Economia

“Onda gourmet” é aposta de novos negócios em Alagoas

Reinvenção de comidas populares agrada clientes e impulsiona vendas

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 21/07/2018 09h28
“Onda gourmet” é aposta de novos negócios em Alagoas
Reprodução - Foto: Assessoria
Brigadeiro, coxinha, pipoca, flau e churros... quem resiste? Eles são alimentos bem populares, mas um detalhe que tem mudado a apresentação deles é a chamada “onda gourmet”. Apostando na popularidade dos quitutes e no sucesso das combinações, empreendedores impulsionam as vendas e conquistam a preferência dos clientes. Gourmet é um termo de origem francesa, que remete a pessoas que entendem de vinhos e iguarias. Mas no Brasil o termo ganhou “novo sentido” e vem sendo associado a alimentos sofisticados ou que ganharam nova forma de apresentação. A ideia do “gourmet brasileiro” é misturar ingredientes diferentes em receitas mais elaboradas, adicionando mais sabor e sofisticação aos produtos. Em Alagoas, isso tem sido muito comum, principalmente no segmento de lanches e refeições rápidas. Cristina Purcell é gastrônoma e coordenadora do curso de Gastronomia em uma faculdade de Maceió. Segundo Tina, o fenômeno é algo natural, mas precisa ser trabalhado com critérios. “É uma “onda” e como toda “onda” é preciso ter muito cuidado e critérios. A valorização do alimento é um processo natural, mas que por muitas vezes acaba por ser distorcido. A “gourmetização” de tudo, muitas vezes torna-se exagero de criatividade e que, nem sempre é bem vista”, pontua. Ela reforça que é preciso que os idealizadores das receitas pensem além das tendências e analisem seus públicos e as matérias-primas que utilizam. “Creio que, seja necessário também diante deste modismo, saber quem é público, conhecer as técnicas e insumos adequados e principalmente, ter bom senso”, avalia. Adriana Monteiro e seu “sabor marcante” [caption id="attachment_118813" align="aligncenter" width="1024"] Nas horas vagas, a técnica de enfermagem produz bolos, tortas e salgados (Foto: Sandro Lima)[/caption] Um produto com muitos nomes diferentes, mas que por essas bandas é conhecido como flau, foi estilizado por Adriana Monteiro há quase dois anos. Produzir flaus é uma de suas atividades: ela é técnica de enfermagem e também produz doces, bolos e salgados, inclusive com alguns cursos no currículo. Mesmo com tantas atribuições, a ideia de produzir flaus gourmet veio da filha, Andressa Monteiro, de 21 anos. “Ela me disse: Mãe vamos fazer flau gourmet para vender? Eu já fazia outras coisas [bolo, doces e salgados], mas acabei deixando para lá. Certo dia eu estava em casa, tinha os materiais e resolvi testar, fui inventando. No início tem as dificuldades porque acabava cristalizando... O normal é água, açúcar e a fruta, mas aí fui adaptando com leite condensado, leite, creme de leite, ficava bom, mas ainda não tão bom. Aí fui adaptando com outros ingredientes e virou sucesso, o dia que não levo para o trabalho para vender as pessoas reclamam, meus flaus já foram até para Olinda, PE”, comemora Andressa cursa Arquitetura e Urbanismo e conta que faz sucesso na faculdade com os flaus, o que rendeu apelido de “moça do flau”. Ela vende em torno de 30 por dia. Além de vender ela auxilia na produção. Adriana incorpora a experiência com doces adaptando as receitas para o flau, são 51 sabores no cardápio. Segundo ela são versões detox com legumes, frutas e água de coco; além das versões premium como cappuccino, Romeu e Julieta, tapioca e biscoito cremoso; e de drinks, contendo bebidas alcoólicas. “Eu já comecei direto com os flaus gourmet e sempre vou criando as receitas. Não sou muito adepta da internet então eu mesma crio. A base é que todas levam leite, creme de leite e leite condensado, mas vou mudando a cada sabor, ao todo são 51, aí tem os detox, com bebidas. Sempre tenho para pronta-entrega, recebo muita encomenda, quando pego para fazer faço uns 500, 600. Já vou lançar mais dois e a linha sem lactose, tem para todo gosto. Os de frutas custam R$ 2,50, os demais custam R$ 3,50. O faturamento do flau é que me tira do sufoco. Eu e minha filha vendemos