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Museu Théo Brandão celebra 50 anos de dedicação à cultura popular nordestina

Nome desse equipamento cultural da Ufal é uma homenagem ao doador do acervo de arte popular, professor, médico e folclorista Theotônio Brandão Vilela

Por Ascom Ufal 19/08/2025 01h13 - Atualizado em 19/08/2025 01h56
Museu Théo Brandão celebra 50 anos de dedicação à cultura popular nordestina
Museu Théo Brandão - Foto: Assessoria

O Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore (MTB) celebra, neste mês de agosto, cinco décadas de dedicação à cultura popular nordestina, com ênfase especial na riqueza artística e simbólica de Alagoas. Inaugurado em 20 de agosto de 1975 como equipamento cultural da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o MTB nasceu a partir da doação da valiosa coleção do professor, médico e folclorista Theotônio Brandão Vilela, que dá nome à instituição.

Inicialmente instalado no bairro do Pontal da Barra, em Maceió, o Museu Théo Brandão consolidou-se como um dos mais importantes espaços de preservação da arte e da cultura popular do Nordeste brasileiro. Seu acervo é composto por peças que narram histórias, tradições e expressões simbólicas do povo nordestino, com um olhar afetuoso e profundo sobre as manifestações culturais alagoanas.

Entre cerâmicas, brinquedos populares, peças de fibra vegetal, máscaras e indumentárias de folguedos, o museu abriga obras de grandes mestres da arte popular, como Fernando Rodrigues, Dona Irinéia e Sil de Capela, entre outros nomes de referência na cultura nordestina. Além da coleção tridimensional, o espaço detém um dos maiores e mais valiosos acervos documentais, fotográficos e sonoros do país dedicados à cultura popular, com registros que atravessam gerações e preservam a memória oral, visual e simbólica das tradições nordestinas e brasileiras.

Hoje situado na Avenida da Paz, em um belíssimo casarão de arquitetura eclética do início do século XIX — que pertenceu à tradicional família Machado —, o MTB passou por um processo completo de restauro no início dos anos 2000. Sua reabertura, em junho de 2002, devolveu à cidade um espaço cultural renovado, com intervenções que respeitaram e preservaram as características arquitetônicas originais.

(Imagem: Ascom Ufal)

Atualmente, o prédio está temporariamente fechado devido a problemas estruturais, tanto internos quanto em seu entorno, agravados pela falta de investimentos regulares em manutenção e valorização do espaço. “Apesar da situação atual, o museu segue vivo, presente na cena cultural e acadêmica, e encontra renovadas esperanças em um projeto submetido ao Edital do PAC Seleções, com a proposta de criação do Complexo Cultural Théo Brandão. O projeto prevê um futuro promissor para a cultura alagoana, com o restauro do Museu Théo Brandão. As ações incluem também a construção de um anexo moderno, acessível e integrado à paisagem urbana”, afirmou a diretora, museóloga Hildênia Oliveira.

Segundo ela, a falta de investimentos prejudica um dos equipamentos mais significativos da cultura e da memória alagoana. “Mesmo temporariamente fechado, o museu segue buscando parcerias para a preservação da cultura e da identidade alagoanas. Aliado a outras instituições — como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular e o Núcleo Multidimensional de Gestão do Patrimônio e Documentação em Museus — o Museu Théo Brandão colabora na coordenação do projeto Memórias Alagoanas: o acervo sonoro de Théo Brandão”, completou.

Para dar visibilidade e audibilidade a esse acervo sonoro, o projeto trabalha gravações originais de manifestações da cultura popular realizadas entre as décadas de 1940 e 1970. Integra também a iniciativa o projeto Registros Sonoros de Théo Brandão: identificação e itinerários de uma coleção fonográfica, financiado pelo CNPq por meio da Chamada CNPq/MCTI/FNDCT nº 18/2021.

Hildênia Oliveira ressalta que, ao longo de 50 anos, o Museu Théo Brandão se firmou como uma das mais importantes instituições culturais de Alagoas. “É um espaço de formação, pesquisa, memória e celebração das expressões populares, referência para pesquisadores, estudantes, músicos, artistas, mestres da cultura popular e toda a comunidade. Com seu rico acervo, que conta a história da arte e da cultura popular nordestina — e, em especial, alagoana —, o museu se reafirma como guardião do patrimônio imaterial e simbólico da região, resistindo às adversidades e construindo pontes entre passado, presente e futuro”, afirmou.

Resistência

Ao completar 50 anos, o Museu Théo Brandão simboliza a resistência da arte popular e do folclore alagoano. Por meio de manifestações como o reisado, o guerreiro, o coco de roda, a renda de bilro e o artesanato em palha e barro, o povo alagoano preserva tradições que atravessam gerações.

Para o reitor da Ufal, Josealdo Tonholo, o MTB não apenas guarda a história, mas mantém viva a tradição e contribui para que futuras gerações conheçam e valorizem a herança cultural de Alagoas. “Muito além de ser a casa permanente da Mamãe Alagoas, que permite aos seus filhinhos prolatarem o começo da epifania do Carnaval, este espaço sagrado da arte e do folclore abriga um vasto acervo de peças folclóricas, fotografias, indumentárias e obras de arte popular, funcionando como centro de pesquisa, educação e memória”, destacou.

E completou: “Cinquentenário e mais vivo que nunca, mas pedindo socorro — como tudo que se relaciona à cultura no Brasil. Teimoso como todo alagoano, o MTB clama por um restauro, aguardado há um bom tempo [que esperamos vir com recursos do Programa PAC]. Que venha o restauro, que venha a nova expografia, pois é no MTB que nos enxergamos e nos reconhecemos. Não é à toa que ele é a Casa da Gente Alagoana.”