Economia

Mais de 93% dos pequenos negócios tiveram queda nas vendas

Levantamento feito pelo Sebrae no período de 28 a 30 de março

Por Cristina Limeira - Savannah Comunicação Corporativa com Assessoria 01/04/2020 19h56
Mais de 93% dos pequenos negócios tiveram queda nas vendas
Reprodução - Foto: Assessoria
O Sebrae em Alagoas realizou, no período de 28 a 30 de março, uma pesquisa para identificar o impacto econômico da crise provocada pela pandemia do coronavírus nas micro e pequenas empresas alagoanas. De acordo com a pesquisa, mais de 93% dos pequenos negócios tiveram queda nas vendas e, consequentemente, no faturamento. Contratos cancelados, expansão de vendas online, teletrabalho e cortes de premiação são as medidas tomadas pelas empresas neste momento de crise. O levantamento mostrou que 73% mantiveram seus funcionários nos postos de trabalho, apesar da queda no faturamento e que, caso o fechamento total da economia dure mais de dois meses, as empresas pretendem tomar medidas alternativas antes da demissão. As principais delas são home office, expansão das vendas online, suspensão de pagamento de fornecedores, férias coletivas e empréstimos. Mesmo assim, um terço das empresas de pequeno porte poderão fechar suas portas. A pesquisa mostrou ainda ser possível salvar grande parte dos empreendimentos com o esforço do governo, bancos, agências de fomento e cooperativas de crédito. Somente 12,1% das empresas precisariam contrair mais de R$ 100 mil para manter os negócios. Para mais de 46% dos entrevistados, linhas de crédito entre R$ 15 mil (microcrédito) e R$ 50 mil seriam o suficiente, e 15,6% das empresas pediriam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil. Além da possibilidade de adquirir empréstimos, as empresas consideram fundamental que o governo aplique algumas medidas. 43% delas sugeriram subsídios para pagamento de salários; 21,7%, a redução de impostos e taxas; 21,1%, a adoção de linhas de crédito diferenciada e 10,4%, o aumento de prazos de pagamento das obrigações das empresas.  Ao todo, foram ouvidos 641 empreendedores. Microempreendedor individual (MEI), o cabeleireiro Alan Bernardes sente os efeitos provocados pela pandemia do novo coronavírus. Ele conta que, no dia que o Governo do Estado decretou situação de emergência em Alagoas, em 20 de março, ao final do expediente, ele juntou o dinheiro que havia no caixa e dividiu entre si e seus funcionários. "Esse rateio não significou nem um terço do que eles deveriam receber agora no final do mês", diz o empreendedor, reconhecendo que não sabe quando poderá pagar o restante dos salários. Ele se diz perdido sobre o que fazer diante da situação. "Essa é uma situação nova, que ninguém ainda viveu, então a gente não sabe o que fazer, está todo mundo dando cabeçada. Tem aparecido muitos especialistas na mídia dando pitaco, dando sugestões, mas são mais no sentido de encorajar as pessoas para que não baixem a guarda, não desistam, tenham esperança, porque o conteúdo, na verdade, ele é inócuo porque as pessoas nunca passaram por isso, então ninguém tem experiência para poder ajudar o outro dando conselhos sobre essa situação", afirma. Alan Bernardes considera inevitáveis demissões. "Com certeza vai ter demissão, já está tendo demissão, porque eu já soube que tem algumas lojas que vendem para salão de beleza e que têm um quadro de funcionários muito grande que já estão demitindo. Alguns anteciparam férias e outros já demitiram. Tem alguns funcionários nessas lojas que prestavam serviço e que já foram mandados para casa. Então, a gente já percebe que está acontecendo. Agora, no meu entendimento, o pior de tudo isso é nosso cliente. Nosso cliente está em casa, sumiu, quando acabar tudo isso, como é que ele vai se comportar, ele vai procurar o nosso serviço, ele vai ter condições de utilizar o serviço da gente na mesma proporção que utilizava anteriormente? São perguntas que tiram o sono". Na opinião de Alan, a empresa mais prejudicada é o MEI. Para justificar, ele cita as barbearias, um segmento em alta no Estado. "A maioria das barbearias trabalha terceirizando o MEI. Eles contratam o profissional barbeiro para prestar serviço dentro dessa barbearia como MEI, então ele é autônomo, ele produz o serviço, e ele deixa uma parte para o salão, e a maior parte desse serviço fica com ele. Então praticamente ele é patrão dele mesmo, então o MEI é quem mais vai sofrer, pois a a empresa que absorve o MEI tem mais estrutura, ela deve ter um capital de giro, por menor que seja, para aguentar um tempo maior. Por dois meses, eu acredito que seja o limite né, no caso da pequena empresa. Mas o MEI, ele não consegue porque ele trabalha de manhã para pagar custos à tarde, ele está produzindo, ele está pagando, é uma roda giratória, então ele precisa do cliente todo dia, então esse pessoal está em dificuldade". Alternativa Resistente ao delivery, até então, o proprietário da Sorveteria Belo Monte, José Ivanildo Lima, encontrou no serviço uma forma de minimizar os prejuízos causados pela pandemia do novo coronavírus. Ele conta que a demora em adotar o serviço foi porque, acompanhando as redes sociais, via muitas reclamações de clientes, principalmente em relação à demora na entrega de pedidos. Entretanto, segundo ele, quando o governo do Estado decretou o fechamento temporário dos estabelecimentos comerciais, tudo mudou. "Fiquei muito preocupado, pois já estávamos acostumados a uma rotina e, de repente, isso aconteceu", diz. Ivanildo relata que no domingo seguinte após o decreto governamental ele recebeu a ligação de vários clientes perguntando se a