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Própolis Vermelha coloca Alagoas no mapa mundial da ciência, saúde e economia

Por Ana Paula Omena - repórter / Fotos: Sandro Lima 04/09/2025 14h36
Própolis Vermelha coloca Alagoas no mapa mundial da ciência, saúde e economia
“A própolis vermelha de Alagoas é um tesouro da biodiversidade”, diz Mário Agra. - Foto: Sandro Lima

O primeiro Encontro de Própolis, Mel e Derivados (Enpromel) reúne a partir desta quinta-feira (04) até o próximo sábado (06) pesquisadores, produtores e estudantes no Sítio Paraíso, em Fernão Velho, Maceió, para debater a expansão de um dos produtos mais valiosos da biodiversidade alagoana.

“Estamos dando o pontapé inicial em um debate que coloca Alagoas no centro do mundo quando o assunto é própolis. Temos a única Indicação Geográfica (IG) do Brasil e uma das poucas do planeta. Esse evento é histórico”, declarou Mário Agra, presidente da União dos Produtores de Própolis Vermelha de Alagoas (Uniprópolis).


O Enpromel discute desde os avanços científicos da própolis vermelha — reconhecida por seu alto potencial medicinal e cosmético — até as oportunidades de mercado internacional. O quilo do produto pode chegar a R$ 1.000,00, e pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Univerisdade Federal de Alagoas (Ufal) e outras instituições de ensino apresentam estudos que comprovam sua eficácia no tratamento de doenças como insuficiência renal, chikungunya, câncer de boca e até complicações pós-Covid.

“Não é promessa de cura milagrosa. É ciência. Temos resultados concretos de que a própolis vermelha melhora a qualidade de vida e reduz inflamações graves”, destacou o professor pós-doutor Ticiano Nascimento, da Ufal, que pesquisa o produto há quase 20 anos.


Além do aspecto medicinal, o encontro reforça o impacto econômico da cadeia produtiva do mel e da própolis. “É geração de renda para pequenos agricultores, é inclusão social. A apicultura pode deixar de ser complemento e se tornar a renda principal de muitas famílias”, frisou Mário Agra.

O evento também chama atenção para a urgência da preservação ambiental. “A própolis vermelha nasce dos manguezais alagoanos. Se não cuidarmos da nossa lagoa e da Mata Atlântica, perderemos esse tesouro”, alertou o produtor e ambientalista Regis Cavalcante.

Estudantes da Ufal e do Instituto Federal (Ifal) também participam, vendo de perto o potencial da apicultura como ciência, negócio e ferramenta de preservação. “É um momento enriquecedor. A gente aprende tecnologia, mas também valoriza o saber tradicional dos produtores”, disse João Pedro, aluno de agroecologia do Ifal.

A estudante Emanuela Vitória enfatizou que vai participar todos os dias, já que é uma oportunidade única de aprendizado. “Estou no décimo período de Zootecnia da Ufal e desenvolvo um projeto na área, então vim buscar mais informações. Já percebi que os palestrantes têm uma didática muito boa e um conhecimento muito amplo, além de estarem dispostos a capacitar a gente para aplicar esse conteúdo na prática”, afirmou.


Primeiro espumante de hidromel Spritz do Brasil será lançado em breve


A nutricionista Mariana Calheiros, que também atua na indústria de alimentos derivados do mel, ministrou uma palestra sobre gastronomia com os produtos do mel. Segundo ela, a aposta é unir tradição e inovação. “Hoje apresentamos produtos como mel, vinagre e, claro, o nosso hidromel, mas trouxemos também uma novidade exclusiva: vamos lançar o primeiro espumante de hidromel Spritz do Brasil, produzido aqui em Fernão Velho. Queremos brindar a primavera, o Réveillon e, principalmente, a saúde das pessoas com algo inovador, sustentável e único.”



Mariana revelou ainda outro projeto pioneiro: “Além do espumante, estamos preparando o primeiro chope artesanal com própolis vermelha de Alagoas. É um passo enorme para mostrar ao mundo o valor da nossa biodiversidade”.

A ideia de criar o espumante nasceu de sua paixão pela bebida: “Sou apreciadora de espumantes e pensei: já temos o hidromel, um fermentado natural de mel, por que não torná-lo frisante? No laboratório, trabalhamos junto a engenheiros e chegamos a um resultado surpreendente: uma bebida leve, aromática, com notas florais, bolhas delicadas e sem ser enjoativa. Um produto pioneiro que só Alagoas poderia oferecer.”

