Economia

Empresas brasileiras desafiam efeito Donald Trump e aumentam captações

Companhias já levantaram ao menos US$ 5,2 bilhões em emissões de bônus no exterior

Por Reuters 17/01/2017 15h59
Empresas brasileiras desafiam efeito Donald Trump e aumentam captações
Reprodução - Foto: Assessoria
A mais movimentada onda ofertas de bônus e ações em pelo menos seis anos no Brasil é o mais recente sinal de que investidores estão confiantes na capacidade do país em emergir da recessão e ser pouco atingido pelas turbulências dos mercados globais, afirmam executivos de bancos de investimento.

Na atual janela, que começou na semana passada e pode se prolongar por outras três, companhias brasileiras levantaram US$ 5,2 bilhões em emissões de bônus, de olho em sanar necessidades de financiamento antes da posse do presidente-eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, na próxima semana.

Condições favoráveis de mercado podem permitir que Vale, Gerdau e Braskem sigam os passos da Petrobras, que na semana passada levantou US$ 4 bilhões com a venda de bônus, e lancem emissões de dívida nos próximos dias, afirmaram cinco fontes com conhecimento dos planos.

Enquanto isso, pelo menos duas ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) avaliadas em cerca de R$ 2 bilhões também devem ser precificadas neste período. Além da oferta de ações da Movida, que deve ser precificada em 6 de fevereiro, a empresa de concessões de infraestrutura CCR está entre as empresas que estão se preparando para fazer ofertas de ações, disseram as fontes.

A vitória de Trump em novembro criou ondas de choque nos mercados emergentes, mas o governo brasileiro tem afirmado que esforços para promoção de reformas e contenção do gasto público ajudaram a minimizar parcialmente as preocupações relacionadas à promessa do presidente-eleito dos EUA de rever a política comercial do país.

O alongamento da atual janela de oportunidade e o levantamento de capital mais barato pelas companhias do Brasil dependem largamente da capacidade do governo federal em promover as reformas e reduzir a percepção de risco do país, disse Leandro Miranda de Araújo, diretor do banco de investimento Bradesco BBI.

"Em vista da grande liquidez internacional que está voltando a buscar boas oportunidades em Brasil, neste momento, na nossa percepção, o poder de barganha está mais concentrado nas mãos do emissor do que no investidor", afirmou Araújo.

Diferente do ano passado, quando a vitória de Trump pegou os mercados de surpresa, as companhias brasileiras estão seguindo conselhos de executivos de bancos de investimento e correndo para buscar capital novo o mais rápido possível. Conforme a agenda do presidente Michel Temer avança lentamente, as companhias estão conseguindo termos mais favoráveis para levantamento de recursos agora.

A atual onda de emissões de bônus e ações vai parar temporariamente por volta de meados de fevereiro, por causa da obrigação de que as empresas atualizem seus dados financeiros, mas ela deve ser retomada rapidamente, por volta do final de março ou início de abril, e se prolongar por mais tempo se as condições dos mercados se provarem favoráveis.

A decisão do Banco Central em acelerar o ritmo de corte de juros do país vai provavelmente aumentar o interesse sobre as futuras ofertas de ações brasileiras, disse Roderick Greenlees, diretor global do banco de investimento Itaú BBA. Os investidores estão se mostrando mais interessados em participar de grandes IPOs agora que nos anos anteriores, disse ele.

"O mercado recebeu muito bem o ajuste do ciclo de afrouxo monetário, e certamente isso vai favorecer muito as futuras emissões de ações" no Brasil, disse Greenlees.

Fluxo

As companhias citadas não comentaram o assunto. Outras operações sendo preparadas incluem os IPOs do laboratório Hermes Pardini e da rival da Movida, Unidas.

Greenless, do Itaú BBA, e Araújo, do Bradesco BBI, não comentaram operações específicas, mas afirmaram que os planos de levantamento de recursos vão se transformar em transações firmes assim conforme a economia emerge lentamente da recessão.

Bancos de investimento contam com aumento de emissões de dívida e de ofertas de ações para compensar a fraqueza em operações de fusões e aquisições no Brasil.

A natureza dos mercados de dívida corporativa, cujas operações são mais rápidas para serem executadas que acordos acionários, provavelmente significa que as companhias vão levantar mais recursos com bônus do que com vendas de ações na atual janela de oportunidade, disseram executivos de bancos de investimento.

Com investidores globais colocando dinheiro para trabalhar após uma longa estiagem que começou com a vitória de Trump em novembro, a carteira de operações parece positiva para os emissores conforme os fluxos de capital para os mercados emergentes seguem positivos, disse Araújo, do Bradesco BBI.

A Petrobras abriu a janela de oportunidade deste ano para as empresas brasileiras em 9 de janeiro, com a venda de US$ 4 bilhões em bônus globais. A demanda para a operação atingiu os US$ 20 bilhões, sinalizando como o apetite por papeis brasileiros cresceu nas últimas semanas.

A Fibria, maior produtora mundial de celulose de eucalipto, e a empresa de biocombustíveis Raízen Energia acessaram os mercados de dívida um dia depois.

Acessar recursos pode ajudar empresas a refinanciar dívida. No segundo semestre, quando o mercado tem uma expectativa de início de recuperação da economia brasileira, os recursos com as ofertas poderão pagar novos investimentos ou aquisições, disse Sandy Severino, diretor de mercados internacionais de dívida do BTG Pactual.

A próxima janela março-abril deve permitir que emissores de dívida corporativa e soberana acessem os mercados de dívida mais confortavelmente, disse Severino.