Cidades
Cartas de Paris VI – Para quê praia? Promotor alerta para poluição e baixa balneabilidade nas praias de Maceió
Em um domingo ensolarado, o promotor de Justiça de Delmiro Gouveia, Frederico Alves Monteiro Pereira, foi à orla de Maceió e se deparou com um cenário preocupante: apenas duas praias estavam próprias para banho, segundo o aplicativo do Instituto do Meio Ambiente (IMA).
“Comemorei como se tivesse ganhado na loteria. Apenas duas bolinhas verdes em meio a tantas vermelhas. É triste perceber que precisamos de sorte para encontrar um ponto limpo no litoral”, afirmou o promotor.
Segundo ele, a paisagem encantadora contrasta com a realidade da sujeira, resíduos plásticos e mau cheiro, mesmo nas praias consideradas próprias. “Logo identifiquei sacolas, copos, restos de plástico e até uma gilete enferrujada. A água exalava um cheiro forte e me fez evitar o mergulho”, relatou.
Frederico destacou que a situação não é apenas estética, mas uma questão de saúde pública e responsabilidade compartilhada. “Não é normal, e nem pode ser, ter que consultar um aplicativo para medir o nível de bactérias antes de um banho de mar. Precisamos de realidade, não de filtros de Instagram”, enfatizou.
O promotor citou exemplos internacionais de boas práticas, como redes de contenção na drenagem urbana na Austrália e ações coletivas de limpeza no Japão, reforçando que ação e conscientização são essenciais. “Cuidar para cuidar — esse é o recado. O mar de Maceió é nosso patrimônio e não pode continuar sendo tratado como depósito de lixo”, concluiu.
Veja artigo na íntegra abaixo:
Cartas de Paris VI – Para quê praia?
Domingo ensolarado. Mar caribenho. A orla de Maceió é algo que cenicamente nos encanta. Colírio para os olhos; cores que acolhem a alma. Acordei entusiasmado; peguei o meu celular e já abri o aplicativo do IMA para averiguar a balneabilidade das praias locais, algo tão natural quanto o café que me aguardava quentinho na caneca. Olhei as bolinhas verdes do mapa. Sim! Aquelas que indicam as praias aptas para o banho (naquele dia, apenas duas dentro da área em que eu estava disposto a andar); comemorei como se tivesse ganhado na loteria. Duas esmeraldinhas naquele vasto caminho de rubis (bolinhas vermelhas que indicariam as praias impróprias para banho).
Estava contrariado, precisava de um banho de sal e, mais do que isto, queria provar pra mim mesmo e para o povo de Aracaju, que além de beleza cênica, nós tínhamos praias de verdade (O Paraíso das Águas Mornas – quem se lembra desse bordão turístico? Enchia-me de orgulho sempre que eu o via espalhado pelos aeroportos do país).
Pra quem não sabe, aquela tinha sido a semana em que tinha rolado uma “treta” no Instagram entre Aracaju e Maceió. Posts pra lá de engraçados rivalizavam a orla das duas capitais; uma feia e limpa e a outra bonita, mas suja! Com o meu espírito competitivo, naquele domingo, pretendia enviar uma selfie no mar azul esverdeado para os meus amigos sergipanos. Pelo menos para eles, iria provar que Maceió era bonitinha e não era ordinária! Escolhi a dedo a localização no mapa, óculos escuros, camisa com filtro UV, Sundown (bom ou ruim, vou sempre com ele porque lembra a minha infância) e celular a postos para aquela foto instagramável.
Chegando lá, faixa de areia lotada de gente, vida pulsante. Logo identifico, em meio ao sargaço, uma pequena gilete enferrujada, copos (aqui e acolá) e sacolas plásticas, restos de plástico, muitos...mas muito mesmo. Crio coragem, entro no mar (sim, no ponto em que foi indicado como verdinho); na água, mais plástico, mais lixo, muito lixo. Talvez para uma foto, até daria, sabe? Posicionando a câmera de forma correta, ficaria show! Mas a água também exalava um cheiro forte. Evitei mergulhar para não molhar a boca. O selfie eu até tirei (ficou lindo, com exceção do indivíduo fotografado) mas não a enviei para os amigos de Aracaju. Não queria ganhar a disputa com base numa imagem.
Veio-me, então, na memória os japoneses e a cultura do coletivismo (aquela cena, na Copa do Mundo, em que eles recolhiam o lixo após os jogos); o pessoal do COLETIVO PRAIA LIMPA (este é nosso e devemos apoiá-lo!) e de uma notícia, também vista naquela semana de que, na Austrália, estavam colocando redes no sistema de drenagem pluvial para evitar que resíduos sólidos chegassem até o oceano. Pensei no aplicativo de balneabilidade e no cafezinho. E, literalmente, cheguei à conclusão de que, diferente do café, não é normal e nem podemos aceitar como normal ter que consultar religiosamente um programa que mede o nível de bactérias fecais antes de dar um mergulho sem o risco de adoecermos. Mais do que fotos, precisamos de realidade; afinal de contas, o direito social ao lazer e o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado não são promessas constitucionais inconsequentes. São direitos que devem ser levados a sério pelo Poder Público e pela sociedade. Ação e Conscientização como duas faces de uma mesma moeda. Finalizo com um sonoro CUIDA! (...e digo mais: cuida para cuidar!).
Frederico Alves Monteiro Pereira
Promotor de Justiça de Delmiro Gouveia
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