Economia

Cresce procura por seguro de vida entre profissionais da saúde em Alagoas

Diante da comoção atual, várias seguradoras passaram a cobrir mortes pelo novo coronavírus

Por Ana Paula Omena com Tribuna Hoje 29/04/2020 12h02
Cresce procura por seguro de vida entre profissionais da saúde em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria
A primeira preocupação do médico Marcelo Malta, foi garantir a cobertura do seguro de vida para o novo coronavírus (Covid-19), caso seja contaminado e venha a óbito em função do alto risco de contágio da doença. Ele é um dos profissionais de saúde que estão na linha de frente para o combate à pandemia em Maceió, capital alagoana. O cardiologista contou que o temor é compartilhado por todos os profissionais de saúde, principalmente no momento atual. “O número é cada vez maior de pessoas contaminadas, bem como de profissionais que progressivamente estão sendo internos nos hospitais infectados pela Covid-19”, observou. “O medo realmente toma conta, talvez até pelo domínio do conhecimento da doença. Só reforça a necessidade de darmos um suporte financeiro às nossas famílias numa eventual situação de nossa ausência em decorrência da doença”, frisou o médico. Ele reafirma o receio dos profissionais de saúde em sair de casa e contrair a doença no ambiente laboral. “Sempre que saímos de casa existe um receio de que no ambiente profissional possamos adquirir a doença, além daquela incerteza: se faremos parte dos 80% que contraem a doença da forma leve, ou 20% que se tornam graves”, mencionou. Para o médico a incerteza maior diz respeito à evolução do agravamento da doença. “Se vamos encontrar leitos disponíveis, uma vez que o sistema de saúde já beira o colapso”, revelou. Marcelo Malta salientou que, por esta razão, os profissionais de saúde e aqueles que labutam também nos serviços essenciais, se preocupam com o futuro das famílias que estão sob a sua responsabilidade, e assim deixar para eles um suporte financeiro, que possa ajudá-los numa eventual situação de ausência em decorrência da doença. “Este é o momento em que entra os princípios que nortearam a escolha da profissão, a sociedade depende da gente, e não podemos deixar de trabalhar, até para que se evite o colapso do sistema de saúde e econômico do país”, completou. [caption id="attachment_371695" align="aligncenter" width="640"] Profissionais de saúde estão mais próximos de pacientes infectados pelo novo coronavírus (Foto: Piero Cruciatti / AFP)[/caption] O diretor do Sindicato dos Corretores de Seguros de Alagoas (Sincor/AL), Djaildo Almeida, comemorou a atitude de boa fé das seguradoras, de acreditar no mercado flexibilizando a cobertura por morte do novo coronavírus. “Tem crescido muito a procura pelo seguro de vida em Alagoas após o surto de a pandemia chegar ao Brasil. Algumas seguradoras estão cobrando carência de três meses, mas outras não, por isso que é importante conversar com o corretor de seguros para obter mais detalhes das coberturas”, ressaltou. Djaildo revelou que profissionais de saúde tem buscado o seguro de vida como proteção em caso de morte da Covid-19 no estado. “Médicos e enfermeiros, principalmente, porque estão na linha de frente do tratamento nas unidades de saúde, recebendo os pacientes com casos confirmados da doença”, frisou. "Ainda não temos uma proporção, mas já percebemos que está tendo uma demanda muito maior do que se comparado com antes da declaração de pandemia”, observou. [caption id="attachment_252893" align="aligncenter" width="610"] Diretor do Sincor, Djaildo Almeida, destaca decisão das seguradoras diante dos impactos que a morte causaria em uma família desamparada (Foto: Sandro Lima)[/caption] Sobre a precificação, o diretor sindical salientou que varia de acordo com a cobertura desejada, podendo o valor ser a partir de R$ 20 a 25 por mês; dependendo da idade; perfil do cliente, entre outros critérios. Ele finalizou reafirmando o compromisso das seguradoras que entenderam os impactos que a morte causaria em uma família; e com isso resolveram não deixá-la desamparada. Márcio Coriolano, presidente da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), explicou que o seguro tem como objetivo cobrir riscos previsíveis. “É com base nessa previsibilidade que é possível precificar o seguro e cobrar um prêmio. Portanto, pandemia e catástrofes naturais são coberturas geralmente excluídas de apólices”. No entanto, de acordo com ele, a crise gerada pelo surto mundial mudou a política de diversas seguradoras, que começaram a cobrir mortes pelo vírus em seguros de vida e prestamista (que garantem o pagamento de financiamentos e dívidas em caso de morte e invalidez). [caption id="attachment_371696" align="aligncenter" width="640"] Márcio Coriolano, presidente da CNSeg (Foto: Assessoria)[/caption] “Agora, as empresas deixaram de aplicar a regra de que pandemias são excluídas das linhas de coberturas (apólices), mesmo arcando com maiores riscos e necessidade de mais fiscalização” frisou. Venda de seguro de vida online cresce 136% após pandemia Um levantamento divulgado na última terça-feira (28) pela Minuto Seguros, empresa de seguro online, mostrou que após o primeiro caso oficial de pessoa infectada por coronavírus no Brasil registrado no dia 26 de fevereiro, em março, houve um aumento de 136% nas vendas seguro de vida comparativamente ao mesmo mês de 2019. No contato para contratar o produto, muitas pessoas citam a Covid-19 como motivo para buscar a proteção. No mesmo período que a procura de pessoas físicas aumentou, também em março, a venda para empresas de seguro de vida para seus