sorveteria estava funcionando, e que uma cliente em especial despertou nele a ideia de adotar o delivery. "Ela me perguntou como ficaria a quarentena sem o sorvete Belo Monte. Na terça-feira mesmo reagimos e começamos a fazer entrega. Contratamos um motoboy e começamos a ver o quanto estávamos errando por não termos feito isso antes", diz o empresário que conseguiu, com o serviço, manter o faturamento da empresa no patamar aproximado de 50%. Hoje ele reconhece a importância do serviço e diz que vai mantê-lo por acreditar que a medida vai ajudá-lo a sair da crise. "Tendo em vista que está difícil, pois não temos experiência, mas tudo é um aprendizado. Oportunidade Com sua empresa formalizada há um mês, a proprietária da Bem Natú, Francine Cândido estava voltando de um curso em cosmetologia em Campinas, São Paulo, quando viu que a Unicamp havia suspendido as aulas devido à pandemia do novo coronavírus. "Meu primeiro pensamento foi: 'agora meus planos foram por água abaixo'. Com uma empresa iniciando, pouco dinheiro para investir e uma filha morando nos Estados Unidos e precisando retornar, então passei a primeira semana nesse dilema de trazê-la de volta", relata. Com a filha de volta ao Brasil, Francine diz que foi durante a quarentena vivida pela família que ela teve a oportunidade de refletir sobre os negócios. "Primeiro agradeci a Deus por não ter iniciado a comercialização dos meus produtos, pois não teria um prejuízo financeiro grande, mas, em contrapartida, estaria um pouco estacionada. Foi quando comecei a partilhar nas minhas redes sociais como estava enfrentando tudo isso". Ela diz que ouviu relatos a exemplo de uma arquiteta que está fazendo ovos de Páscoa, de um surfista que abriu um delivery na Praia do Francês, de uma empresa de assessoria digital crescendo diante da situação, de uma desempregada que está fazendo pão caseiro. "Enfim, muitas histórias de readaptação e ressignificação no momento de crise". Com isso, ela decidiu lançar nas próximas semanas três produtos: álcool gel aromatizado com óleo essencial calmante e antiviral, sabonete líquido antisséptico e creme hidratante para as mãos. "Eu não posso dizer que não estou preocupada diante do cenário do sistema de saúde do qual faço parte e do cenário econômico. Mas acredito que se mantivermos a calma, o cérebro funciona melhor e podemos ter a capacidade de pensar, não só para si, mas também para ajudar o outro. Esse é um tempo de ressignificação. E para o empreendedor, seja ele de que tamanho for, manter a calma atrai criatividade", afirma. Apoio do Sebrae Com o propósito de ajudar os empreendedores a se fortalecerem para enfrentar a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, o Sebrae em Alagoas ampliou o atendimento digital. "Nesse momento de crise, nesse momento de quarentena, em que tornou-se impraticável para nós continuarmos com o atendimento presencial e que apenas através de canais digitais, do 0800 570 0800, do nosso portal, WhatsApp, nós estamos tendo condições de ter contato com os empreendedores. Temos ouvido, desde o início da crise, diariamente, todos os empreendedores que têm nos procurado. Temos também ligado para nossos clientes, aqueles que já participaram de cursos, treinamentos, consultorias, exatamente para saber como eles estão, sentir a temperatura desse momento tão desafiador", diz o diretor técnico do Sebrae em Alagoas, Vinicius Lages. Ele reconhece as dificuldades enfrentadas pelos empreendedores com a quarentena, considerada fundamental para o achatamento da curva de propagação da contaminação do coronavírus, e diz ser importante ter muita calma, muita perseverança e muita compreensão do momento vivido. Ele afirma que o Sebrae tem atuado em três frentes: "Uma que é a manutenção da frente que nós temos, histórica em termos de política pública. Nós temos ajudado o governo federal nessas medidas que têm saído hoje, do Banco Central, do BNDES. As medidas que têm saído do Ministério da Economia têm o braço do Sebrae, têm o acompanhamento do Sebrae, têm o envolvimento do Sebrae. Estamos em rede no desenho dessas medidas no Brasil inteiro, os diretores do Sebrae junto com a direção nacional ajudando o governo a desenhar as melhores medidas para enfrentar esse momento tão desafiador. Nós temos fortalecido a nossa capacidade digital, colocando aí conteúdos importantes para ajudar os empresários a transitarem nesse período de crise, porque a gente sabe que muitos dos negócios não têm condições de funcionar da forma digital através de aplicativos, através do e-commerce". Vinícius Lages reconhece ser difícil para muitos negócios fazerem a transição, "e mesmo aqueles que já fizeram alguma transição, nós temos ouvido diariamente. Não é tão fácil enfrentar uma queda de faturamento, tendo que manter os custos e as obrigações. Então nós nos solidarizamos nesse momento e colocamos toda a nossa energia para que nós possamos rapidamente superar esse momento tão crítico". O diretor técnico diz que o Sebrae em Alagoas está juntamente com o governo estadual acompanhando as medidas tomadas pelo governo federal e repassando essas informações por meio dos canais digitais da instituição. "Portanto, pra todos vocês que têm a necessidade de nos procurar para interagir, para ajudá-los nesse momento de transição, procure o Sebrae através dos canais, que estamos funcionando diariamente, recebendo dezenas de ligações, dezenas de interações no site, no chat e também através do WhatsApp. Portanto, esperamos que logo a gente supere essa crise e saiamos ainda mais fortalecidos na nossa relação para enfrentarmos os desafios no futuro".