Economia

Educação financeira também é para crianças

Tema é abordado em Alagoas a partir do ensino fundamental particular e na rede estadual de ensino é disciplina eletiva

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 25/02/2018 15h19
Educação financeira também é para crianças
Reprodução - Foto: Assessoria
Poupança, rendimentos, economia, embora esses sejam termos do universo adulto, cada vez mais cedo, as crianças têm sido apresentadas ao mundo das finanças. Com o nome de Educação Financeira, a abordagem infantil nas escolas pretende ensinar aos pequenos a importância de consumir de forma consciente. Apesar de ainda não ser obrigatória nas escolas, o tema figura no conteúdo programático de escolas particulares em Maceió. Já na Rede Estadual de Educação, a educação financeira é disciplina eletiva nas escolas de ensino integral. O Ministério da Educação (MEC) sugere a inclusão do tema na abordagem educacional da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que entrará em vigor a partir do ano que vem. Esse novo modelo considera características culturais e sociais das regiões brasileiras. Caberá às redes estaduais e municipais formularem temáticas mais apropriadas ao ensino básico. A educação financeira propõe levar aos alunos nas mais diversas fases da vida escolar, conteúdos que ajudem e desenvolvam atitudes mais conscientes em relação ao dinheiro. A partir daí são trabalhados temas como poupar dinheiro, relação de compra e venda, custo dos produtos e necessidade de consumo, tudo de forma lúdica e adequado para a faixa etária. Educadora trabalha temas financeiros com crianças a partir de 6 anos Com 25 anos de experiência na área de educação, Gleide da Silva é professora do ensino fundamental I, que engloba do 1º ao 5º ano. Há cinco ela ministra aulas de educação financeira para crianças a partir dos 6 anos. “De 6 a 10 anos fazemos esse trabalho. A partir de 6 anos nós iniciamos de forma lúdica, ao nível de entendimento deles. Com materiais concretos, de forma brincalhona para que eles comecem a ter essas noções. A partir do 3º ano a coisa vai amadurecendo. Quando eles chegam no 6º ano já estão com uma base firmada na matemática financeira. Não só a matemática, mas de outras áreas do conhecimento que podem ser trabalhadas isso”. Segundo ela, apesar de saber ler, escrever e fazer contas simples, muitos alunos não tinham noções sobre o uso do dinheiro, algo que despertou o objetivo das aulas. “A gente percebeu que havia uma necessidade dos alunos sobre o conhecimento do dinheiro, de troco, de comprar, vender, economizar. Nos atos deles do dia-a-dia a gente percebeu isso. Daí surgiu a feira monetária, onde eles trazem produtos, coisas simples como brigadeiro, pão de queijo, gibis usados e eles vendem esses produtos na escola. As turmas vão comprando uma da outra, inclusive a educação infantil que já vai interagindo com o tema, observando”, explica. A professora afirma que o trabalho em sala de aula dá uma nova perspectiva aos alunos, não só de efetuar cálculos, mas de racionalizar e trazê-los para a realidade. “Além disso, a gente vai trabalhando no dia a dia antes da realização da feira. É um trabalho que vem de antes, com o conhecimento prévio deles. A gente percebe que eles não tem noção de ir comprar alguma coisa porque estão sempre acompanhados dos pais, ou os pais compram. Eles precisam ter essa noção. E antes da feira nós vamos explicando o sistema monetário, dinheiro, cédulas, valores. Depois disso a gente começa a trabalho a questão do troco, lucro, prejuízo e simulamos isso em sala de aula para que na feira eles já tenham essa noção”, pontua. Crianças passam a ter noção da importância de economizar Outro ponto observado pela educadora é a realidade na qual a criança está inserida. Segundo ela, a depender do nível de renda familiar da criança a perspectiva sobre o dinheiro muda, por isso a importância de explicar os limites e torná-los mais conscientes. “Isso ajuda na questão do amadurecimento deles porque eu tenho duas experiências em escola pública e particular. Se a gente pegar uma criança de escola pública e pedir para ela comprar dois reais de pães e dá cinco reais você vai saber que vai conseguir, mesmo ele não estando totalmente alfabetizado, mas na rede particular a gente percebe que eles não têm noção de compra. Até na cantina, eles levam o dinheiro, dizem o que querem, entregam o dinheiro e vão embora, sem ter a noção de que precisam de troco, o troco fica lá, eles não têm noção do quanto custa e a gente já começa a trabalhar isso com eles, é isso que nos leva a fazer isso, a maturidade na questão de comprar e vender e principalmente economizar”, diz. Gleide destaca que a conscientização é feita ao longo do ano envolvendo diversos temas e até datas comemorativas. “Ano passado, na páscoa a gente deu um cofrinho a eles para trabalharem justamente essa questão do economizar. Sobrou um valor, põe no cofrinho e no fim do ano nós abrimos os cofrinhos, contamos e mostramos para eles o quanto eles economizaram. A questão que abordamos é se eles têm um dinheiro e gastam tudo numa necessidade podem precisar e não ter onde encontrar, mas se guardarem uma parte vão ter”, ressalta. Alunos põem em prática conceitos de sala de aula Rafaela Leão Silva, de 9 anos, é aluna da professora Gleide. A menina não esconde a alegria em falar das aulas, já que se tornou uma poupadora. “Já consigo comprar na cantina sozinha. Na aula a tia explica a importância de juntar dinheiro para quando a gente precisar você ter aquele dinheiro guardado para usar. Depois disso eu comecei a guardar dinheiro e até já consegui comprar coisas com o dinheiro, eu comprei um brinquedo”, fala. Ela revela que além de aprender na escola, tem levado o conhecimento para casa. “Antes eu gastava tudo [risos] Meus pais acharam ótimo porque vou ajudar a guardar né? [risos]”. E também tem usado o que aprendeu no dia a dia. “Quando eu chego na cantina gosto de comprar bala, sanduíche e da sala já vou calculando o que vou comprar com o dinheiro que tenho”, diz. Marina Vitória Marques, também de 9 anos, cursa o 4º ano. Ela diz que aprendeu a juntar e também a ganhar dinheiro. “Na feira monetária eu trouxe bolinho de churros, bolinho de pizza e bolinho de queijo. Ganhei R$ 3,00 vendendo e coloquei no meu cofre. Juntei bastante tempo e comprei algumas coisas que queria, lanches, brinquedo”, resume. A professora diz que antes de iniciar as aulas os alunos costumavam ir à cantina e nem esperar o troco porque não tinham a noção do quanto cada produto valia. Agora, Numa ida simples à cantina as meninas conseguem colocar em prática os conceitos aprendidos em sala de aula.