Economia
Promoções pré-Natal de celular, roupa e viagens aliviam bolso do brasileiro
Inflação em ritmo menor, queda do dólar e estoque alto favorecem consumidor
Diante da expectativa de mais um fim de ano magro, os setores de comércio e serviços já começam a antecipar as promoções. Faltando menos de dois meses para o Natal, supermercados, lojas e até agências de viagens apostam em ofertas para atrair clientes e diminuir os estoques.
Representantes de associações empresariais e economistas ouvidos apostam em um fim de ano menos pessimista, apesar de ainda considerarem que o Papai Noel continuará contando moedinhas.
Há exatamente um ano, o País vivia um momento de extremo pessimismo, com inflação acumulada de 8,52% de janeiro a outubro — maior patamar desde 1996. O dólar estava cotado na casa de R$ 3,90.
Hoje, a alta dos preços acumulada é de 6,11%. A moeda norte-americana teve sucessivas quedas e já está cerca de 20% mais barata do que em janeiro. Nesta semana, o dólar chegou a R$ 3,10 na terça-feira (25). Esses são dois fatores que contribuem para tornar alguns produtos e serviços mais baratos do que 2015.
Apesar disso, o Brasil ainda tem mais de 12 milhões de desempregados e famílias com alto índice de endividamento. Para muita gente, é cedo para falar em Natal de vacas gordas. Mas algumas oportunidades já estão aí para quem tiver como aproveitar.
Comércio
O Natal de 2015 foi um dos piores da história para o setor. Com dificuldades para vender durante todo o ano, os lojistas começaram a apostar nas promoções para não terminar o ano com estoque encalhado, diz o diretor de relações institucionais da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), Luis Augusto Ildefonso da Silva.
— Já começaram as promoções antes mesmo das vendas de Natal. Se você andar nos shoppings, vai ver as vitrines adesivadas, as promoções. Cada vez que se aproxima mais do Natal, como não está tendo o retorno de compra que o empresário gostaria, mais promoções serão colocadas. Ainda tem estoque represado de coleções antigas. Isso fez com que muitos comerciantes tivessem pouco ânimo de fazer grandes compras para o Natal. Eles compraram, mas em uma quantidade inferior.
Ele acrescenta que a queda do dólar não deverá ter efeito imediato nos produtos vendidos nos shoppings. Isso porque muitos importadores já trouxeram estoque para o Brasil quando a moeda norte-americana estava mais alta do que hoje.
Silva ainda aposta que as promoções deverão permanecer e se intensificar até o Natal.
— Eu acho que pode falar que vai ser um Natal muito mais de pequenas lembranças do que de grandes presentes. Mas é claro que a atratividade do preço contará. Quanto mais próximo do Natal você fizer as compras, mais aumenta a chance de promoções. O lojista começa a ficar pressionado sem as vendas e vai querer baixar o preço.
Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomercio-SP, lembra que a Black Friday, dia 25 de novembro, deverá intensificar as promoções até o Natal, especialmente de bens duráveis, como eletrônicos e eletrodomésticos.
— O lojista precisa da liquidez, fazer caixa com essa mercadoria, isso faz com que se incentive ações promocionais. Elas tendem a continuar em segmentos mais afetados, como de eletroeletrônicos, vestuário, calçados, brinquedos.
Em uma rápida busca neste fim de semana, a reportagem encontrou bons descontos em sites de compras. Na Fastshop, um iPhone 6S Plus de 128 GB estava sendo vendido a R$ 3.519,81 à vista. O preço dele normal é R$ 4.899: desconto de quase 30%. Também havia promoções de geladeiras, fogões, TVs e computadores.
No Ponto Frio, o site anuncia produtos com até 80% de desconto. Uma TV de R$ 1.692,79 estava anunciada por R$ 1.299, com a possibilidade de parcelar em até 10x sem juros. Entre as ofertas, também havia dezenas de celulares, com descontos em torno de 25%.
Aliás, a internet é uma ótima ferramenta para quem precisa economizar. Sites de comparação de preços como o Buscapé, Bondfaro e o Google Shopping ajudam a encontrar lojas onde o produto que você procura custa menos.
