Cidades

Ufal colabora com estudos sobre óbitos de equinos por contaminação de ração

Estudos dos casos em Alagoas nortearam o Ministério da Agricultura e Pecuária para divulgação de resultados preliminares da investigação

Por Diana Monteiro / Ascom Ufal 18/09/2025 19h53
Ufal colabora com estudos sobre óbitos de equinos por contaminação de ração
Resultados preliminares apontaram contaminação incompatível com a segurança animal - Foto: Ascom Ufal

Os óbitos de equinos por suspeita de contaminação de ração, ocorridos no mês de junho deste ano, chamaram a atenção do país. Segundo dados oficiais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), foram registradas mortes de mais de 400 animais em todo o Brasil. Já em Alagoas, por relatos não oficiais, foram mais de 20. Para a investigação dos casos, o professor Danillo de Souza Pimentel, do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), foi convidado pelo Mapa para atuar como perito técnico na investigação de óbitos de equinos em Alagoas por suspeita de intoxicação exógena de ração contaminada.

“Fui convidado pelo ministério sob indicação do referenciado professor Pierre Barnabé, também do curso de Medicina Veterinária da Ufal e coordenador do Grupo de Pesquisa em Equídeos e Saúde Integrativa [Grupequi]. A minha atuação consistiu na realização de exames de necropsia, coleta de amostras biológicas e emissão de parecer técnico [laudo], contribuindo de forma direta para o esclarecimento das causas das mortes dos animais”, afirma Danillo, que é doutor em medicina veterinária, professor da área de morfologia animal e, atualmente, está na coordenação do curso.

O pesquisador destacou a importância da instituição alagoana, por meio da formação acadêmica e profissional qualificada em conexão com a ciência e com as demandas da sociedade. Ele afirmou que a atuação da equipe do curso de Medicina Veterinária da Ufal foi fundamental para subsidiar a investigação oficial do Mapa, apoiar a tomada de decisões sanitárias e fortalecer as medidas de vigilância epidemiológica no estado de Alagoas.

O Brasil possui um dos maiores plantéis de equinos do mundo, movimentando bilhões de reais anualmente em atividades ligadas ao esporte, lazer, turismo, trabalho rural e agronegócio. Além de gerar empregos diretos e indiretos, a cadeia produtiva do cavalo contribui para a preservação de tradições culturais, como as vaquejadas, cavalgadas e provas esportivas. Em Alagoas, o espaço que ocupa não é diferente: o cavalo está fortemente presente nas práticas agropecuárias e na identidade cultural do estado, principalmente, por meio da vaquejada e das cavalgadas, que mobilizam comunidades e fomentam o turismo rural e esportivo.

Além disso, criatórios de raças adaptadas, como o Quarto de Milha, o Mangalarga Marchador e o Campolina, fortalecem a economia local e ampliam as oportunidades de pesquisa, ensino e extensão no Campus de Engenharias e Ciências Agrárias (Ceca), que tem cursos de graduação e de pós nas respectivas áreas.

Investigação

Denominado de Perícia Técnico Sanitária em Medicina Veterinária, segundo o professor Danilo, termo usado em documentos oficiais quando o profissional atua como perito convidado para investigação de óbitos, o estudo realizado pela Ufal contemplou os exames necroscópicos e coleta de materiais biológicos, como sangue, urina, fezes, órgãos e tecidos. As coletas foram realizadas em uma área aberta, na propriedade em que os animais viviam.

Os materiais biológicos coletados foram enviados para os médicos veterinários do próprio Mapa, para encaminhamento para os laboratórios parceiros que executarão as análises toxicológicas e histopatológicas. Os resultados ainda estão em processamento, mas alguns dados parciais foram divulgados. “A nossa parte já está concluída e foi exatamente o nosso trabalho que norteou o Mapa para divulgar resultados da investigação já publicados nos canais do citado ministério. Foi fundamental para o auxílio das linhas de investigação e direcionamento das causas da contaminação”, afirmou Danillo ao destacar o protagonismo da Ufal nos primeiros resultados divulgados.

Além dos professores Danillo Pimentel e Pierre Barnabé, participaram do trabalho as alunas do 5º ano do curso, Letícia Gabrielle Mauricio Farias e Maria Eduarda Carsten Durigon.

Resultados

Conforme divulgação do Ministério da Agricultura e Pecuária, os resultados preliminares apontaram contaminação incompatível com a segurança animal. O pesquisador Danillo diz que os resultados iniciais dos Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária, em amostras de rações coletadas em locais de alojamento de animais que adoeceram e morreram, e também do estabelecimento da fabricante, demonstraram a presença de alcaloides pirrolizidínicos, notadamente monocrotalina, em concentrações que a literatura técnico-científica disponível indica como sendo capaz de causar doença e morte em equídeos e outras espécies.

