Economia

Real se mantém entre moedas de pior desempenho com incerteza doméstica

Receio é que a instabilidade em Brasília possa fragilizar ainda mais as já combalidas perspectivas econômicas para os próximos meses

Por Reuters 27/04/2020 17h32
Real se mantém entre moedas de pior desempenho com incerteza doméstica
Reprodução - Foto: Assessoria
O dólar futuro se manteve em firme alta nesta segunda-feira, enquanto a cotação no mercado à vista fechou perto da estabilidade, mas distante das mínimas do dia, conforme operadores ainda se mostraram cautelosos sobre o recente noticiário político e seus efeitos potenciais sobre a economia. O real esteve entre as moedas de pior desempenho nesta sessão e se mantém como a divisa que mais perde ante o dólar em abril e no acumulado de 2020. Mais cedo, em uma tentativa de demonstrar união dentro do governo, o presidente Jair Bolsonaro apareceu ao lado de ministros ao deixar o Palácio da Alvorada, entre eles o titular da Economia, Paulo Guedes, e reiterou que é o auxiliar quem manda nas questões econômicas do governo. A saída atribulada de Sergio Moro —que então gozava de status de “superministro” no governo, assim como Guedes ainda— levantou temores de que o próximo a deixar a equipe de ministros pudesse ser o chefe da Economia. O receio é que a instabilidade em Brasília possa fragilizar ainda mais as já combalidas perspectivas econômicas para os próximos meses, num movimento que não apenas manteria o investidor estrangeiro afastado como poderia intensificar o desmonte de posições em Brasil. Na sexta passada, dados do Banco Central mostraram que o investidor estrangeiro se desfez em março, em termos líquidos, de um recorde de 22,068 bilhões de dólares em investimentos em carteira —somando ações e renda fixa, ambos negociados no mercado doméstico. O resultado foi 29 vezes pior que o de um ano antes. A debandada se concentrou na renda fixa (-14,624 bilhões de dólares). Esse investidor tem pouco estímulo para voltar, dentre outros fatores, pelos retornos menores dos títulos brasileiros em comparação a alguns de seus pares emergentes, na esteira da queda da Selic a sucessivas mínimas recordes. “A moeda e a bolsa estão demonstrando que o juro não pode cair mais”, disse o gestor Alfredo Menezes, da Armor Capital. “Mesmo o fluxo sendo praticamente zerado, mesmo com o BC vendendo (dólar), a nossa moeda é a que mais apanha disparado no mundo. Tomar (DI) julho 2020 me parece uma opção de graça”, acrescentou, referindo-se a uma maior atratividade, em sua visão, de posições compradas em taxa de DI. Esse DI projeta corte da Selic nos próximos dois meses. Mas alguns analistas têm chamado atenção para o risco de uma aposta contundente em queda da Selic diante da turbulência recente nos mercados por causa do clima político local. Na B3, o dólar futuro chegou ao fim da tarde em alta de 1,50%, a 5,6700 reais, mas chegou a tocar 5,7285 reais na máxima. No mercado interbancário, a cotação fechou com variação negativa de 0,07%, a 5,6639 reais na venda. Na mínima do dia, atingida ainda pela manhã, a cotação desceu a 5,5370 reais (-2,31%). Na máxima, à tarde, foi a 5,7270 reais, alta de 1,04%. O BC vendeu um total de 2,1 bilhões de dólares via contratos de swap cambial e leilão de dólar spot ao longo da sessão, mas sem impedir a performance mais fraca do real em relação a seus pares. O dólar australiano —considerado um termômetro da demanda por risco— e o peso mexicano, por exemplo, saltaram 1,2% na sessão.