Economia

Seis mil trabalhadores podem perder os empregos no Pinheiro

Redução dos postos de trabalho ocorre devido à situação de afundamento no bairro

Por Texto: Jairo Silva - Colaborador com Tribuna Independente 31/08/2019 16h00
Seis mil trabalhadores podem perder os empregos no Pinheiro
Reprodução - Foto: Assessoria
As frustrações e indagações vivenciadas todos os dias pelos moradores dos bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro vão muito além da questão da moradia, passando pelos traumas psicológicos, pela insegurança financeira e até o desemprego. É o que aponta o Sindicato dos Empregados do Comércio de Alagoas (Secea), que vem acompanhado o desenrolar da situação dos trabalhadores do comércio do bairro, afetado pelas rachaduras e crescente desocupação. Segundo números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados pelo Secea, aproximadamente seis mil trabalhadores que hoje atuam nos pequenos e médios negócios do bairro do Pinheiro, podem vir a engrossar as fileiras de desempregados em Alagoas. Informações divulgadas pelo Ministério Público do Trabalho em Alagoas (MPT/AL), dão conta que o número trabalhadores afetados, direta ou indiretamente, pode chegar a 30 mil. Já os dados da mais recente pesquisa realizada pela Federação do Comércio de Alagoas (Fecomércio), apontam que a estimativa de empregos gerados no bairro do Pinheiro pode chegar a cerca de 20.740 postos de trabalho formais. No mesmo levantamento, com informações da Junta Comercial de Alagoas (Juceal), existem cerca de 2.700 empresas ativas no bairro, onde 2.060 empresas são consideradas Microempresa, 360 são empresas de pequeno porte e 248 não são identificadas em termos de porte empresarial. Segundo o Dirceu Eloi Silva, diretor do Secea, são quase seis mil trabalhadores que podem ser atingidos ou prejudicados com as rachaduras ou mesmo com a mudança de local dos empreendimentos. “Os números de trabalhadores são do Caged, mas estamos fazendo também um cadastro nosso para saber como auxiliar esses trabalhadores. As empresas estão mudando de local, para outros bairros e não estão levando os seus funcionários. São demitidos e ficam por lá mesmo, tornando vitimas da tragédia de forma dupla”, informa. Empresários estão reduzindo os custos Tentando continuar as suas atividades comerciais, empresas como o supermercado Super Pilar enfrenta uma crise gerada pela desocupação do bairro, que provoca queda no faturamento, endividamentos não planejados e demissões. Com o prejuízo causado pelas rachaduras e a desocupação residencial, a solução encontrada foi a redução de custos e a demissão dos funcionários. À reportagem da Tribuna, Gustavo Martins, advogado e atual administrador do empreendimento é categórico quando diz que já acumulam um prejuízo de quase R$ 400 mil somente neste primeiro semestre, além da redução de funcionários e diminuição de investimentos. Segundo ele, a estimativa de perda gira em torno de 50% do faturamento do supermercado. “A coisa mais triste é que tivemos que diminuir cerca de 50% do nosso quadro de funcionários. Tínhamos 43 funcionários e hoje estamos com 19, que pode chegar a 17. Mês passado comprovamos 55% de redução no faturamento. Infelizmente, tivemos que nos desfazer de bens e também recorrer aos bancos. Temos um princípio aqui de não falhar nem com fornecedor e nem com funcionário. Para mim são os dois pilares fundamentais e imprescindíveis”. Gustavo Martins convive com prejuízos mensais e redução do quadro de funcionários no supermercado do bairro (Foto: Sandro Lima) Segundo Gustavo, desde 2014 o supermercado Super Pilar funciona nesta estrutura atual, que engloba inclusive outros prédios vizinhos e uma expansão colocada em estado de espera neste momento. Questionado pela reportagem sobre as dívidas trabalhistas, oriundas das rescisões contratuais, informou que tudo está sendo pago através de acordos com os funcionários. “Tomamos um posicionamento diferenciado, chamamos todos os funcionários e estamos pagando todas as verbas rescisórias e contratuais; tudo está sendo pago. Não foi fácil. Muitos deles estão perdendo a casa e o trabalho – vítima duas vezes da mesma tragédia!” Laudo do CPRM gera diminuição das atividades A funcionária pública Rosangela Ferreira, servidora pública e professora de dança, que dava aulas na academia Força Livre, desabafa sobre o fim da sua atividade profissional no bairro. “Me sinto arrasada pelo fim das aulas na academia. Os alunos fizeram até uma despedida e isso me deixou muito triste, pois a atividade teve que acabar por causa desse problema, assim, bruscamente. Foi horrível para a minha pessoa e como profissional.” Os empreendedores que ainda persistem no bairro do Pinheiro tem encontrado uma situação de queda seguida no faturamento, devido a crescente desocupação territorial ocorrida desde o início do ano, depois do aumento das rachaduras e fissuras em diversas residências. Além de vivenciar a perda de empregos, moradores veem as suas residências interditadas pela Defesa Civil (Foto: Sandro Lima) O laudo do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) atestando que o problema vinha do subsolo e da exploração do sal-gema pela empresa Braskem ratificou as ações da Defesa Civil de demarcação