Economia

Ex-bancária se reinventa como personal organizer após perder emprego

Karine Andrade, 39 anos, diz que ganha mais na nova profissão e que não volta para banco "nunca mais"; G1 conta histórias de negócios criados na crise em série de reportagens

Por G1 22/08/2017 10h04
Ex-bancária se reinventa como personal organizer após perder emprego
Reprodução - Foto: Assessoria

Quando arrumava os guarda-roupas das amigas aos fins de semana, na adolescência no interior de Minas Gerais, Karine Andrade, hoje com 39 anos, nem imaginava que faria dessa tarefa uma profissão anos mais tarde.

"Sempre gostei de deixar as coisas em ordem, minha mãe dizia que eu era a melhor para organizar as vasilhas dela. Mas eu nunca pensei que isso seria meu ganha pão", diz.

Karine se reinventou como personal organizer (ou organizadora de ambientes) em fevereiro, depois de ser demitida do banco HSBC em dezembro do ano passado. Ela foi bancária pelos últimos 14 anos.

"Quando fui demitida, fiquei um pouco desesperada. Bancário acha que só sabe ser bancário", afirma.

Na crise econômica, muitos brasileiros abriram um negócio por falta de trabalho.

Plano B

Karine não tem curso superior e procurou uma graduação a distância para tentar melhorar o currículo e aumentar suas chances de conseguir um emprego. Enquanto esperava uma vaga, uma amiga que estava de mudança pediu que ela organizasse sua casa.

"Eu disse: tá bom, eu vou arrumar, mas desta vez eu vou te cobrar, tudo bem?", conta.

A condição foi aceita e aquele acabou sendo o primeiro trabalho de Karine na área. Depois disso, fez cursos de especialização no assunto e já conseguiu outros 26 clientes – muitos por meio do Instagram.

"Existe um pouco de preconceito. Falaram para mim: você trabalhava no banco e agora vai ficar arrumando armário? E [o trabalho] não é só isso. É trazer conforto, é otimizar tempo e espaço para o cliente", defende. Negócio novo

Ela mora em São Bernardo do Campo e atende na região metropolitana de São Paulo. Começou cobrando R$ 50 pela hora de arrumação, hoje o preço já subiu para R$ 70.

O tempo gasto em cada serviço varia de acordo com o ambiente a ser organizado e também com o que o contratante quer.

Além de pôr as coisas no lugar, Karine vende "objetos organizadores" e dá dicas de decoração. Também negocia com parceiros preços para a troca de tecido de um sofá, a confecção de um papel de parede personalizado ou de um quadro novo, por exemplo.

"Se for um armário só, dependendo do que tem dentro, eu faço o trabalho em três ou cinco horas. Mas eu tenho clientes nos quais eu fico uma semana", diz.

Renda maior

No fim do mês, a organizadora diz que consegue uma renda maior do que a que recebia no último emprego, que girava em torno de R$ 7,5 mil considerando os benefícios.

Os R$ 4 mil investidos para começar a nova profissão (R$ 2 mil do curso e R$ 2 mil em produtos) também já retornaram.

"Muita gente prefere pagar parcelado, então o dinheiro está vindo picadinho, mas está vindo", brinca.

Karine ainda presta serviço como pessoa física, mas pretende abrir um MEI (Microempreendedor Individual) para facilitar a declaração do Imposto de Renda. No futuro, sonha em ter uma empresa de organização, com funcionários trabalhando para ela.

A ex-bancária continua cursando gestão financeira, mas agora com o objetivo de aprender a administrar melhor as contas do próprio negócio. Voltar para a rotina antiga? "Nunca mais", diz.

"Eu gostava do que eu fazia antes, mas hoje eu amo. Independente do retorno financeiro, é o que eu amo. Um banco até me ligou me convidando para ir trabalhar lá e eu não aceitei", conta.

"Antes eu tinha muito medo de não ter estabilidade. Mas quem tem estabilidade hoje?”, questiona.