Economia

Alta do petróleo tem reduzido ganhos da Petrobras com gasolina

Com o anúncio de redução de preços, diferença se aproxima de 12%

Por G1 14/10/2016 20h52
Alta do petróleo tem reduzido ganhos da Petrobras com gasolina
Reprodução - Foto: Assessoria

A alta dos preços do petróleo no mercado global nas últimas semanas, com o barril se mantendo acima de US$ 50, reduziu os ganhos da Petrobras com a venda de gasolina e diesel no Brasil, mas a companhia ainda segue obtendo relativa vantagem ante o mercado externo, mesmo com a redução de preços anunciada nesta sexta-feira (14).

A estatal decidiu reduzir o preço do diesel em 2,7% e da gasolina em 3,2% na refinaria. Esses preços entrarão em vigor a partir da zero hora de sábado (15).

Levantamento do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) mostra que o chamado "prêmio" da Petrobras na venda da gasolina caiu de uma vantagem de  23,6% em setembro em relação aos preços de referência global para 15,2% no acumulado até o dia 11 de outubro.

Pelos cálculos do CBIE, com a redução de preços anunciada nesta sexta-feira, a diferença entre o preço da gasolina nas refinarias nacionais e os de referência global se aproxima de 12%.

Risco de reajuste no curto prazo

Para o sócio-diretor do CBIE, Adriano Pires, a Petrobras deveria ter esperado a reunião da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), marcada para novembro, uma vez que uma alta do preço do barril de petróleo para patamares mais próximos de US$ 60 podem obrigar a companhia a ter que anunciar um reajuste nos preços da gasolina e do diesel.

"A Petrobras não deveria reduzir os preços neste momento. De 3 semanas para cá o barril de tem subido muito, e a principal explicação é a expectativa em relação à reunião da Opep. Se houver um consenso sobre redução de produção e o barril chegar a US$ 55, dependendo do câmbio, a Petrobras pode ser obrigada a aumentar os preços da gasolina e do diesel", afirma o analista.

O barril de Brent (referência global) fechou a US$ 52,03 na véspera, acumulando alta  de 13% desde o anúncio de pré-acordo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para cortar a produção.

Impacto na inflação e taxa de juros

A redução dos preços da gasolina, ainda que pequena, pode ajudar a reforçar uma decisão pela redução da taxa de juros básicos da economia (Selic), na reunião do Banco Central marcada para a próxima quarta-feira. A taxa de juros está em 14,25% desde julho do ano passado – o maior patamar em dez anos.

"O mais importante não foi a redução, até por que isso vai impactar muito pouco na bomba.  De fato, uma redução na gasolina cria uma condição mais favorável para a reunião do Copom na semana que vem em termos de redução de juros", avalia Pires.

O presidente da Petrobrás, Pedro Parente, afirmou logo que assumiu o cargo, em junho, de que o  governo de Michel Temer não iria interferir na política de preços da gasolina. Ele disse, na ocasião, que a decisão seria "empresarial".

Ganhos com venda de diesel

Já são 13 meses seguidos de gasolina mais cara no Brasil do que no exterior. Em fevereiro, a diferença nos preços chegou a 49,1%, caindo para 10,6% em junho (mínima no ano). O levantamento do CBIE compara os preços cobrados nas refinarias da Petrobras com os dos combustíveis comprados no Golfo do México (EUA), incluindo custos de transporte.

Já o preço do óleo diesel nas refinarias nacionais está 28,3% acima do preço de referência internacional, segundo a parcial de outubro, e com a redução de preços no Brasil ficaria cerca de 25% acima, segundo o CBIE.  Em janeiro, a vantagem para a Petrobras chegou a 63,6%, caindo para 40,6% em setembro. No caso do diesel, já são 23 meses de vantagem para a Petrobras.

Nova política de preços

A Petrobras anunciou que fará reuniões mensais para avaliar os preços dos combustíveis e decidir se vai aumentar, reduzir ou manter os preços.

"Pode-se esperar um maior número de reajustes. A expectativa é que a gente possa fazer uma avaliação mais rápida dos nossos preços", disse o presidente da Petrobras, Pedro Parente.

O governo da ex-presidente, Dilma Rousseff, sofreu críticas no passado por segurar aumento do preço dos combustíveis em momentos de valorização do petróleo no exterior.  Segundo os críticos, a medida trouxe prejuízos à Petrobras de cerca de US$ 40 bilhões no acumulado desde 2010. O governo, porém, alegava que essa política evitava oscilações prejudiciais aos consumidores e auxiliava no controle da inflação.

A definição de uma nova política de preços baseada na paridade internacional é bem vista pelo mercado, principalmente num momento em que a empresa negocia a venda de diversos atividos, incluindo participação na BR Distribuidora.

"O mais importante é o anúncio de que a Petrobras não vai mais vender gasolina e diesel no Brasil abaixo da paridade internacional", destaca Pires. "O mercado gostou muito porque traz uma transparência e uma previsibilidade, ainda que seja algo subjetivo, uma vez que não tem uma fórmula".

Perto das 13h20, as ações preferenciais da Petrobras tinham alta de 1,52%, enquanto o Ibovespa avançava 0,98%.

O novo plano de negócios da Petrobras prevê arrecadar US$ 19,5 bilhões com a venda de ativos (os chamados desinvestimentos) e parcerias entre 2017 e 2018, além dos US$ 15,1 bilhões projetados em vendas de ativos entre 2015-2016.

Aumento das importações

Um dos fatores que estimularam a redução dos preços dos combustíveis pela Petrobras foi o aumento das importações por concorrentes da estatal, segundo dados da própria petroleira apresentados nesta sexta-feira.

Em setembro, as importações de diesel por terceiros atingiram 850,5 milhões de litros, ante 360,5 milhões em janeiro, antes de dispararem para mais de 700 milhões em junho, informa a Reuters.  No caso da gasolina, as importações de concorrentes da Petrobras, que não ocorriam em janeiro deste ano, atingiram 203,3 milhões de litros em setembro.