das áreas de risco e do processo de desocupação, ampliando assim também o processo de redução da atividade econômica no bairro. Ainda sob o efeito psicológico causado pelas rachaduras e pelo afundamento do solo no bairro do Pinheiro, a moradora Rosangela Ferreira aguarda o destino morando ainda no bairro, mesmo com a residência em área de risco, de acordo com a delimitação feita pela Defesa Civil. Para a moradora e também trabalhadora desempregada, a tragédia trouxe problemas de várias espécies e que necessitam de apoio especializado. “Minha casa não tem rachaduras, mas está em área de risco, perto da mina D30, próxima da Escola Luiz Calheiros Junior que está interditada. Trabalho com dança desde os 20 anos de idade. Pela primeira vez estou indo ao psicólogo para não entrar em depressão e agora sei o que passaram as pessoas em Brumadinho que perderam suas casas”. Desequilíbrio econômico tem afetado a comunidade O Ministério Público do Trabalho em Alagoas (MPT/AL) ajuizou, no dia 24/07, uma ação contra a Braskem para exigir medidas socioeconômicas voltadas aos trabalhadores da empresa e dos bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro, afetados por rachaduras decorrentes da extração de sal-gema. Segundo a matéria publicada no site do órgão o MPT/AL pede à justiça o bloqueio de R$ 2,5 bilhões das contas da empresa, 12 obrigações de fazer, sob pena de bloqueio total de mais R$ 125,6 milhões, além de R$ 1 bilhão de indenização por dano moral coletivo. Na mesma matéria, a procuradora do MPT, Rosemeire Lobo, afirmou que a Braskem causou um desequilíbrio nas relações socioeconômicas das comunidades afetadas e tem a obrigação de assumir a responsabilidade nas reparações de danos aos que foram ou possam vir a ser direta ou indiretamente atingidos. “A Braskem causou sérios danos no meio ambiente labor-econômico nos bairros em situação de calamidade pública, largando à sorte trabalhadores formais ou informais e empreendedores. Sem escolas e com famílias abaladas e desestruturadas, milhares de crianças e adolescentes também correm sério risco de se disponibilizarem ao trabalho infantil”, explicou. Ainda segundo o MPT/AL, as rachaduras nos bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro, decorrentes da atividade de extração de sal-gema pela Braskem, causaram um prejuízo social e econômico a mais de 30 mil trabalhadores das regiões e consequências familiares, de acordo com pesquisa feita pela Federação do Comércio de Alagoas (Fecomércio/AL). Após solicitação do MPT, a Fecomércio mostrou que, entre os meses de janeiro e fevereiro de 2019, 95% dos comerciantes do bairro do Pinheiro sofreram redução de receita. Segundo a assessora técnica da federação, Graça Carvalho, além do levantamento da situação econômica dos empreendimentos no bairro do Pinheiro, a Fecomércio está participando de vários espaços de discussão e analise legislativa, para a proposição de leis que possam ajudar e também minimizar os prejuízos para os empreendedores do bairro. De acordo com a assessora, um dos avanços foi a Lei Municipal 6.900, de 18/06/2019, que concede benefícios fiscais a empresas e moradores atingidos pela problemática no bairro do Pinheiro. Fecomércio busca ajuda e Secea monitora as condições Para Graça carvalho, a Federação do Comércio de Alagoas (Fecomércio/AL) faz um trabalho institucional para buscar a solução para os empreendedores para tentar ajudar o contribuinte neste momento. Criar políticas de crédito que são mais adequadas para os empreendedores que estão nesta situação. “Buscamos hoje uma legislação nacional que contemple todas as situações de tragédias e desastres, e que atenda todos os detalhes envolvidos”. Já na Comissão Mista Parlamentar, que tem abrangência do legislativo federal, estadual e municipal, a federação tem buscado junto aos parlamentares, as pautas de interesse dos empresários dos bairros afetados, como isenções e créditos diferenciados. “Em parceria com o Sebrae, a Fecomércio está buscando as melhores condições para os empreendedores do Pinheiro, neste momento de incerteza por conta de toda a tragédia no bairro”, destaca a assessora. MOBILIZAÇÃO No último dia 23, moradores do bairro do Pinheiro, Mutange e Bebedouro realizaram uma manifestação contra a demora na ajuda humanitária prometida pelos governos federal e municipal. Junto aos moradores, o Sindicato dos Comerciários de Alagoas (Secea) acompanha a situação de todos que são afetados pela tragédia no bairro do Pinheiro. Moradores cobram soluções aos problemas econômicos e sociais no bairro (Foto: Edilson Omena) Segundo Dirceu Eloi, presidente da entidade, existe um acompanhamento sindical para buscar soluções em prol dos trabalhadores que estão perdendo seus postos de emprego no Pinheiro. “O sindicato [Secea] está acompanhando de perto este problema e esteve junto com moradores e atingidos no protesto do dia 23. O problema atinge os moradores do bairro e também os trabalhadores de várias empresas localizadas naquela região. As empresas estão mudando de local, para outros bairros e não estão levando os seus funcionários. São demitidos e ficam por lá mesmo – vítimas duas vezes da tragédia”, informou o presidente do Sindicato dos Empregados do Comércio de Alagoas.