Economia

Preço do diesel deve subir com novo esquema para subsídio; importador aponta problemas

Preço de comercialização para Petrobras e outros agentes que participam do programa, incluindo alguns importadores, estava congelado desde junho a 2,0316 reais por litro

Por Reuters 30/08/2018 19h50
Preço do diesel deve subir com novo esquema para subsídio; importador aponta problemas
Reprodução - Foto: Assessoria
O novo preço de comercialização do programa governamental de subsídio ao diesel, estabelecido por uma fórmula que entra em vigor na sexta-feira, terá aumento de cerca de 10 por cento na esteira da alta do dólar e do preço internacional do petróleo, movimento que deve ser repassado aos consumidores, segundo uma autoridade do governo. Mas mesmo esse alta no preço não será o bastante para levar o setor privado voltar a importar diesel para complementar a oferta da Petrobras, disse o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, em entrevista nesta quinta-feira. Contudo, o aumento do preço de venda —formado a partir do preço de referência estabelecido em uma fórmula menos 0,30 real por litro (patamar de subsídio estabelecido pelo governo)— acabará impactando no valor pago pelos consumidores, disse uma autoridade, na condição de anonimato. “A lógica é essa: sobe o preço de comercialização, sobe o preço na refinaria e sobe nas bombas em algum momento”, frisou a fonte, sem dar detalhes. O preço de comercialização para a Petrobras e outros agentes que participam do programa, incluindo alguns importadores, estava congelado desde junho a 2,0316 reais por litro, após o governo fechar um acordo com caminhoneiros para encerrar os protestos que paralisaram o país em maio. A propósito, o banco UBS disse em nota nesta quinta-feira sobre a mudança no esquema que a proximidade com as eleições presidenciais representa um risco. Enquanto o preço do diesel está controlado, a gasolina não integrante do programa de subvenção tem batido recordes de valor nas refinarias da Petrobras, com a estatal seguindo a política de repassar valores do mercado internacional e do câmbio. Nesta quinta-feira, o petróleo fechou no maior valor em mais de um mês. A previsão é que o novo preço de referência do diesel, calculado com uma nova fórmula, seja anunciado na manhã de sexta-feira no site da reguladora do setor ANP, segundo a fonte. Procurada, a ANP não comentou o assunto. INSATISFAÇÃO Com o novo esquema inviabilizando importações pelo setor privado, disse o presidente da Abicom, é provável que algumas empresas deixem de participar do esquema, idealizado pelo governo para durar até o final do ano. Além disso, ele disse que é muito frustrante para o setor o fato de as empresas, em sua grande maioria, ainda não terem recebido os subsídios de fases anteriores —a ANP aprovou pagamentos de quatro companhias, de pequeno porte. “As operações continuam inviabilizadas, e os subsídios que as associadas têm direito de receber não foram pagos”, afirmou Araújo, ressaltando que apenas as associadas aguardam receber cerca de 130 milhões de reais. “Esses dois fatores, o cálculo do preço abaixo da paridade de importação e a incerteza quanto ao recebimento da subvenção estão desacreditando o programa, levando algumas empresas a repensar se devem ou não participar.” Ele disse ainda que essa fórmula não atendeu totalmente reivindicações do setor, para que fosse possível viabilizar importações, o que ajudaria a Petrobras a abastecer o mercado. Araújo lamentou que o esquema para definir o preço usado no subsídio ainda não colocou uma parcela de margem para atividade, que envolve riscos. Ele disse ainda que os valores estabelecidos na fórmula para contemplar custos com frete e armazenagem ainda estão baixos, o que deve inviabilizar importações, que estão praticamente zeradas nos nove associados da Abicom. “Se já não existia arbitragem para viabilizar importações, a partir de agora a situação piorou; com isso a nossa expectativa é de que não devem haver importações por agentes independentes.” Ele disse que acreditar que a Petrobras continuará importando —nesta semana a petroleira anunciou compras de 1,5 milhão de barris, para lidar com a paralisação da Replan, atingida por um incêndio na semana passada. Procurada, a Petrobras preferiu não comentar o assunto. A Petrobras também não comentou sobre a falta de pagamento dos subsídios ao diesel. Isso ocorre porque a ANP ainda está avaliando a maior parte dos documentos enviados pela estatal. Sobre a primeira fase do programa, a ANP disse nesta quinta-feira que estão sendo adotados procedimentos finais para decisão sobre pagamento. A reguladora solicitou mais informações à Petrobras referentes à segunda fase do programa de subvenção.