Cooperativas
Modelo de cooperativismo amadurece na última década em Alagoas, aponta OCB
Modelo de trabalho tem sido alternativa ao desemprego no Estado, nas áreas de tecnologia, saúde e agropecuária
Os 10 anos de existência da Cooperativa dos Jornalistas e Gráficos do Estado de Alagoas (Jorgraf) apontam para o amadurecimento do modelo de cooperativismo no Estado. É o que afirma a Organização das Cooperativas Brasileiras do Estado de Alagoas (OCB-AL). Atualmente são 97 cooperativas em atuação nas áreas de saúde, tecnologia, serviços, agropecuária , entre outros.
“Nestes dez anos, Alagoas passa por uma evolução nesse quesito, ou seja, as cooperativas têm amadurecido do ponto de vista gerencial e de governança. Esse amadurecimento faz com que as cooperativas se posicionem melhor.”, afirma Márcia Túlia, superintendente da OCB-AL.
Há dez anos, no surgimento da Jorgraf, Alagoas tinha 92 cooperativas vinculadas ao sistema OCB, em 2017 são cinco a mais, 97. De acordo com a entidade, o importante neste modelo de trabalho é o fortalecimento e não a quantidade, pois quanto menos cooperativas em um segmento, maiores são o engajamento e os resultados para os envolvidos.
“Um país que tem um modelo de cooperativismo evoluído é a Alemanha. Lá existem, por exemplo, três cooperativas de crédito, mas caminha para ter uma. Quanto menos cooperativas por categoria profissional, mais fortalecida fica a categoria. Em Alagoas, a cooperativa de costureiras de São Luiz do Quitunde se juntou com a cooperativa de costureiras do Alto da Madeira, isso é um processo de evolução.”, expõe a superintendente.
Em 2007, optar por uma cooperativa para produção gráfica e jornalística foi a alternativa ao desemprego. Dez anos depois este motivo continua sendo um dos propulsores do modelo de cooperativas no estado.
Para Márcia Túlia, o envolvimento dos trabalhadores no modelo é uma oportunidade de inclusão econômica.
“A cooperativa tem uma característica particular, porque não é um empreendedor abrindo um empreendimento, são vários trabalhadores resolvendo investir para promover a inclusão produtiva. Ela promove a inclusão produtiva, gera trabalho e renda.”, expõe.
Segundo o economista Emanuel Lucas de Barros, o cooperativismo serve como enfrentamento do mercado em tempos difíceis, principalmente em questões relativas ao desemprego e aumento do trabalho informal.
“A vantagem da cooperativa hoje no nosso Estado é uma forma de enfrentar o mercado ou até mesmo a falta de mercado que a agente tem. Nessa crise o número de trabalhadores informais cresce, em contrapartida há queda do emprego formal. Uma maneira de formalizar e o trabalhador continuar atuando é se inserir no mercado com ganhos econômicos e conseguir principalmente competir. Em tempos de crise, no geral, as menores empresas acabam quebrando e ocorre desemprego gerado por essas empresas, enquanto que as grandes continuam lucrando. Você se organizar em cooperativas é uma forma de resistir à lógica mercadológica.”, avalia.
Os ramos que mais crescem no Estado são cooperativas em saúde, agropecuária e trabalho. “Médico, enfermagem, instrumentadores, dentistas, pequenos produtores, jornalistas, costureiras, bibliotecários, temos de tudo um pouco”, acrescenta Túlia.
Agricultores apostam na união para escoamento
No mesmo ano de criação da Jorgraf, em 2007, produtores rurais de Flexeiras iniciaram cultivos nas terras do Assentamento São Sebastião. Até 2013 o trabalho era descentralizado o que dificultava a comercialização dos produtos. Foi então que a Cooperativa de Agropecuária de Alagoas (Coopaal) surgiu.
“Começamos a produção em 2007 e até 2013 não tinha como escoar nossos produtos. Formamos um grupo de agricultores e decidimos fundar a Coopaal para facilitar a venda”, explica o presidente da cooperativa Paulo Agra.
Atualmente, a Coopaal tem 30 cooperados e atua nos municípios de Flexeiras, onde surgiu, São Luiz do Quitunde, Joaquim Gomes e Messias. Além da produção agrícola de frutas, legumes, verduras e hortaliças, a cooperativa tem produzido mudas para o reflorestamento de nascentes da região
Outra iniciativa da Coopaal é a criação de uma linha de alimentos sem glúten e sem lactose, com as matérias-primas cultivadas nos assentamentos.
“Estamos trabalhando com a orientação de um agrônomo para a produção agroecológica de raízes, frutas e folhas. Estamos produzindo mudas nativas para o reflorestamento, já reflorestamos 6 nascentes e a margem do Rio Jetituba. Também temos o acompanhamento de uma nutricionista que está desenvolvendo uma linha de produtos diferenciados, sem glúten e sem lactose”, ressalta Paulo Agra.
A comercialização dos produtos é feita para os próprios moradores dos assentamentos e também para Flexeiras e Maceió. A venda, de acordo com o presidente, é para o setor público e privado. Além de produtos in natura, eles vendem produtos processados como bolos, pães, geleias e doces.
PRÓS E CONTRAS
Emanuel Lucas de Barros explica que as cooperativas têm certas vantagens em relação ao mercado formal. “Por não ter patrão, os trabalhadores podem decidir como organizar seu trabalho, os lucros ficam com os trabalhadores e eles dividem.”, pontua.
“No sistema de cooperativa as decisões são tomadas coletivamente. Apesar de ter diretoria, os trabalhadores tem poder de votar e serem votados, para tomar decisões e dirigir a cooperativa. Do ponto de vista do trabalhador isso é um ganho enorme porque além de ficar com os lucros da produção ou é reinvestido na própria cooperativa, não tem uma pessoa só lucrando ou um grupo de pessoas lucrando.”, afirma o economista.
Mas para toda vantagem, existe uma desvantagem, ressalta. Quando não aplicado corretamente, o sistema de cooperativismo pode ser uma ameaça aos trabalhadores.
“As desvantagens são a aplicação indevida do modelo, quando as decisões não são tomadas em conjunto. Tem cooperativa que se utiliza do sistema de trabalho para terceirização, porque nem pagam os fundos para os trabalhadores num momento de dificuldade nem asseguram os direitos da CLT. Nem tem os direitos sociais de um cooperado nem de um trabalhador formal.”, diz Barros.
Outro ponto que precisa ser destacado segundo o economista é a ausência de um ‘direito tradicional’, o Fundo de Garantia do Trabalhador Segurado (FGTS). Em cooperativas, as contribuições são feitas em reservas obrigatórias destinadas à manutenção do ordenamento da empresa.
“No mercado formal, os trabalhadores regidos pela Consolidação de Leis do Trabalho (CLT) têm o Fundo de Garantia do Trabalhador Segurado (FGTS). Em modelos de cooperativas de trabalho existem alguns fundos obrigatórios que precisam ser mantidos como Fundo de Reserva utilizado para o desenvolvimento da cooperativa e coberturas de perdas futuras. Sendo previsto no mínimo 10% das sobras liquidas; e o Fundo de Assistência Técnica Educacional e Social (Fates) mínimo de 5% das sobras liquidas, cuja finalidade é a prestação de assistência técnica, social e educacional aos cooperados, seus familiares e funcionários”, explica.
No cooperativismo há o compartilhamento de custos e lucros. O que é benéfico, segundo o economista, pois dilui gastos operacionais, mas pode ser danoso quando há prejuízos econômicos.
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