraca, a pressões inflacionárias e a necessidade de aumentos nos juros antes do previsto”, disseram analistas do Barclays em nota desta semana. “Não esperamos que o mercado tire dos preços chances de altas (de juros) no curto prazo (com redução de prêmio de risco) enquanto a incerteza fiscal permanecer”, completaram.