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Moradores dos Flexais continuam esquecidos: relatório técnico ignora sinais de afundamento do solo na área

Por Por Maurício Sarmento - MUVB 03/08/2025 09h05
Moradores dos Flexais continuam esquecidos: relatório técnico ignora sinais de afundamento do solo na área
Moradores dos Flexais condenam plano de requalificação e pedem realocação com indenização - Foto: Edilson Omena

Mesmo diante de evidências técnicas de movimentação do solo na região dos Flexais, um dos epicentros da tragédia causada pela mineração da Braskem em Maceió, o relatório oficial do Comitê de Acompanhamento Técnico — assinado pela Defesa Civil Municipal, Defesa Civil Nacional e pela própria Braskem — conclui que não há, até o momento, indícios suficientes para correlacionar os danos verificados com o processo de subsidência.

A análise, divulgada em 30 de julho de 2025, integra o ciclo de vistorias do primeiro semestre e abrange seis áreas de acompanhamento técnico (ATs), entre elas a AT-01, que inclui as comunidades do Flexal de Cima, Flexal de Baixo e parte da Chã de Bebedouro.

📍 Realidade nos Flexais: solo instável, casas frágeis

Na AT-01 foram realizadas 37 vistorias, cerca de 17% das residências da área. O relatório reconhece que boa parte das edificações encontra-se sobre encostas íngremes da Formação Barreiras, uma região sabidamente instável. O documento aponta ainda que 45% dos terrenos vistoriados apresentavam cortes ou aterros sem contenção, o que agrava o risco de deslizamentos e trincamentos.

Mesmo assim, a equipe técnica afirma que os danos encontrados — como rachaduras em paredes, pisos afundando e infiltrações severas — seriam fruto de “vícios construtivos” e “ausência de manutenção”. Em uma das inspeções, foi constatado que 93% das casas não possuíam impermeabilização adequada, e mais de 80% apresentavam ausência de vergas ou contravergas.

📉 Dados mostram movimentação do solo

O próprio relatório admite que 46 pontos na AT-01 apresentaram deslocamento vertical entre -5 mm e -10 mm por ano — valores que, segundo parâmetros técnicos internacionais, já configuram risco potencial de instabilidade. Em trechos como a Rua Marquês de Abrantes, o deslocamento acumulado chega a -54,7 mm.

Ainda assim, os técnicos se recusam a vincular esses dados ao afundamento causado pela mineração da Braskem. Segundo o Comitê, a direção das fissuras não coincidiria com o padrão de deformação da subsidência.

📢 População se revolta: “Estão nos apagando do mapa”

Para moradores e lideranças da região, o relatório é mais uma tentativa institucional de negar a realidade vivida diariamente por quem continua nos Flexais. “Eles dizem que a culpa é nossa, que construímos errado. Mas fomos nós que pedimos para morar em cima de uma mina ativa?”, moro há 46 anos nos Flexais e nunca minha casa tinha rachado, questiona dona Lucélia Aureliano, moradora há 46 anos do Flexal de Cima.

A comunidade acusa a Braskem e o poder público de usar pareceres técnicos para restringir o mapa das áreas afetadas, impedindo o acesso à indenização, ao reassentamento e à justiça.

🧾 Um relatório para blindar a Braskem

Além de ignorar a vivência da comunidade, o relatório é assinado por representantes da própria Braskem a empresa responsável pela tragédia o que compromete sua credibilidade e imparcialidade.

A situação dos Flexais reflete uma política de invisibilização que continua em curso: o apagamento de comunidades vulneráveis em nome da contenção de danos jurídicos e financeiros para uma empresa que lucrou à custa da destruição de vidas.

✊ O Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB) segue exigindo:
• