Economia

Petrobras pode ter perdas com importação de diesel por parada na Replan

Perdas da estatal com venda do diesel pelos preços congelados seriam bancadas por programa de subsídio anunciado pelo governo federal

Por Reuters 28/08/2018 17h56
Petrobras pode ter perdas com importação de diesel por parada na Replan
Reprodução - Foto: Assessoria
A interdição da refinaria de Paulínia, a maior da Petrobras, após uma explosão na unidade na semana passada, obriga a estatal a importar diesel “no pior cenário de preços”, possivelmente com perdas, escreveram analistas do banco UBS nesta terça-feira. A Petrobras informou na véspera que, em função da parada na Replan, vai comprar no exterior 1,5 milhão de barris de diesel para abastecer o mercado doméstico. Mas a operação acontece em meio a preços maiores no mercado internacional devido à alta do dólar e com as cotações do combustível congeladas no mercado interno, em medida anunciada pelo governo após uma greve de caminhoneiros em maio. Em tese, as perdas da estatal com a venda do diesel pelos preços congelados seriam bancadas por um programa de subsídio anunciado pelo governo federal, com validade até o final do ano, que promete ressarcir fornecedores em até 30 centavos de reais por litro. Mas, com os preços internacionais em alta, a fórmula para os subsídios não tem sido suficiente para garantir a paridade de importação e uma margem para os agentes do mercado doméstico e importadores, mesmo após mudanças anunciadas pela reguladora ANP na segunda-feira, de acordo com o relatório do UBS. “A Petrobras provavelmente irá importar o diesel abaixo de seu ponto de equilíbrio (‘breakeven’), levando em consideração os preços internacionais e o teto de subsídios de 30 centavos por litro”, apontaram os analistas do banco. Eles lembraram que, além de possíveis perdas na importação, a Petrobras pode enfrentar outros custos associados ao incidente na Replan. “As importações vão vir no pior cenário de preços... somados o possível custo de reparos pelos danos com o fogo, uma taxa baixa ou nula de utilização da refinaria (na sequência do incêndio) e as perdas com as importações, a Petrobras deve provavelmente enfrentar um terceiro trimestre desafiador”, destacaram. Os analistas ainda lembraram que a Petrobras não recebeu até o momento qualquer reembolso do programa federal de subsídios. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) disse há duas semanas que foram aprovados pagamentos até o momento apenas a quatro empresas —Petro Energia, Sul Plata, Dax Oil e Refinaria de Petróleo RioGrandense. Segundo o regulador, há uma demora no processo devido à necessidade de conferência de grande volume de documentos. “Nós acreditamos que a conta de recebíveis pode aumentar em 3 bilhões de reais até o final do terceiro trimestre, se a Petrobras não receber o pagamento da ANP”, calcularam os profissionais do UBS. A Petrobras tem dito que espera retomar a operação da Replan ainda nesta semana, com cerca de 50 por cento da capacidade. A ANP interditou a refinaria na sexta-feira, quando alegou a necessidade de checagens de segurança antes do retorno às atividades. NOVA REGRA Mudanças anunciadas na segunda-feira pela ANP na metodologia de cálculo dos preços de referência utilizados no programa de subsídio ao diesel, válidas a partir de 31 de agosto, foram vistas como “positivas” pelos analistas do UBS, embora ainda em nível insuficiente para permitir a venda no mercado interno por preço equivalente aos do mercado internacional mais uma margem, segundo eles. A agência reguladora disse que a nova fórmula incluirá custos de movimentação e armazenagem nos terminais portuários e custos de logística interna para entrega em cada uma das regiões do país. “Durante uma consulta pública, a maior parte dos grandes agentes reclamou sobre a proposta prévia divulgada pela ANP... nós não acreditamos que a fórmula (final) endereçou todas as questões; mas a maioria delas foi atendida... trazendo algum alívio às margens”, explicaram. A própria Petrobras chegou a alertar à ANP mais cedo neste mês que a fórmula inicialmente proposta pela autarquia poderia gerar risco de desabastecimento, ao reduzir os preços de referência sem levar em conta custos de internalização do diesel importado.