Economia

Apesar da crise, oferta de estágio apresenta sinais de recuperação

Números de 2016 indicam que programas de aprendizado seguem como principal alternativa para população mais jovem

Por Assessoria 20/03/2017 10h12
Apesar da crise, oferta de estágio apresenta sinais de recuperação
Reprodução - Foto: Assessoria

O Brasil já enfrenta seu terceiro ano de crise econômica e o principal efeito colateral desse período, o desemprego, continua preocupando o brasileiro. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), ao longo de 2016, o país perdeu mais de 1,3 milhão de vagas formais e a fila de trabalhadores desocupados já ultrapassa os 12 milhões. Diante deste cenário, o fantasma do desemprego afeta, sobretudo, a população mais jovem e, consequentemente, menos experiente. De acordo com o IBGE, somente no quarto trimestre de 2016 a taxa de desocupação entre os jovens de 18 a 24 anos atingiu os 25,9%, mais que o dobro da média nacional.

Como alternativa, essa parcela da população têm encontrado nos programas de aprendizado sua principal saída para driblar este momento turbulento. Com a vantagem de serem voltados especificamente para estudantes e não exigirem experiência, os programas de estágio registraram recorde de inscrições no último ano, confirmando a alta procura por essa modalidade. E embora também tenham sofrido com os efeitos desse período conturbado, esses postos, ao contrário dos celetistas, já demonstram sinais de recuperação, dando um panorama mais positivo para o jovem que precisa ingressar no mercado de trabalho.

Estágio: recorde de inscrições

Dados da Companhia de Estágios, assessoria especializada no recrutamento e seleção de estagiários, confirmam essa tendência: somente no último ano, a demanda por esse tipo de vaga cresceu 12%. De acordo com Tiago Mavichian, diretor da recrutadora, esse cenário vem acontecendo desde 2014, porém, teve uma forte escalada no último ano, demonstrando que os jovens estão recorrendo mais aos programas de aprendizado “Acompanhando o histórico vemos que o aumento no número de inscritos de 2015 para 2016 foi significativo, foram quase 21 mil inscritos a mais, totalizando cerca de 200 mil candidatos a vagas de estágio em todo o país. Isso pode ser explicado, principalmente, pela maior concorrência no mercado formal que, diante de tantos candidatos, se torna ainda mais restrito para quem não tem experiência”.

Para Mavichian, a principal dificuldade do jovem neste momento de recessão é encontrar uma oportunidade de ingressar no mercado, especialmente disputando com tantos profissionais que, muitas vezes, possuem anos de experiência em carteira. “Se o jovem concorre por uma vaga formal com um profissional mais velho e mais experiente terá menor chance de se destacar. Nesse sentido, as vagas de estágio são mais justas e, até mesmo, mais vantajosas, pois são voltadas exclusivamente para estudantes e permitem que eles conciliem trabalho e estudo, adquirindo experiência para ingressar no mercado efetivo no futuro. Portanto, esse aumento na procura por estágios pode ser encarado como um efeito colateral do mercado de vagas efetivas”.

Competitividade também cresce entre os jovens

Se a quantidade de inscritos aumentou, é natural que a concorrência também acompanhe essa tendência. Para se ter uma ideia, somente no segundo semestre de 2016 o número de candidatos a este tipo de vaga cresceu 16% em relação ao mesmo período do ano anterior. E mesmo que a modalidade seja uma alternativa promissora em tempos de desemprego, com mais jovens disputando por postos de aprendizado, os processos seletivos se tornaram, consequentemente, mais disputados. Em números, a recrutadora registrou um aumento de 37,5% na concorrência: a proporção de candidatos por vaga passou de 48 em 2015 para 66 no último ano. E mesmo que o mercado de estágio também tenha encolhido, a demanda por vagas segue num passo muito mais acelerado que o fechamento de postos, demonstrando que essa concorrência maior não é fruto somente da redução de vagas. “É fato que as empresas têm encontrado dificuldades para manter seus investimentos em mão de obra, porém, diferente do mercado convencional, as vagas de estágio já demonstram certa estabilidade, o que é uma ótima noticia para o jovem que busca colocação profissional”.

Números apontam a retomada de vagas

O mercado não está fácil para ninguém: tanto quem busca uma vaga de estágio quanto quem se candidata ao mercado formal enfrenta forte concorrência. Porém, diferente do trabalhador celetista, o jovem que opta pelos programas de aprendizado encontra uma vantagem que vai muito além da não exigência de experiência: o panorama está relativamente mais favorável no que diz respeito à oferta de vagas. De acordo com dados da Companhia de Estágios, apesar do encolhimento dos postos no último biênio, o mercado já dá sinais de melhora. “Se compararmos o segundo semestre de 2016 com o mesmo período do ano anterior, a perda de vagas foi 10% menor, o que pode ser encarado como uma retomada da oferta. Se considerarmos que houve uma retração significativa no primeiro semestre do último ano, esse resultado é ainda mais animador, pois indica uma recuperação significativamente rápida” – aponta Mavichian.

Para o diretor, esse cenário se torna ainda mais relevante nesse momento de crise econômica, já que o mercado celetista continua caindo. De acordo com dados do IBGE, somente no último segundo semestre de 2016, o Brasil perdeu 821 mil postos com carteira assinada. “Obviamente, com a retração do emprego formal e o aumento no número de desempregados, o mercado convencional se torna ainda mais acirrado para o jovem que não possui experiência. Assim, os programas de estágio são o melhor caminho para essa parcela da população. E com a retomada desse segmento, melhora também a perspectiva do estudante que está fora do mercado de trabalho e precisa encontrar uma oportunidade”.

Como se destacar?

Para Rafael Pinheiro, gestor de recursos humanos, é importante que o jovem tenha em mente que vai enfrentar processos seletivos mais exigentes “Nos programas de aprendizagem o candidato conta com a vantagem de não ter que apresentar qualquer tipo de experiência na área. Porém, em tempos de maior concorrência é ainda mais relevante que ele demonstre algum diferencial se quiser se destacar. Sendo assim é essencial que o jovem invista na qualificação e na valorização do currículo. E mesmo que o orçamento esteja apertado para tal é possível trabalhar suas habilidades interpessoais e, até mesmo, participar de trabalhos voluntários. Neste momento, mais do que nunca, as empresas levam esses pontos em consideração na hora de escolher um candidato”. – conclui.