Ciência e Tecnologia
Estudo sobre complexos de platina ganha destaque em mídia especializada na Alemanha
Fruto do Programa de Iniciação Científica, artigo cita avanços na Química Computacional para o desenvolvimento de novos fármacos e é capa da revista Wiley-VCH
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) comemora uma importante conquista no campo da ciência e da tecnologia. A bolsista do Programa de Iniciação Científica (Pibic), Gabriela Monteiro, e seu orientador, professor Júlio Silva, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), conquistaram a capa da renomada revista científica alemã Wiley-VCH, com artigo sobre complexos de platina.
O estudo intitulado ‘Explorando o conceito de efeito trans em complexos de Platina (Pt II) através da teoria quântica dos átomos em moléculas e perspectivas do modelo de sobreposição de ligação química’, foi publicado em maio deste ano. Ele se destaca pela investigação de fenômenos atômico-moleculares cruciais para o desenvolvimento de novos fármacos.
Os Complexos de Platina(II) são de grande interesse em pesquisas químicas, devido ao potencial anticancerígeno que alguns possuem. “O composto conhecido como cis-platina, por exemplo, é um fármaco bastante utilizado no tratamento de alguns tipos de câncer, tais como de testículo, ovário, bexiga e pulmão”, cita ele. Entretanto, seu uso é limitado devido uma série de efeitos colaterais desenvolvidos nos pacientes.
“A elaboração de melhores fármacos demandam tempo para analisar detalhadamente sobre como esses compostos alcançam os alvos biológicos de interesse. O problema é que a nossa matriz biológica é bastante complexa, uma vez que é composta por proteínas, DNA, RNA, etc. Além disso, toda essa matriz está imersa em água. A água desempenha um papel fundamental nas transformações químicas que compostos inorgânicos, tais como os compostos de platina (II), sofrem até atingirem os alvos biológicos de interesse”, frisou o orientador.
Ao longo dos anos, estudos têm sido desenvolvidos na busca por novas combinações à base de platina que apresentem ação efetiva contra o câncer, porém com melhorias na redução dos efeitos colaterais. Assim, o objetivo, com o trabalho, foi tentar buscar um entendimento ao nível molecular sobre como reações químicas elementares em compostos de Pt (II) ocorrem. Visando uma forma de propor parâmetros que auxiliem na racionalização dessas reações.
Publicação internacional e os seus desafios
Alcançar uma publicação internacional, segundo o orientador é extremamente difícil, por ‘competir’ com os grandes centros internacionais de pesquisa. O professor explica que, apesar dos avanços, as condições de infraestrutura em boa parte dos locais onde se faz pesquisa no Brasil ainda está distante dos principais grupos estrangeiros.
“Por isso, quando se tem um trabalho produzido inteiramente por pesquisadores e estudantes brasileiros, e ainda desenvolvido em instituições da região Nordeste, ser escolhido para ser capa de uma revista internacional importante da área de simulação computacional, é motivo para celebrar. Comemorar que, apesar das dificuldades, nós temos o principal: a capacidade de pensar. Ficamos felizes também porque acreditamos que isso mostra que, se tivermos melhores condições, poderemos fazer ainda mais e melhor”, mencionou ele.
Para a aluna do curso de Química, a sensação de conquistar esse destaque é surreal, inclusive por ser o seu primeiro artigo. Esta conquista expôs para Gabriela Monteiro o quão importante e valorizado o projeto se encontra, e que, apesar de todos os desafios visualizados, é possível realizar ciência no Brasil e ser reconhecido por revistas internacionais. “Isso me motiva a querer contribuir mais, a aprender e realizar mais!”, cita a discente.
Um desafio presente foi a questão da infraestrutura, citada por Julio Silva como um ponto fundamental para se desenvolver estudos de qualidade. Para realizar cálculos computacionais como os desenvolvidos neste trabalho, são necessários computadores de alta capacidade de processamento e armazenamento. Estas máquinas ficam ligadas permanentemente e precisam estar alocadas em salas estruturadas com bons aparelhos de ar-condicionado. Neste quesito o orientador ressalta um agradecimento à Fapeal pelo suporte que vem dando ao grupo de estudos.
Mesmo assim, ele frisa que ainda é preciso uma continuidade de investimentos, pois a proposta foi concluída de forma eficiente graças também a colaboração de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e do apoio do Centro Nacional de Processamento de Alto Desempenho em São Paulo (Cenapad-SP), instituições e profissionais responsáveis por acelerar o processo.
Pibic e perspectivas futuras
O estudioso menciona igualmente que o Programa de Iniciação Cientifica desenvolvido no Brasil é algo único no mundo. Nele, o estudante, durante o nível médio e de graduação, é inserido em atividades para o desenvolvimento de um projeto científico “real” segundo o químico, sendo preciso ensinar na maioria das vezes uma nova linguagem e um novo jeito de pensar para o aluno, que recebe as informações de maneira inédita.
Júlio Silva explica que é quase um consenso que os estudantes que passam pelo programa chegam à pós-graduação muito mais preparados, e em sua opinião, a chamada é uma das políticas públicas de maior sucesso no Brasil.
“O Pibic foi de suma importância no meu crescimento e desenvolvimento, abrindo portas para a participação de simpósios, congressos, entre outras atividades. Além do ato de fazer ciência, ele nos forma como pessoas, por estarmos diariamente em contato com outros pesquisadores, trocando conhecimentos e realizando um trabalho com responsabilidades, entre outros pontos”, completa a aluna.
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