Ciência e Tecnologia
Laboratório desenvolve cisterna móvel para captação de água da chuva em áreas secas
Iniciativa do Laboratório Lapis surgiu a partir mapeamento das demandas por tecnologias sociais hídricas

O Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) desenvolveu uma tecnologia social hídrica, chamada “cisterna móvel”, adaptada às condições climáticas do Semiárido brasileiro. A inovação tecnológica, criada a partir de soluções baseadas na natureza (SbN) ou biomimética, partiu do estudo das estratégias funcionais de plantas xerófilas da Caatinga, para desenvolver um sistema de captação e armazenamento de água de chuva.
Como uma das principais características climáticas do Semiárido é a irregularidade das chuvas, no tempo e no espaço, a cisterna móvel permite a produtores da região captar água potável exatamente nos locais onde a chuva está ocorrendo. O sistema é acoplado a aplicativos de monitoramento das condições de tempo, em cada localidade da região.
A iniciativa do Laboratório Lapis surgiu a partir mapeamento das demandas por tecnologias sociais hídricas do Semiárido, publicado no Livro “Um século de secas” - https://www.letrasambientais.c.... A obra destaca, com base na análise da história de mais de 100 anos de políticas públicas na região, as tecnologias sociais mais adequadas para adaptação à seca. Nesse contexto, situa as recentes políticas de implantação das tecnologias sociais como um novo paradigma de políticas descentralizadas, com resultados importantes para reduzir a vulnerabilidade social da população.

As tecnologias sociais hídricas, de baixo custo e de fácil replicação, foram implantadas no Semiárido a partir de um modelo de governança com ampla participação da sociedade civil. Todavia, ainda são insuficientes para resolver o problema da falta de água na região, especialmente durante os longos períodos de seca.
“Essas tecnologias tiveram e têm um importante impacto para adaptação à seca na região, mas no Livro ‘Um século de secas’ a gente apontou suas limitações. Por isso, a cisterna móvel surge como uma nova proposta, para suprir as lacunas identificadas, com potencial para contribuir com mais avanços nas políticas”, explica Humberto Barbosa, meteorologista e fundador do Laboratório Lapis.
Tecnologia social inspirada em soluções da natureza
A pesquisa do Laboratório Lapis, para criação da nova tecnologia social, foi desenvolvida no âmbito do projeto Capes Emergências climáticas, com apoio da Capes, contando com a participação do bolsista de doutorado do projeto, o designer Wedscley Melo.

A elaboração conceitual do design da cisterna móvel foi baseada na aplicação de características fisiológicas de plantas xerófilas, cactáceas altamente adaptadas às secas extremas no Semiárido brasileiro.
Em uma primeira etapa, foram analisados e testados, em dois laboratórios, os padrões visuais de funcionamento de plantas como mandacaru, coroa de frade e palma forrageira, com foco em seus princípios funcionais de retenção e economia de água durante à seca. Em seguida, por analogia, as características dessas plantas foram aplicadas à invenção do presente sistema, seguindo pressupostos inovadores da biomimética.
A biomimética é uma ciência que permite adotar estruturas biológicas e funcionalidades da natureza, para replicação no desenvolvimento de novos produtos. Ela permite a invenção de soluções inovadoras e tecnologias sustentáveis, que atendam às urgentes necessidades da sociedade atual.
Em 2022, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou Relatório que incentiva o uso em escala de iniciativas relacionadas a SbN’s, visando contribuir para superar desafios sociais, econômicos e ambientais. Segundo o Relatório, as SbN’s são importantes para a agenda global de desenvolvimento sustentável. Elas têm potencial de colaborar com o enfrentamento, de forma eficaz, de desafios como mudança climática, insegurança alimentar e hídrica, impactos dos extremos climáticos, ameaças à saúde e ao bem-estar humano. Ao mesmo tempo, reduzem a degradação ambiental e a perda de biodiversidade.
Programa Cisternas promove acesso à água no Semiárido
Esta semana, Humberto destacou para o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) a importância das tecnologias sociais no atual contexto de mudança climática, secas-relâmpago e desertificação no Semiárido brasileiro.

Em matéria publicada pela Agência Gov (https://agenciagov.ebc.com.br/...) ele explicou como as mudanças climáticas estão intensificando secas, desertificação e perda de biodiversidade na região. Seca-relâmpago é uma nova tipologia de seca de curta duração e de forte intensidade, associada às altas temperaturas. Essa modalidade de seca se tornou mais comum com a mudança climática. Os primeiros estudos sobre secas-relâmpago no Brasil e na América Latina foram desenvolvidos recentemente pelo Laboratório Lapis.
Mais informações sobre a pesquisa neste link - https://www.letrasambientais.o....
O meteorologista observou que as áreas secas e degradadas do Semiárido brasileiro estão recebendo maior radiação de calor e tendo menos formação de nuvens. Como resultado, há diminuição das chuvas e aumento da aridez em diversos municípios.
“A aridez no Brasil tem aumentado nas últimas duas décadas, representando uma transição de regiões semiáridas para áridas, que abrangem 8% do território nos últimos 20 anos. Além disso, observou-se uma transição de regiões subúmidas secas (como as do Agreste) para semiáridas, correspondendo a um aumento de 55% nesse mesmo período”, revelou Humberto Barbosa.
A alteração nas condições climáticas torna a disponibilidade de água menos previsível e intensifica os episódios de seca, uma realidade ainda enfrentada por milhares de brasileiros. Daí a importância das políticas para implantação de tecnologias sociais adaptadas, como as cisternas, em áreas rurais remotas do Semiárido.
“É muito interessante observar que as cisternas exercem um impacto socioeconômico significativo no Semiárido brasileiro. Além de reduzir a insegurança hídrica, a água armazenada proporciona também certa autonomia à população local”, destacou Humberto.
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