Ciência e Tecnologia

Projeto coordenado pela Ufal Penedo recebe investimento de R$ 2,5 milhões

Recursos do Banco do Nordeste serão usados para conservação e adaptação climática na caatinga do Baixo São Francisco

Por Manuela Soares / Ascom Ufal 01/12/2025 09h46
Projeto coordenado pela Ufal Penedo recebe investimento de R$ 2,5 milhões
Projeto Mato da Onça Resiliente: Estratégias Comunitárias para Conservação, Biodiversidade e Resistência Climática - Foto: Ascom Ufal

O projeto Mato da Onça Resiliente: Estratégias Comunitárias para Conservação, Biodiversidade e Resistência Climática, coordenado por docentes da Unidade Educacional da Ufal em Penedo, foi aprovado em 1º lugar no Edital Banco do Nordeste 01/2025, resultando num aporte de R$ 2,5 milhões do Fundo de Desenvolvimento Regional Sustentável (FDRS/BNB). Somado à contrapartida da Ufal com material humano e infraestrutura preexistente atinge o montante de R$ 3 milhões, um investimento sem precedentes na região.

A parceria da Universidade Federal de Alagoas com a Reserva Mato da Onça e a Sociedade Socioambiental Canoa de Tolda é um dos exemplos mais consistentes de articulação entre sociedade civil, academia e instituições parceiras dedicadas à preservação do Bioma Caatinga e do Baixo São Francisco.

Nos últimos anos, a Ufal, em especial por meio da Unidade Penedo e de pesquisas em recursos aquáticos, geoprocessamento e mudanças climáticas, tornou-se parceira direta da Reserva, contribuindo com diagnósticos ambientais, monitoramento, análises sobre o caos ecossistêmico do Baixo São Francisco.

A Reserva Mato da Onça, que e uma unidade de conservação da categoria Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) em Pão de Açúcar-AL, é reconhecida nacional e internacionalmente pela defesa dos ecossistemas ribeirinhos, pela salvaguarda de saberes tradicionais, pelo desenvolvimento de processos de restauro/conservação do bioma e pela resistência socioambiental frente à crescente degradação ecológica do rio.

A cooperação com a Ufal resultou em destaque internacional: a Reserva Mato da Onça foi indicada ao The Earthshot Prize, selecionada para atividades no Paris Peace Forum (2023) e reconhecida como referência na conservação do semiárido brasileiro e consolidando-se como um núcleo estratégico do Baixo São Francisco. Agora, com a aprovação dos recursos do BNB, essa parceria alcança um novo marco.

A iniciativa é coordenada pelo professor Jairo Lizandro Schmitti (Ufal/Penedo), com coordenação adjunta da professora Jarcilene Silva de Almeida (UFPE), e integra universidades, instituições federais de ensino, organizações comunitárias e especialistas em economia ecológica.

“O projeto reforça a Reserva Mato da Onça como um laboratório vivo de conservação e adaptação climática, articulando ciência, tecnologia, conservação e participação comunitária”, comemora o professor da Ufal.

O projeto tem como eixo central o envolvimento direto da comunidade Mato da Onça, que participa das ações de restauração, produção de mudas, manejo ambiental e educação popular. A metodologia é baseada na integração entre saberes científicos e tradicionais, fortalecendo a autonomia local e o protagonismo das famílias ribeirinhas na gestão do território.

“O projeto Mato da Onça Resiliente reafirma o compromisso da Ufal com o desenvolvimento sustentável, a economia ecológica e a valorização das comunidades tradicionais, consolidando a Reserva Mato da Onça como símbolo de resistência ambiental e social no Baixo São Francisco e a Ufal Penedo como referência regional em pesquisa aplicada e inovação socioambiental”, destacou Jairo.

Ações estruturantes


O projeto prevê aplicar os recursos em infraestrutura ecológica e tecnológica, com ampliação dos sistemas fotovoltaicos para autonomia energética sustentável e melhoria no sistema de captação de água, ampliando a oferta para ações de plantio e manutenção. Um sistema de comunicação digital também será instalado para uso comunitário, científico e de segurança territorial.