em torno de 80 flaus diariamente, eu levo para o trabalho e ela para a faculdade”, detalha. Adriana recebe encomendas também de palha italiana, cones trufados, bolos de pote, mas garante que o flau é o queridinho. Dos mais de cinquenta sabores o campeão de vendas é o mix de leite em pó com creme de avelã, popularmente conhecido como Ninho e Nutella. “O queridinho é o Ninho com Nutella tem também o pedacinho do céu que é Ninho com brigadeiro branco que sai muito. Mas têm outros muito pedidos como o Sensação, que é morango com brigadeiro, o Chicabon que é brigadeiro com chocolate”, conta Adriana. Ela já pensa em expandir os negócios adquirindo equipamentos industriais para facilitar a produção, além disso, o nome dos produtos “Sabor Marcante” teve a identidade visual renovada. Para Adriana o fato de seus produtos possuírem o título gourmet faz a diferença nas vendas. Ela acredita que não teria o mesmo destaque caso produzisse do modo tradicional. “Eu creio que não, hoje em dia não. O pessoal não pede muito do normal, nem 10% das minhas encomendas são de flaus normais. Hoje em dia para quem quer começar a fazer o gourmet é o ideal. Alguns falam do preço, mas eu uso produtos de qualidade, são flaus que exigem uma atenção maior, você tem que trabalhar com produtos de qualidade e manter o mesmo sabor, com produtos caros. Quando as pessoas vêm a quantidade de sabores e provam se espantam, realmente faz a diferença”, fala. Jovens unem “útil ao agradável” com produção de brigadeiros A amizade de Priscila Toledo Peixoto e Thayse de Lima Cavalcante, ambas de 21 anos, virou sociedade com a marca “Doce Amiga”. Elas começaram a produzir brigadeiros tradicionais há pouco mais de dois anos, investindo também em ovos de páscoa recheados. [caption id="attachment_118809" align="alignleft" width="282"] Priscila Peixoto e Thayse Cavalcante afirmam que mercado é bem mais receptivo às novidades culinárias: “causa curiosidade nas pessoas” (Foto: Acervo pessoal)[/caption] “Então, nós somos estudantes, Thayse, minha sócia, cursa Nutrição e eu curso Arquitetura e Urbanismo. Eu estudo pela noite e apesar de ter os dois horários livres, estava tento dificuldade em conseguir um estágio e ela estudava em período integral, então tinha dificuldade em encontrar estágio num horário compatível. Vimos a produção de doces como uma alternativa de renda, e seria uma forma de trabalhar em horários livres que tivéssemos para conseguir dinheiro”, afirma Priscila. Ao iniciar o negócio elas perceberam que poderiam alavancar com a oferta de produtos diferenciados, os chamados “brigadeiros gourmet” e tem dado certo. “Com a gente acabou sendo algo muito natural... Na verdade a gente percebeu que o brigadeiro tradicional se tornou algo muito comum no cotidiano das pessoas, elas têm o costume de fazer em casa, por exemplo. O brigadeiro gourmet acaba se sobressaindo também por isso, além da variedade de sabores, que causa curiosidade nas pessoas”, defende. No cardápio elas inovam nos sabores e na forma de apresentação, além dos tradicionais, mais seis sabores diferenciados, como o brigadeiro de menta. A barca de brigadeiro é também um diferencial, segundo elas. “Fazemos o brigadeiro tradicional (com chocolate 50% cacau), beijinho, brigadeiro branco, brigadeiro de ninho, bicho de pé e churros são os sabores que trabalhamos mais, por ser os que mais saem, mas também temos sabores como chocomenta, açaí e maracujá. Também fazemos o brigadeiro com 70% de cacau. Trabalhamos com caixinhas de 6 unidades, 15 unidades, a barca de brigadeiro com 18 unidades e a opção de comprar o cento. Dentro dessas opções o cliente pode escolher sabores variados”, explica. Elas recebem de 5 a 7 encomendas semanais e não acumulam mais porque precisam conciliar os horários de estudo. Outra dificuldade é a oferta de insumos nas lojas especializadas, que segundo as estudantes precisa ser “driblada”. “A variedade de lojas de fato é mínima, mas nelas existem produtos que atendem nossa demanda normalmente exceto em casos excepcionais como a Páscoa, por exemplo, que as embalagens para ovos de colher são um pouco mais difíceis de encontrar”, detalha. Coxinhas