Ciência e Tecnologia
Atuação da Expedição Científica atrai pesquisadores estrangeiros
Grupo visitou a Ufal para conhecer de perto os trabalhos realizados no Baixo São Francisco e propor parceria em nova linha de pesquisa
Com uma bacia hidrográfica de 630.000 km², o Rio São Francisco é o maior rio inteiramente brasileiro e, por isso, é conhecido como o Rio da Integração Nacional, sendo imprescindível para a sobrevivência de milhares de famílias. Mas, ao mesmo tempo que a água parece estar à disposição, na prática a governança da água é um sistema complexo, que envolve o poder público, setores privados e a sociedade civil. E é justamente essa relação entre os diferentes atores hídricos do Rio São Francisco que despertou o interesse de um grupo de pesquisadores internacionais.
O grupo, composto por dois pesquisadores franceses, um inglês e uma brasileira, visitou a Universidade Federal de Alagoas (Ufal), na última sexta-feira (3), para conhecer e trocar experiências com cientistas da Expedição Científica do Baixo São Francisco que já desenvolvem pesquisas na região há seis anos e podem ser importantes parceiros nessa nova investigação mais direcionada à socioeconomia local. Acompanhe como foi a visita abaixo.
“A ideia de conversar e saber mais sobre as Expedições surgiu, principalmente, depois que a gente viu várias matérias, tanto na universidade, como nas próprias redes sociais. E o nosso trabalho lá no estado do Ceará, com o projeto Sertões, é justamente em relação à governança da água, só que tem um formato diferente, porque lá nós não temos rios perenes, como existem por aqui. Mas, quando a transposição começou a ser mais efetivada, a gente começou a buscar compreender melhor a questão, principalmente a partir do Baixo São Francisco. Então, a gente viu que já tinha um trabalho duradouro nessa região e que passava por diversos municípios ribeirinhos, e é justamente o que a gente precisava: entender melhor, unir o conhecimento, compartilhar experiências e concretizar parcerias”, explica Laudemira Rebelo, doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) e bolsista do projeto.
A reunião para apresentação do projeto foi realizada na Sala dos Conselhos Superiores da Ufal e contou com a presença dos professores da Ufal, Emerson Soares, José Vieira e Fernando Coelho; além do analista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em Alagoas, Neison Freire. Na oportunidade, Luke Whaley, doutor em Filosofia pelo Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD - G’EAU/França) e coordenador do projeto; Verônica Mitroi, doutora em Sociologia Ambiental pelo Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad - G’EAU/França); Laudemira Rebelo; e Gabriel Cosson, mestre em Agronomia (Cirad/França) esclareceram dúvidas e registraram de que forma a parceria pode ser mais efetiva para a Ufal.
O objetivo geral do projeto é facilitar o desenvolvimento de modos mais equitativos de governança e de uso da água na bacia do São Francisco. Para isso, os pesquisadores querem explorar como os sistemas de governança emergem e evoluem em situações complexas; examinar as lutas por autoridade e legitimidade, bem como as consequências em termos de justiça e inequalidades socioambientais; e coproduzir ferramentas e estratégias destinadas a uma governança mais sustentável.
Verônica Mitroi trabalha as temáticas de gestão da água e as relações da sociedade com a água e já está no Brasil há dois anos, trabalhando na Funceme. Para ela, foi muito importante conhecer pessoalmente e conversar com parte da equipe da Expedição, para conhecer melhor o programa e tentar articular a nova pesquisa que é mais voltada aos aspectos sociais e gestão da água.
“Estamos muito interessados na forma como o Rio São Francisco é governado, porque a governança da água toma decisões importantes sobre quem tem acesso à água e quem não tem. E o fato de a água ser tão importante para a vida das pessoas é realmente a chave para entender essas dinâmicas de governança da água, para entender como os meios de subsistência atuam na bacia do São Francisco”, esclarece Luke Whaley, coordenador do projeto.
Para Emerson Soares e José Vieira, coordenadores da Expedição, o momento foi enriquecedor, porque permitiu uma maior atuação e contribuição à ciência no Velho Chico. “Além da contribuição com as pesquisas científicas, apresentamos a proposta de intercâmbio dos nossos estudantes de pós-graduação, porque isso vai fazer um grande diferencial na formação desses alunos e, certamente, influenciará diretamente no desenvolvimento profissional deles”, enfatiza José Vieira, professor do Campus Arapiraca da Ufal.
“Mostramos a nossa experiência e resultados obtidos no Baixo São Francisco, mas também fornecemos referências de instituições parceiras nas outras regiões da bacia, ou seja, no submédio, no médio e no alto São Francisco. Esse projeto é grandioso e complexo, então estamos aqui para unir forças e experiências. Estamos à disposição!”, complementa Soares.
“Esse momento foi muito bom pra gente entender até onde a Expedição chegou, o que está fazendo hoje e o que gostaria de acoplar, como, por exemplo, o olhar social de outros pesquisadores, que têm metodologias diferentes, já percorreram vários lugares do mundo e podem trazer novas contribuições”, avalia Laudemira Rebelo.
Sobre o G’EAU
Por meio de metodologias participativas e territoriais, a Unidade Mista de Pesquisa Gestão da Água, Atores e Territórios (G’EAU) é uma instituição interdisciplinar que reúne as áreas de Hidrologia, Geografia, Ecologia, Ciência Política, Sociologia, Antropologia, dentre outras, em torno de um objeto de pesquisa comum: a água.
Atualmente, a G-EAU agrega 100 pesquisadores e técnicos titulares, 25 pesquisadores associados ou visitantes internacionais e, nos últimos cinco anos, já contribuiu com a formação de 50 alunos de doutorado. É uma Unidade com parceiros internacionais e financiamento de instituições como a Agência Nacional de Pesquisas de França (ANR), Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) etc.
Para saber mais sobre a atuação da Expedição ao longo seus últimos anos, visite a página oficial do programa.
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