Foi também divulgado pelo ministério que a associação entre as evidências laboratoriais obtidas nas amostras de ração consumidas pelos animais acometidos, os achados clínico-patológicos, necroscópicos e epidemiológicos compatíveis com intoxicação por alcaloides pirrolidínicos, permite estabelecer nexo causal presumido entre o consumo da ração, os casos de doença e morte observados. Segundo Danillo, esses achados têm relevância suficiente para explicar os óbitos registrados.

Impactos e orientações

Diante da grave situação que levou à morte de equinos no país, cujo processo de investigação é dotado de etapas para se chegar à conclusão quanto à contaminação, o professor Danillo enfatiza os impactos causados. “Além do impacto emocional e ético decorrente da morte de animais, esses casos geram múltiplos prejuízos sociais, ambientais e econômicos”, disse.

E argumenta: “A violência contra animais reflete e, muitas vezes, relaciona-se com a violência contra pessoas, especialmente, em ambientes onde a negligência e crueldade não são coibidas. A falta de ação ou fiscalização adequada fragiliza a confiança da população nas instituições responsáveis pela proteção”.

O pesquisador ainda aponta o impacto ambiental: “Animais, especialmente espécies domésticas ou de produção, desempenham papéis importantes nos ecossistemas urbanos e rurais. A morte de animais pode desequilibrar cadeias alimentares, afetar serviços ecossistêmicos e contribuir para problemas de saúde pública”. As perdas econômicas são outro impacto, em casos de animais de produção, como equinos, bovinos ou aves, cuja morte ou o adoecimento por negligência ou contaminação resulta em prejuízos financeiros diretos aos proprietários, além de comprometer atividades econômicas ligadas à agricultura, turismo e lazer.

“As consequências legais e institucionais devido a investigações sem condução adequada ou ausência de perícia especializada dificultam a responsabilização de infratores, reduzindo o efeito preventivo das leis de proteção animal e aumentando a impunidade”, afirmou. Por último, citou como impacto a dimensão ética e educacional: “Cada morte de animal evidencia a urgência de educação e conscientização sobre direitos dos animais e práticas de cuidado responsável, impactando diretamente a cultura de respeito e proteção dentro da sociedade”.

Ao destacar que o ocorrido reforça a necessidade de rigoroso controle de qualidade na produção de rações, bem como da integração entre órgãos oficiais, instituições de pesquisa e profissionais da Medicina Veterinária para prevenir novos casos e proteger a saúde dos equinos, o professor Danillo diz: “Diante dos achados obtidos até o momento, a orientação mais prudente é que sejam adotadas medidas preventivas imediatas pelos criadores e proprietários de equinos: suspender o fornecimento do lote de ração suspeito até que se tenha a confirmação laboratorial da contaminação, coletar e encaminhar amostras da ração para análise toxicológica, garantindo rastreabilidade do produto, monitorar clinicamente os animais que receberam o alimento, observando sinais de apatia, alterações hepáticas ou neurológicas, comunicar oficialmente ao Mapa e aos órgãos de defesa agropecuária locais sobre qualquer suspeita de mortalidade associada à alimentação”, detalhou.

E acrescenta: “É preciso reforçar boas práticas de aquisição de insumos, priorizando fornecedores com controle de qualidade e procedência garantida. No plano coletivo, recomendo que se intensifiquem as ações de fiscalização e vigilância agropecuária, com ênfase na cadeia produtiva de rações comerciais, evitando a presença de sementes tóxicas, como as de monocrotalária, e resíduos de compostos químicos potencialmente nocivos”.

Medicina Veterinária e inovação

De acordo com o professor Danillo Pimentel, desde 2024, vem crescendo em Maceió a importância e reconhecimento da atuação pericial veterinária. As ações de peritos técnicos na investigação de mortes de animais em situações suspeitas de maus-tratos na capital alagoana têm se consolidado como um marco pioneiro e fundamental.

“A parceria firmada com a Delegacia de Crimes Ambientais e de Proteção Animal de Maceió representa não apenas um avanço institucional, mas também uma demonstração clara da necessidade da inserção efetiva do médico veterinário nos processos investigativos de casos suspeitos de morte de animais por maus-tratos. Esse trabalho conjunto tem garantido maior rigor técnico-científico às investigações, fortalecendo a produção de provas periciais, assegurando a correta apuração dos fatos e ampliando a efetividade da proteção animal em nosso estado”, afirmou o pesquisador.

O docente ainda destaca que a Universidade Federal de Alagoas desempenha papel central nesse processo, ao integrar o conhecimento acadêmico à prática pericial, evidenciando o potencial da Medicina Veterinária no campo da justiça e da defesa dos direitos dos animais. Assim, diz o professor, reafirma-se o caráter inovador dessa atuação. “Que não apenas estabelece um precedente em Alagoas, mas também contribui para a construção de uma rede sólida de proteção, justiça e valorização da vida animal, consolidando a relevância social, científica e institucional da Medicina Forense no estado”, finaliza Danillo Pimentel.