A Fecomercio-SP divulgou, na semana passada, que 37% dos empresários estão com estoque acima do adequado. A entidade espera vendas 2% maiores do que em 2015 no Natal deste ano.
Em um tom otimista, o presidente do Santander Brasil, Sérgio Rial, disse nesta semana que “podemos até ter um Natal sem produtos nas lojas”, em referência a uma alta inesperada no consumo das famílias.
Já o economista André Braz, do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) é mais cauteloso e fala em um “Natal fit”.
— Como a gente tem uma taxa de desemprego alta, ainda que os preços de alguns produtos não se diferenciem tanto do Natal passado, as famílias estão com menos renda. Então, isso aperta.
Supermercados
Não são todos, mas alguns itens natalinos poderão ser encontrados com preços atrativos, segundo a Apas (Associação Paulista dos Supermercados).
Levantamento feito pela associação mostra que o peru, por exemplo, é vendido hoje, em média, 11,89% mais barato do que na mesma época do ano passado. O panetone também já está nos supermercados. A dica é comprar logo, porque em dezembro os preços tendem a se elevar.
Neste fim de semana, por exemplo, a rede de supermercados Pão de Açúcar faz uma promoção em seu site dando desconto de 40% na compra de alguns vinhos. Um vinho chileno de R$ 34,90 saía por R$ 20,94.
O gerente de economia e pesquisa da Apas, Rodrigo Mariano, acrescenta que a indústria deverá participar de promoções junto ao varejo nesse fim de ano.
— A indústria e o varejo têm tido ao longo de 2016 parcerias para criar uma condição mais favorável ao consumidor. Aí entram aquelas promoções de “pague um leve dois”, embalagens mais econômicas. É provável que neste final de ano isso continue, porque tanto a indústria quanto o varejo querem vender.
Mariano acrescenta outro fator que pode contribuir para encontrar itens mais baratos nas prateleiras.
— Pode ter surpresa positiva em alguns itens, por exemplo, de produtos importados, porque ano passado a gente tinha um dólar maior.
André Braz, economista do Ibre/FGV, também fala do impacto da queda da moeda norte-americana.
— O dólar mais estável coloca menos volatilidade nesses preços, por exemplo, de alguns produtos importados comprados para o Natal, como bacalhau, azeite, vinho. São itens que subiram muito no ano passado.
A Apas prevê crescimento real de 1% das vendas de Natal. Para Mariano, esse número representa bastante, se considerado o cenário atual da economia brasileira, com perspectiva de fechar o ano com retração de mais de 3%. A avaliação da entidade é de que na crise os brasileiros deixam de lado a compra de bens duráveis e acabam gastando um pouco mais com alimentos e bebidas.
Viagens
Para aqueles que planejam viajar nesse fim de ano ou em janeiro, o momento é bom, segundo o diretor brasileiro do site de busca de passagens e hotéis Kayak, Kaio Philipe. Ele lembra que no fim do ano passado, estava, em média, 30% mais caro viajar para os Estados Unidos e para a Europa do que agora.
— Já está mais barato, se você pensar em termos de conversão. Alimentação e hospedagem ficam mais baratas com dólar no patamar de R$ 3,20.
Por outro lado, as passagens internacionais, que chegaram a ser vendidas a US$ 300 no auge da crise, hoje já não existem mais. Isso porque a fase de promoções de muitas companhias aéreas acabou.
— Antes, tinha muita companhia aérea fazendo voos constantes. Elas tinham capacidade maior. Neste ano, elas enxugaram um pouco a oferta. Isso gera um ajuste no preço.
Philipe acrescenta que os destinos favoritos de brasileiros são Miami, Nordeste (especialmente Trancoso, Barra Grande e Maraú, na Bahia) e Rio de Janeiro. Porém, escolher um lugar diferente pode significar economia, segundo ele.
— A gente tem hoje promoções para a África do Sul, para os Emirados Árabes, Ásia... hoje, as pessoas podem viajar para onde quiserem.
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