Cidades
Promotor reflete sobre a existência de Deus em artigo publicado no jornal Tribuna Independente
A edição deste fim de semana do jornal Tribuna Independente traz um artigo de Kleber Valadares Coelho Júnior, promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de Alagoas (MP/AL) sobre a existência de Deus.
Em “Cartas de Paris VI – A essência divina”, Kleber Valadares se baseia na obra “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, para embasar seu raciocínio. Para ele, Deus está Deus se encontra nos extremos, nos infinitos cosmológicos e nas ínfimas vertentes, como descreveu o filósofo Pascal, no século XVII.
Ele relaciona a ideia da obra “Os Miseráveis” de que Deus está em todas as coisas com a música “Amor de Índio”, de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, que fala que “tudo que move é sagrado”. Também com a música Gita, de Raul Seixas e Paulo Coelho, que diz “eu sou as coisas da vida”, “eu sou a mosca da sopa”, “eu sou a cor do luar”, “o início”, “o fim”, “e o meio” ao referir-se a existência divina.
Kleber Valadares cita ainda Mahatma Gandhi para concluir sua reflexão e reforça ideia do divino em todos os seres.
Veja abaixo o artigo na íntegra
Cartas de Paris VI – A essência divina
Deus, de acordo com o livro Os Miseráveis, de Victor Hugo, tudo permeia. E esse conceito está presente nas diversas religiões. O divino se encontra por trás de cada mecânica da vida.
Nesse sentido, a obra em questão faz comparações entre os elementos microscópicos e aqueles macroscópicos para mostrar a interação entre eles, sem realizar uma gradação de importância, pois todos têm igual relevância.
Não se pode, portanto, pensar no divino que habita num inseto sem considerar também a divindade no cosmos.
Quanto mais o ser humano estuda e conhece o meio em que vive, mais profundidade alcança nos detalhamentos e desenhos de Deus, fugindo à compreensão do sujeito quanto àquilo que está além e aquém da sua amplitude mental.
Não é possível, nesse viés, dizer que maior, mais belo e mais complexo é o elemento das grandes dimensões e alturas ou das diminutas. Para o filósofo Pascal, no século XVII, Deus se encontra nos extremos, nos infinitos cosmológicos e nas ínfimas vertentes. Essas visões nos permitem a percepção transcendental, inclusive no nosso exterior e no eu interior.
A obra Os Miseráveis pode ser correlacionada com tantas outras que vislumbram o conceito do Senhor nessa abrangência total e, a esse respeito, oportuno relembrar da canção de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, denominada “Amor de Índio”, segundo a qual “tudo que move é sagrado”.
Tal música presta homenagem, a título e ilustração, igualmente à abelha que faz o mel e à estrela que cai do céu portanto realizando um paralelo de imagens do pequeno e do apoteótico.
Também em cotejo ao livro de Victor Hugo, pode-se fazer referência à literatura hindu (o Bhagavad Gita) que dispõe que Deus está em todas as coisas, no sol, na lua, na figueira e no tubarão, por exemplo.
Essa compreensão foi materializada por Raul Seixas e Paulo Coelho, na música “Gita”, que, ao dispor sobre Deus, estatui “eu sou as coisas da vida”, “eu sou a mosca da sopa”, “eu sou a cor do luar”, “o início”, “o fi m”, “e o meio”.
Nessa linha de pensamento, em Os Miseráveis expõe-se que: “Com efeito, nada é pequeno; quem quer que tenha experimentado as profundas penetrações da natureza sabe disso (…) quem contempla cai em êxtases sem fi m por causa de todas essas decomposições de forças que levam à unidade. Tudo trabalha para tudo (…) o menor ser vivo tem importância; o pequeno é grande, o grande é pequeno; tudo está em equilíbrio na necessidade (…) entre os seres e as coisas há relações prodigiosas; nesse inesgotável conjunto, desde o sol até o pulgão, nada deve ser desprezado; temos necessidade uns dos outros (…) onde termina o telescópio, começa o microscópio. Qual dos dois tem maior alcance? Escolham”.
Essa perspectiva abraça as tradições religiosas como um todo, demonstra pontos de intercessão e explicita a onipresença do divino, enxergando Deus em todas as coisas, visão esta que nos permite transcender aos conflitos, desentendimentos e polarizações que infelizmente, amiúde, rodeiam a compreensão humana do que é a divindade.
Andando pelas ruas do Rio de Janeiro, deparei-me com uma estátua de Mahatma Gandhi, o célebre pacifi sta hindu, junto à qual se encontrava uma placa que trazia a bela ideia do divino em todos os seres: “Minha religião não é o credo da clausura. Comporta em meu seio a mais humilde das criaturas de Deus”.
Que possamos ter, no nosso dia a dia, essa reflexão como seta diretora de nossas ações e pensamentos.
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