Cidades
Moradores dos Flexais continuam esquecidos: relatório técnico ignora sinais de afundamento do solo na área
Mesmo diante de evidências técnicas de movimentação do solo na região dos Flexais, um dos epicentros da tragédia causada pela mineração da Braskem em Maceió, o relatório oficial do Comitê de Acompanhamento Técnico — assinado pela Defesa Civil Municipal, Defesa Civil Nacional e pela própria Braskem — conclui que não há, até o momento, indícios suficientes para correlacionar os danos verificados com o processo de subsidência.
A análise, divulgada em 30 de julho de 2025, integra o ciclo de vistorias do primeiro semestre e abrange seis áreas de acompanhamento técnico (ATs), entre elas a AT-01, que inclui as comunidades do Flexal de Cima, Flexal de Baixo e parte da Chã de Bebedouro.
📍 Realidade nos Flexais: solo instável, casas frágeis
Na AT-01 foram realizadas 37 vistorias, cerca de 17% das residências da área. O relatório reconhece que boa parte das edificações encontra-se sobre encostas íngremes da Formação Barreiras, uma região sabidamente instável. O documento aponta ainda que 45% dos terrenos vistoriados apresentavam cortes ou aterros sem contenção, o que agrava o risco de deslizamentos e trincamentos.
Mesmo assim, a equipe técnica afirma que os danos encontrados — como rachaduras em paredes, pisos afundando e infiltrações severas — seriam fruto de “vícios construtivos” e “ausência de manutenção”. Em uma das inspeções, foi constatado que 93% das casas não possuíam impermeabilização adequada, e mais de 80% apresentavam ausência de vergas ou contravergas.
📉 Dados mostram movimentação do solo
O próprio relatório admite que 46 pontos na AT-01 apresentaram deslocamento vertical entre -5 mm e -10 mm por ano — valores que, segundo parâmetros técnicos internacionais, já configuram risco potencial de instabilidade. Em trechos como a Rua Marquês de Abrantes, o deslocamento acumulado chega a -54,7 mm.
Ainda assim, os técnicos se recusam a vincular esses dados ao afundamento causado pela mineração da Braskem. Segundo o Comitê, a direção das fissuras não coincidiria com o padrão de deformação da subsidência.
📢 População se revolta: “Estão nos apagando do mapa”
Para moradores e lideranças da região, o relatório é mais uma tentativa institucional de negar a realidade vivida diariamente por quem continua nos Flexais. “Eles dizem que a culpa é nossa, que construímos errado. Mas fomos nós que pedimos para morar em cima de uma mina ativa?”, moro há 46 anos nos Flexais e nunca minha casa tinha rachado, questiona dona Lucélia Aureliano, moradora há 46 anos do Flexal de Cima.
A comunidade acusa a Braskem e o poder público de usar pareceres técnicos para restringir o mapa das áreas afetadas, impedindo o acesso à indenização, ao reassentamento e à justiça.
🧾 Um relatório para blindar a Braskem
Além de ignorar a vivência da comunidade, o relatório é assinado por representantes da própria Braskem a empresa responsável pela tragédia o que compromete sua credibilidade e imparcialidade.
A situação dos Flexais reflete uma política de invisibilização que continua em curso: o apagamento de comunidades vulneráveis em nome da contenção de danos jurídicos e financeiros para uma empresa que lucrou à custa da destruição de vidas.
✊ O Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) segue exigindo:
• Reconhecimento da AT-01 como área impactada;
• Indenização justa;
• Participação popular nos comitês técnicos;
• Perícia independente.
📍 Flexais existem. E resistem.
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