Economia

Após denúncias contra Temer, mercado vê inflação mais alta e PIB menor

Previsão para a inflação subiu de 3,92% para 3,95% em 2017, interrompendo 11 semanas de queda. Para o PIB, estimativa caiu de alta de 0,50% para 0,49%

Por G1 29/05/2017 12h28
Após denúncias contra Temer, mercado vê inflação mais alta e PIB menor
Reprodução - Foto: Assessoria

O mercado financeiro começou a ajustar suas estimativas para a economia após as denúncias de executivos da JBS de que o presidente Michel Temer teria dado aval para a compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. As previsões de inflação para 2017 e para 2018 subiram e as estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) recuaram.

As expectativas dos analistas do mercado financeiro foram coletadas pelo Banco Central na semana passada e divulgadas nesta segunda-feira (29) por meio do relatório de mercado, também conhecido como Focus. Mais de cem instituições financeiras foram ouvidas.

Para o comportamento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2017 – a "inflação oficial" do país –, o mercado subiu sua previsão de 3,92% para 3,95%. Com isso, foi interrompida uma sequência de onze semanas de queda do indicador.

Mesmo assim, manteve-se a expectativa de que a inflação deste ano ficará abaixo da meta central para o ano, que é de 4,5%. A meta de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e deve ser perseguida pelo Banco Central, que, para alcançá-la, eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic).

A meta central de inflação não é atingida no Brasil desde 2009. À época, o país ainda sentia os efeitos da crise financeira internacional de forma mais intensa.

Pelo sistema vigente no Brasil, a meta de inflação é considerada formalmente cumprida quando o IPCA fica dentro do intervalo de tolerância também fixado pelo CMN. Para 2017, esse intervalo é de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima do centro da meta. Assim, o BC terá cumprido a meta se o IPCA terminar este ano entre 3% e 6%.

No ano passado, a inflação ficou acima da meta central, mas dentro do intervalo definido pelo CMN. Já em 2015, a meta foi descumprida pelo BC – naquele ano, a inflação superou a barreira dos 10%.

Já para 2018, a previsão do mercado financeiro para a inflação avançou de 4,34% para 4,40%. O índice segue abaixo da meta central (que também é de 4,5%) e do teto de 6% fixado para o período.

Produto Interno Bruto

Para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2017, o mercado financeiro reduziu sua estimativa de crescimento de 0,50% para 0,49%.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços feitos no país, independentemente da nacionalidade de quem os produz, e serve para medir o comportamento da economia brasileira.

Em 2016, o PIB brasileiro caiu pelo segundo ano seguido e confirmou a pior recessão da história do país, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para 2018, os economistas das instituições financeiras baixaram sua estimativa de expansão da economia estável de 2,50% para 2,48%.

Taxa de juros

O mercado financeiro manteve sua previsão para a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 8,5% ao ano no fechamento de 2017. Ou seja, os analistas continuam estimando novas reduções de juros neste ano. Atualmente, a Selic está em 11,25% ao ano.

Para o fechamento de 2018, a estimativa dos economistas dos bancos para a taxa Selic continuou em 8,5% ao ano. Com isso, estimaram que os juros ficarão estáveis no ano que vem.

A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para tentar conter pressões inflacionárias. A instituição tem de calibrar os juros para atingir índices pré-determinados pelo sistema de metas de inflação brasileiro.

As taxas mais altas tendem a reduzir o consumo e o crédito, o que pode contribuir para o controle dos preços. Entretanto, também prejudicam a economia e geram desemprego.

Câmbio, balança e investimentos

Na edição desta semana do relatório Focus, a projeção do mercado financeiro para a taxa de câmbio do dólar no fim de 2017 subiu de R$ 3,23 para R$ 3,25. Para o fechamento de 2018, a previsão dos economistas para a moeda norte-americana avançou de R$ 3,36 para R$ 3,37.

No dia seguinte à divulgação das denúncias envolvendo Temer (18), a moeda norte-americana disparou e fechou na maior alta em 18 anos, subindo 8,15% e cotado a R$ 3,38. Depois, a divisa entrou em um movimento de ajuste, mas ainda terminou a semana passada com alta acumulada de 0,25%. Na última sexta-feira (26), o dólar fechou a R$ 3,26.

A projeção do boletim Focus para o resultado da balança comercial (resultado do total de exportações menos as importações) em 2017 subiu de US$ 56 bilhões para US$ 56,2 bilhões de resultado positivo. Para o próximo ano, a estimativa dos especialistas do mercado para o superávit foi elevada de US$ 42,9 bilhões para US$ 43,1 bilhões.

A previsão do relatório para a entrada de investimentos estrangeiros diretos no Brasil, em 2017, recuou de US$ 79,5 bilhões para US$ 79 bilhões. Para 2018, a estimativa dos analistas permaneceu estável em US$ 78,75 bilhões.

Crise política

O presidente Michel Temer foi gravado por Joesley Batista, dono da JBS, supostamente dando aval para a compra o silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. Na conversa, o empresário ainda confessou que vinha usando juízes e um procurador da República para obter vantagens para suas empresas e Temer deu seu aval para seu nome fosse usado por Joesley para obter ajuda junto ao ministro da Fazenda.

A Procuradoria-Geral da República alega que Temer deu "anuência" para o pagamento de propina a Cunha e tentou impedir o avanço da Lava Jato. Ele será julgado no Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça.

Apesar de Temer já ter declarado que não irá renunciar, o escândalo colocou em cheque sua permanência no comando do país até o fim de 2018. O mercado teme que as reformas de que o país depende para sair da recessão, em especial a da Previdência, não sejam aprovadas caso a equipe econômica seja trocada.

Diante da crise política, a agência de classificação de risco Moody's alterou a perspectiva da nota de crédito do Brasil de estável para negativa na sexta-feira (26). No mesmo dia, a presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos, pediu demissão alegando motivos pessoais.

Essas incertezas estão refletidas na piora dos indicadores para inflação e PIB divulgados no Focus.