Ciência e Tecnologia

Especialista em proteção costeira já tinha alertado sobre o agravamento do avanço da maré na Barra Nova e em outras praias alagoanas

Para o engenheiro, algumas praias alagoanas precisam urgente de obras de contenção

Por Claudio Bulgarelli 29/05/2025 00h19 - Atualizado em 29/05/2025 00h40
Especialista em proteção costeira já tinha alertado sobre o agravamento do avanço da maré na Barra Nova e em outras praias alagoanas
Trecho recuperado na Barra Nova, Marechal Deodoro - Foto: Cortesia / Ocean Protections

Nos últimos anos as fortes ondas de maré, que derrubaram uma barreira de contenção instalada pelo município, nas proximidades do galeto Barra Nova, serviram de aviso de que o povoado continuaria sofrendo com o aumento do nível da água, entrando em residências — de casas simples a mansões — além de estabelecimentos comerciais, levando piscinas e parte das estruturas. O avanço da maré no povoado de Barra Nova, em Marechal Deodoro, é antigo, e todos os anos, especialmente no período da quadra chuvosa, volta a causar transtornos a moradores e comerciantes da região.
O alerta sobre o agravamento da situação na Barra Nova e em outras praias alagoanas, como o Pontal do Peba, já tinha sido feito pelo engenheiro Marco Lyra, especialista em recuperação de praias, CEO da Ocean Protections, empresa que atua com tecnologia própria na proteção costeira. E no próprio povoado, na Ilha de Santa Rita, já tem um caso inédito de recuperação de praia no Brasil, que virou referência mundial em proteção costeira. Não somente por devolver a Prainha para a população do povoado, bem como pela formação da berma, a vegetação de restinga, formação do campo de dunas e a restauração da fauna e da flora no local. A obra, que foi construída a 18 anos pelo engenheiro, usando o dissipador de energia conhecido como bagwall, recuperou mais de 700 metros de terra.

Mas é preciso voltar ao passado para entender. A famosa antiga Prainha, na Barra Nova, bastante conhecida pelos maceioenses, foi sempre um local de muitos bares, atividades náuticas e gastronomia regional. Mas muita coisa mudou desde 2009, quando moradores e comerciantes decidiram intervir, numa região que já vinha apresentando instabilidade desde as obras de construção do condomínio Laguna. Naquele ano uma grande enchente elevou o nível da lagoa e alagou boa parte do povoado. A população, então, resolveu abrir um "canal" para que a água escoasse para o mar. Mas, o que eles não sabiam é que esta atitude provocaria danos maiores no futuro e aceleraria o fim de uma das belezas naturais do Litoral Sul.
Dois anos antes, em 2007, o início de uma obra chamaria a atenção, já que tinha o objetivo de conter o avanço do mar e da lagoa na região. Assim, a recuperação natural da Prainha, na Barra Nova, se tornou tema de estudo, porque apenas 9 anos depois da intervenção com o dissipador de energia bagwall ocorreu uma engorda natural, e com a berma formada, ocorreu a formação de campo de dunas e ressurgimento da vegetação de restinga.
Onde antes era um istmo, hoje existe uma laguna, que é um caso inédito de recuperação de praia no Brasil. O engenheiro civil Marco Lyra, CEO da Ocean Protections, que instalou o dissipador, comemorou o sucesso da obra, uma das mais longevas de Alagoas. O projeto para conter o forte avanço do mar, tem chamado a atenção, porque no registro atual, é possível verificar que a obra continua funcionando perfeitamente após 18 anos da sua construção no local que tanto sofria com a erosão costeira.
O monitoramento de pós-obra do dissipador continua sendo feito, inclusive, por equipe multidisciplinar. ``O que aconteceu e ainda acontece, é que a formação da berma, a vegetação de restinga, formação do campo de dunas e a restauração da fauna e da flora no local, é evidente, já que a obra de proteção costeira devolveu à prainha para a população da Barra Nova´´, afirmou o engenheiro.
Para Marco Lyra, o avanço da infraestrutura urbana tem agravado o problema. ``O avanço da ocupação associado à elevação do nível do mar em decorrência do aquecimento global tem agravado o cenário. Além de ameaçar belas paisagens brasileiras, a erosão coloca em risco atividades econômicas vinculadas ao turismo nessas praias, a chamada economia do mar´´.
Para o engenheiro, algumas praias alagoanas precisam urgente de obras de contenção, como na divisa de Maragogi com São José da Coroa Grande, no litoral Norte; a praia do Francês, em Marechal Deodoro, e, sobretudo, a praia do Pontal do Peba, em Piaçabuçu.