Com previsão de lançamento ainda este mês, a novidade promete chegar ao mercado ainda neste verão. “O alagoano vai poder brindar com um produto inovador e genuinamente nosso. Mais uma vez, Alagoas dá um passo no pioneirismo, mostrando que é possível unir ciência, tradição, gastronomia e sustentabilidade”, destacou Mariana.

A pesquisadora Giulia Scussel, de Florianópolis em Santa Catarina, fez questão de frisar que sua presença em Maceió, diz respeito a importância do momento em que a apicultura alagoana vive. “Meu objetivo é mostrar como foi feita, em Santa Catarina, a Indicação Geográfica (IG) do mel de melato da Bracatinga, um produto único que só existe na região Sul do Brasil”, explicou.

Segundo ela, o diferencial está no processo natural. “O mel de melato é diferente do mel floral. Ele não vem do néctar das flores, mas da secreção açucarada liberada por um inseto sugador, a cochonilha, que vive no tronco da árvore Bracatinga. As abelhas coletam essa secreção e transformam em um mel especial, raro e de grande valor comercial.”



Giulia destacou que o aprendizado pode ser aplicado também em Alagoas. “A Indicação Geográfica é fundamental para a própolis vermelha alagoana. Quando existe o selo, o produto ganha credibilidade, rastreabilidade e reconhecimento no mercado. O produtor passa a ter mais segurança, o consumidor confia na qualidade e o produto atinge maior valorização.”

Ela lembrou ainda de exemplos consagrados no mundo. “A Champagne, na França, só pode receber esse nome porque tem uma proteção legal baseada na origem. É o mesmo raciocínio que aplicamos ao mel de melato da Bracatinga e que pode fortalecer ainda mais a própolis vermelha de Alagoas.”


Uso indiscriminado de agrotóxicos
Abelhas e peixes: as primeiras vítimas da pulverização


O ambientalista e ex-secretário de Meio Ambiente de Maceió, Ricardo Ramalho, ressaltou durante o evento que sua participação terá caráter de debate. “Nem vou fazer propriamente uma palestra, vou participar de um debate que deve acontecer no sábado. Mas já adianto: todo dia recebemos denúncias sobre pulverização de venenos, só que hoje é muito mais difícil comprovar. Antes eram aviões, agora são drones, que trabalham à noite. Isso torna quase impossível identificar os responsáveis”, afirmou.

Ele lembrou ainda do impacto direto sobre a fauna. “As abelhas e os peixes são sempre usados como parâmetro nos testes de venenos para registro, porque são extremamente frágeis. Quando há pulverização, essas espécies estão entre as primeiras a sofrer”, alertou.


Ramalho destacou também a campanha permanente contra o uso indiscriminado de agrotóxicos. “Nossa bandeira é clara: ‘Nem drone, nem avião. Agroecologia é a solução. Basta de chuva de veneno’. É uma luta nacional, da qual Alagoas também faz parte, por meio do Instituto Irapiranga e de outras instituições ambientais”, reforçou.

Enxamosa

No campo da inovação, o empresário Pedro Augusto, da tradicional cervejaria Mingula, apresentou a novidade criada em parceria com a empresa Fernão Velho: a cerveja Enxamosa, feita à base de própolis vermelha. “A ideia surgiu da vontade de unir dois produtos genuinamente alagoanos: a cerveja artesanal e a própolis vermelha da Fernão Velho. Aceitamos o desafio e criamos uma bebida única, que em breve estará disponível para todos”, explicou.

Pedro destacou a característica refrescante da novidade. “A própolis vermelha tem um sabor peculiar, mas na cerveja ela não aparece de forma intensa. O que ela traz é uma refrescância ainda maior, o que combina perfeitamente com o verão e com o paladar dos turistas”, disse.


Segundo ele, a opção foi desenvolver uma cerveja leve, acessível ao público. “Optamos por uma base Pilsen, porque é a que o consumidor já está habituado. Assim, conseguimos apresentar a própolis vermelha em um produto inovador, mas que mantém a identidade de uma boa cerveja artesanal.”