e churros recebem novas versões [caption id="attachment_118810" align="aligncenter" width="1024"] À frente dos atendimentos, Júlia Albuquerque afirma que apostar no gourmet mudou proposta da loja (Foto: Sandro Lima)[/caption] Há quem diga que a coxinha integra o “hall de paixões nacionais” pela popularidade. E a empresária Júlia Albuquerque tem conseguido tirar proveito de toda essa paixão pelo quitute. Mas no caso dela o famoso salgadinho recebeu um incremento: massa de macaxeira e novos sabores. “O gourmet representa 80% das nossas vendas, isso inclui as coxinhas com massa de macaxeira, os doces e os churros. Eles saem bastante, as pessoas ficam curiosas quando escutam esse nome”, destaca. E como a empresário explicou, não é só a coxinha que ganhou a versão gourmet, eles trabalham com churros e doces estilizados. Tudo começou em 2015, quando o marido dela, Adriano Carvalho e um amigo, Allan dos Santos trouxeram para Maceió uma franquia do Espírito Santo, especializada em salgados fritos tipo festa. “Essa ideia foi do meu esposo e de um amigo nosso, eles não são da área, um é engenheiro e outro trabalha com administração, mas eles viram que tinha mercado e foram atrás dessa franquia no Espírito Santo e montaram aqui. Nós fizemos um estudo de mercado antes de implantar, recebemos cursos, mapeamos o público da área para ver se tinha condições de abrir nesse ponto”, explica Júlia. De lá para cá conseguiram ampliar a ideia e no ano passado incluíram os sabores gourmet no cardápio. Além das coxinhas tradicionais, eles incrementaram com coxinhas de massa de macaxeira e recheios como frango e bacon, carne de sol, queijo de coalho com orégano, bacalhau e camarão. São 9 opções de recheios. Os resultados têm sido positivos. Em dias de muito movimento, ele chegam a vender 2 mil salgados. A maior demanda, segundo Júlia, é com a entrega, eles atendem toda a cidade e recebem encomendas por telefone e aplicativo de mensagens. “O nosso delivery funciona o dia todo, pela manhã para entregas agendadas e no restante do dia pedidos normais. Por estarmos localizados no Farol conseguimos ter uma boa abrangência, a gente entrega tanto na Ponta Verde, como temos clientes na Ufal, por exemplo”, ressalta. Outra opção no cardápio são churros com sabores de doce de leite, chocolate e o famoso creme de avelã.  Eles vendem ainda docinhos gourmet para festas e pasteis. Mas segundo Júlia os gourmet são os campeões de vendas. Outro diferencial é a qualidade, a gente trabalha com produtos de qualidade, porque a gente vende algo que a gente gostaria de comer”, afirma a empresária. Pipoca estilizada é verdadeiro “estouro” nas festas em Alagoas Outro produto popular no gosto do brasileiro, a pipoca, também ganhou versões estilizadas e literalmente “estourou” nas mãos da empresária Sandra Leão há cerca de três anos. [caption id="attachment_118811" align="aligncenter" width="1024"] Empresária investiu rescisão na ideia e já têm colhido os frutos do trabalho :“não paro um dia”, afirma (Foto: Acervo pessoal) [/caption] “Apesar de ser formada em Direito, sempre trabalhei com eventos e festas na parte de recepção, cerimonial e organização. Daí desde que sai da última empresa que trabalhei há quase três anos atrás, peguei minha rescisão e investi na empresa e graças a Deus vem dando certo”, comemora. Sandra oferece aos clientes 20 tipos de pipocas, incluindo sabores doces como paçoca e churros, e salgadas como apimentada e chimichurri. “Comecei a pesquisar e vi a novidade e variedade de opções que poderia abordar com a pipoca”, diz a empresária. Segundo Sandra a rotina é bastante acelerada. Ela participa de todas as etapas, desde a compra dos insumos, produção até o atendimento nos eventos na capital e no interior do Estado. “Não paro um dia, fica difícil até para organizar a vida pessoal”, detalha Ela disponibiliza o cardápio em embalagens personalizadas para festas e em uma espécie de buffet de pipoca. Além disso, trabalho com locação de brinquedos e outros lanches personalizados como algodão doce em versão tradicional e no cone e crepe. Ela atende tanta a capital quanto o interior do estado.