Fazem parte das etapas do projeto a construção e equipagem de laboratórios de pesquisa, educação ambiental e produção de bioinsumos, a implantação de um Centro de Monitoramento e Restauração da Caatinga, integrando tecnologia e conhecimento tradicional e a restauração ecológica e manejo de paisagens, além da ampliação da estrutura do Viveiro da Reserva, com capacidade de produção de cerca de 80 mil mudas por ciclo.

As áreas degradadas do local serão recuperadas com a recomposição de matas ciliares e enriquecimento florestal, e o cercamento de nascentes nas áreas da comunidade Conceição. Os recursos também serão destinados para a criação de um Cinturão Verde na comunidade com o propósito de diminui as temperaturas e conter tempestades de areia. A infraestrutura vai permitir, ainda, o fortalecimento das trilhas ecológicas, incluindo trilhas interpretativas de educação ambiental, e a implantação de um sistema de monitoramento comunitário climático e hidrológico.

Pesquisa aplicada, ciência cidadã e monitoramento ambiental


O projeto aposta em estudos de biodiversidade, regeneração da Caatinga e impactos das mudanças climáticas na paisagem ribeirinha. A formação de jovens, professores e moradores ribeirinhos vai contemplar as áreas de Tecnologias sociais e ambientais; Geoprocessamento participativo; Manejo sustentável da Caatinga; e Produção de bioinsumos e técnicas agroecológicas.

Haverá oportunidades de bolsas de pesquisa e extensão para estudantes de instituições como Ufal, Ifal e UFPE, além da realização de oficinas, mutirões e formação continuada em governança territorial.

Alguns estudos coordenados pelo projeto serão focados na valoração dos serviços ecossistêmicos da Reserva Mato da Onça e sua relação com as populações do entorno. Com isso, a equipe vai aplicar modelos de gestão comunitária, fortalecimento institucional e governança socioambiental, utilizando estratégias para garantir a manutenção financeira, ampliando a autonomia da Reserva e das comunidades associadas.

Equipe envolvida


Para garantir o sucesso do projeto, uma grande equipe está engajada na parceria. Pela Ufal, os professores Jairo Lizandro Schmitt, faz a coordenação geral; além da parte de botânica, biodiversidade e restauração; Igor Da Mata Oliveira é o responsável por recursos aquáticos, clima e articulação territorial; Camila Porto e Ana Paula Portela coordenam a área de Biotecnologia e desenvolvimento de novos produtos a partir da Caatinga. E demais docentes integrantes do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais (PPGCiamb/Ufal), vão contribuir para integrar pesquisa aplicada, formação de recursos humanos e inovação socioambiental no território.

A comunidade do Conceição, parceira da Canoa de Tolda e da Reserva Mato da Onça em projetos anteriores, será responsável pela auto-gestão dos subprojetos em seu território, como a implantação das trilhas de longo curso, cercamento de nascentes, plantios e no aprendizado de elaboração de produtos alimentícios com matrizes na flora da caatinga. José Manoel Alves vai coordenar das atividades, junto com a educadora ambiental do Assentamento Conceição, Cledja Deisiele Pereira Alves

A direção e coordenação executiva territorial será de responsabilidade de Carlos Eduardo Ribeiro Jr., representante do projeto Canoa de Tolda/Reserva Mato da Onça, e Daiane Fausto dos Santos na coordenação do Viveiro da Reserva e produção de mudas.

Também fazem parte da equipe do projeto Jarcilene Silva de Almeida (UFPE), Manuela Kaspary (Ifal), e os representantes da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (EcoEco) Peter Herman May, Valéria Gonçalves da Vinha e Deivdson Brito Gatto.

“Tivemos a felicidade de reunir um grupo de profissionais de altíssimo nível — pesquisadores, especialistas e lideranças comunitárias — que acreditaram na potência da Reserva Mato da Onça. Construímos uma proposta sólida, tecnicamente robusta e socialmente enraizada, e o resultado está aí: Um reconhecimento direto da força dessa parceria entre comunidade, universidade e instituições comprometidas com o território”, destacou o professor Igor Da Mata Oliveira.

Para o coordenador Jairo Schmitti, “o projeto une ciência, comunidade e conservação em um mesmo território, fortalecendo a resistência climática e a autonomia das populações do Baixo São Francisco”.