Economia

Especialista diz que cana-de-açúcar ainda domina economia em Alagoas

Luciana Caetano aponta que Alagoas ainda tem dependência do setor sucroalcooleiro e que ele influencia demais setores

Por Tribuna Independente com Carlos Victor Costa 14/09/2019 08h22
Especialista diz que cana-de-açúcar ainda domina economia em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria
Alagoas completa na próxima segunda-feira (16) 202 anos de emancipação política. O estado é conhecido como o paraíso das águas, mas tem em sua história um longo processo de afirmação de vários ciclos econômicos que passa pela pecuária e cana-de-açúcar. Segmentos esses que não têm mais a força de antigamente, mas que ainda fazem a diferença na economia alagoana. Essa é a avaliação da economista Luciana Caetano, que em entrevista à Tribuna Independente falou sobre o assunto e destacou ainda pontos importantes para que Alagoas evolua no cenário econômico do país. Tribuna Independente – O centro da economia local sempre foi a pecuária e a agricultura – ênfase na cana-de-açúcar –, mas, hoje isso parece ter mudado. Comércio, serviços e indústria tomaram espaço? Luciana Caetano – A gente teve uma redução muito grande do setor industrial. Hoje o setor industrial de Alagoas representa 7% do PIB do estado e desse percentual há uma participação expressiva do setor sucroalcooleiro que, com a indústria química, domina o setor industrial em participação de valor adicionado, PIB. Entretanto, como a gente teve o fechamento de várias unidades de produção do setor sucroalcooleiro, houve não só uma redução de participação do setor industrial na economia alagoana, mas também um encolhimento em razão desses fechamentos. Como é um setor com peso no setor industrial, obviamente que isso produziu encolhimento significativo no próprio setor e na economia alagoana. Temos um processo de desindustrialização na economia brasileira que vem desde a década de 1980 e se acelera nos últimos anos. Em Alagoas você tem, em função de outros motivos que não os responsáveis pela desindustrialização no Brasil, exatamente a perda de competitividade do setor sucroalcooleiro para a região Sudeste, principalmente para São Paulo e para o Centro-Oeste. Então, isso vai ter impacto também em setores como o comércio. Obviamente, na medida em que você tem uma redução muito grande de participação no setor industrial, os demais crescem em participação, o setor de serviços assim como o de comércio, são dois setores que vem crescendo de forma expressiva no mundo, nas economias capitalistas ocidentais de modo geral. No Brasil, os dois juntos representam em torno de 70, 72% do PIB. Em Alagoas é um pouco mais, chega a 73%. Isso se deve também em razão desse encolhimento do setor industrial. E curiosamente a agricultura também perdeu participação. A gente tinha uma participação de 23% da agropecuária em Alagoas e hoje é de 11%, a gente encolheu 50%, tanto em participação em PIB, como também em relação a pessoas ocupadas neste setor. Então a gente tem um agravamento das condições socioeconômicas do estado em função de infraestrutura logística, que não favorece a expansão das atividades em geral, principalmente o setor industrial. Quando falo infraestrutura logística, me refiro à portuária, aeroportos, rodovias, formas de escoamento e a interligação com outros mercados para construir cadeias produtivas organizadas no Nordeste, mas particularmente no estado de Alagoas. Isso a gente não tem e prejudica muito a possibilidade de compensação de uma perda de unidade de produção do setor sucroalcooleiro. Poderíamos ter mantido a mesma participação da atividade industrial se tivéssemos uma atividade industrial mais diversificada. Tribuna Independente – A falta de infraestrutura logística faz Alagoas não avançar no desenvolvimento? Luciana Caetano – A infraestrutura logística é um elemento importante a se considerar. Historicamente, ela não foi cuidada por várias razões. Primeiro, porque o Governo Federal sempre privilegiou o Sudeste em investimento na infraestrutura logística. Mas é importante ressaltar também que Alagoas sempre foi refém do setor sucroalcooleiro no sentido de ter ao seu dispor políticas públicas, inclusive incentivos fiscais que favoreceram os setores que são os mais fortes nessa economia. Se você pegar o histórico deste setor em Alagoas, verá que eles sempre se beneficiaram de renúncia fiscal, de perdão de dívida, de elevado volume de crédito. Não é à toa que o Produban quebra e grande parte disso é de responsabilidade das relações do Estado com esse setor. Estes elementos todos vão dificultar inclusive ao Estado ter uma receita suficiente para fazer os investimentos necessários. O próprio Estado, na medida em que vai fazendo essas concessões para um setor sucroalcooleiro e outros tantos, vai perdendo capacidade de intervenção na economia alagoana porque a sua receita é muito baixa. Também há esse processo da União em privilegiar os estados que já tinham uma robustez, em termos de ter mais densidade econômica, e uma infraestrutura mais avançada. E aí você investe em quem já está na frente. Esses elementos explicam, de certo modo, a dificuldade dos estados periféricos em superarem o atraso em relação ao centro dinâmico da economia nacional, que é São Paulo e seu entorno. Tribuna Independente – A inclusão social em Alagoas sempre foi difícil por conta da concentração de riqueza. Isso é reflexo do modelo canavieiro local ou do capitalismo brasileiro num todo? Luciana Caetano – A desigualdade social não tem um ponto de partida, ela faz parte de todas as organizações sociais. Se você pegar qualquer país, seja capitalista ou socialista, vai ter certo grau de desigualdade social. Se a gente pega o processo de transição do modelo agroexportador no Brasil, na década de 1930, com a transição para o setor industrial, o que se tem é um agravamento das desigualdades sociais, considerando a própria lógica de reprodução do capital, a própria desigualdade de remuneração a partir de novas ocupações que surgem. Há vários elementos que definem a desigualdade social por gênero, por raça, por tipo de ocupação. Esses elementos vão, na verdade, se acentuando, inclusive, a partir da desigualdade de investimento entre estados, entre regiões.