funcionários teve elevação acentuada: 250% maior do que em março de 2019. Neste caso, o produto é o seguro de vida em Grupo, uma modalidade disponível para segurar a partir de três pessoas. Para o CEO da Minuto Seguros, Marcelo Blay, esse é um movimento esperado. “As empresas também mostram preocupação com o coronavírus, como essa doença pode atingir seus colaboradores e querem protegê-los. Com isso, o aumento da procura pelo Seguro de Vida em Grupo, a exemplo do individual, também é reflexo dessa nova realidade”, afirma Marcelo. ASSISTÊNCIA FUNERAL Com o coronavírus coberto pelo seguro de vida, os beneficiários passam a ter direito à indenização por morte em decorrência da Covid-19. No caso da assistência funeral, a cobertura inclui limpeza do corpo, preparação para velório e cremação ou enterro de acordo com as recomendações das autoridades de saúde, por conta do risco de contágio da doença. As coberturas citadas acima são livres de carência para quem já havia contratado o seguro antes da pandemia. Para as pessoas que ainda vão adquirir o produto, o indicado é consultar as condições e planos com o corretor ou com a seguradora, pois a questão de carências aplicáveis pode variar. Como trata-se de uma situação nova para todo o mundo, o mercado de seguros também se adapta tanto às novas necessidades das pessoas como também ao aumento da demanda por Seguro de Vida. Segundo Marcelo Blay, o mercado de seguros reafirma sua importância social ao se adaptar à situação totalmente inusitada, garantindo o pagamento de indenização mesmo em caso de exclusão explícita nas apólices. “Geralmente menosprezado no Brasil, o seguro de vida é de extrema importância para ajudar as famílias que perderam seu ente querido a ganhar um fôlego financeiro para reconstruir sua trajetória abruptamente interrompida pelo trágico falecimento” concluiu. Indenização por morte de Covid-19 A indenização para morte em caso de Covid-19 será paga pelos seguradores para contratos que já estão em vigência. Para novas contratações, de maneira geral, haverá um período de 90 dias de carência. As empresas, que juntas representam 95% do mercado, aderiram ao movimento para que a cláusula de exclusão por pandemia para os seguros de vida seja flexibilizada. Entre elas estão: Bradesco Vida e Previdência; Brasil Seguridade; Caixa; SulAmerica, Capemisa; Centauro ON; Chubb; Generali; Icatu; Itaú Seguros; Liberty; MAG; MAPFRE; MetLife; Mitsui Sumitomo; Omint; PASI; Porto Seguro; Previsul; Prudential; Sompo; SudaSeg; Seguradora; SulAmerica; Sura; Tokio Marine; Unimed Seguros e Zurich Santander. Em nota, a Fenacor destacou a satisfação e o sucesso alcançado pelo movimento. "Prova disso é o fato de as empresas que já anunciaram a sua adesão gerarem mais de 93% da receita global de prêmios apurada no ramo Vida. O setor de seguros reafirma, assim, o seu protagonismo nas ações que visam à plena segurança, amparo e proteção da população, inclusive nos momentos de maior crise, como o atual, em que avança no país a pandemia do coronavírus". Busca também aumentou entre os diabéticos O valor médio de indenização dos seguros contratados foi de R$ 210 mil, com pagamento médio mensal de R$ 100, segundo WinSocial, startup com foco em soluções para pessoas com diabetes. O número de vendas de seguro de vida focado em pessoas com diabetes disparou 60% em março ante fevereiro, com o início da pandemia do novo coronavírus no Brasil. Dos contratantes, 54% eram homens e 46% foram mulheres. Os dados são da WinSocial, startup que tem como foco a oferta de soluções para pessoas com diabetes. A idade média dos novos segurados é de 43 anos. Vale lembrar que os casos reportados em condições mais graves de infecção pelo coronavírus são de pessoas com comorbidades, ou seja, quando já havia outras doenças relacionadas, como hipertensão, problemas cardíacos e diabetes, entre outros. “As pessoas com diabetes já costumam apresentar uma boa disciplina alimentar e de hábitos de exercício físico. Percebemos, também, que elas estão cada vez mais propensas a pensar no seu futuro. Por serem consideradas como grupo de risco para coronavírus, percebemos uma preocupação ainda maior para este planejamento financeiro, o que acarretou neste aumento significativo na demanda”, explica Rafael Rosas, diretor da WinSocial. Setor segurador tende a ser impactado pela crise pandêmica   Entre janeiro de 2019 e janeiro de 2020, o crescimento do setor segurador brasileiro foi de 12,6%. Porém, de acordo com o presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), Marcio Coriolano, importantes carteiras em ramos como vida, patrimoniais, de responsabilidade civil e planos de acumulação (previdência privada) tendem a ser impactadas negativamente com aumento de desemprego, queda de renda e de produção. Coriolano também manifestou incerteza sobre como será o ciclo de cancelamento de contratos vigentes, se houver aperto de salários ou como será a dinâmica dos clientes quando os contratos atuais vencerem. No último boletim de conjuntura, a instituição aponta fatores de mitigação do impacto da crise pandêmica nos seguros. Ainda, de acordo com a mesma fonte, “a desaceleração do ritmo de circulação de pessoas nos centros urbanos”, deverá ter efeito positivo nos eventos associados a colisões e roubos de veículos; assaltos e roubos a propriedades. A receita do setor de seguros no Brasil – sem considerar os planos de saúde suplementar – superou os 270 mil milhões de reais (cerca de 48 mil milhões de euros) no ano passado, representando 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2019, indicam dados da confederação brasileira do setor.