Cidades

Cientista defende realocação nos Flexais

Marcos Hartwig participou da redação do Relatório Independente sobre situação do afundamento do solo na região atingida

Por Ricardo Rodrigues - colaborador / Tribuna Independente 06/11/2025 08h08
Cientista defende realocação nos Flexais
Geólogo confirma a subsidência do solo nos Flexais por conta da mineração predatória da Braskem, onde moradores correm risco - Foto: Edilson Omena / Arquivo

O geólogo e professor universitário Marcos Eduardo Hartwig, do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), participou da redação do Relatório Independente, encomendado pela Defesa Civil de Maceió, sobre a situação do afundamento do solo na região dos Flexais.

O relatório - elaborado e assinado por cientistas do GFZ Helmholtz Centre Potsdam, Leibniz University Hannover, University of Leipzig (todos da Alemanha), INPE e UFES (Brasil) – confirma a subsidência do solo nos Flexais de Baixo e de Cima, por conta da mineração predatória da Braskem.

Marcos Eduardo respondeu, recentemente, a um questionário que lhe foi enviado pelo Ministério Público Federal (MPF) sobre o estudo, e não titubeou: para ele a população dos Flexais precisa ser rapidamente realocada – em decorrência dos riscos que enfrenta hoje.

Veja, a seguir, a pergunta feita pelo MPF e a resposta do cientista:

Existe atualmente área que necessita ser evacuada e que não está contemplada no Mapa de Linha de Ações Prioritárias elaborado pela Defesa Civil de Maceió? Qual a área? Caso positivo, quais os critérios técnicos que fundamentam esta recomendação?

A comunidade dos Flexais (bairro Bebedouro) é uma área naturalmente vulnerável a alguns processos geológicos (Figura 5). A parte baixa está sujeita a alagamentos, pois é uma área plana, construída sobre solo mole depósitos flúvio-lagunares), e próxima ao nível do espelho d’água da Lagoa Mundaú. A parte alta, adjacente, é uma região declivosa, sustentada pelos depósitos semi-consolidados da Formação Barreiras, sujeita a processos erosivos e a movimentos de massa gravitacional.

Este território registra deslocamentos verticais e, principalmente, horizontais. Esta área não foi incluída no Mapa de Linhas de Ações Prioritárias.

Assim, o movimento decorrente da convergência das minas de dissolução de sal intensifica a vulnerabilidade desta área. Além disso, edifícios com padrão mais simples são mais sensíveis a movimentos do solo e podem sofrer danos significativos, mesmo com pequenas movimentações, como apontado no relatório.
Portanto, recomenda-se que a área dos Flexais seja incluída na Zona 00 do Mapa de Linhas de Ações Prioritárias.

Museu dos bairros atingidos

Projeto de Lei de autoria da vereadora Teca Nelma (PT) foi aprovado na Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara Municipal de Maceió e segue em tramitação com destino ao plenário, onde será apreciado pelos vereadores.

Na justificativa do projeto, a vereadora petista diz que o propósito é reunir, no acervo do museu, objetos, fotografias, filmes, documentos e outros elementos que representem a trajetória das comunidades afetadas pelo crime ambiental provocado pela Braskem.

De acordo com o relatório do vereador Samyr Malta (Podemos), o museu terá como foco especial preservar memória dos bairros do Pinheiro, Bebedouro, Bom Parto e Mutange.

“A criação de um museu com esse caráter memorial é medida de profundo alcance social e simbólico, pois reconhece o sofrimento e a história das famílias que perderam suas moradias e referências territoriais, além de contribuir para a valorização da memória urbana e para a educação histórica das futuras gerações”, disse o relator.

Uma vez autorizado pelo plenário, os parlamentares deverão indicar a fonte de recursos para a construção do museu, que, antes de ser inaugurado, abrirá as portas a contribuição popular de materiais que remetam as histórias dos bairros afetados, memória, cultura e arquitetura dos locais destruídos pela Braskem.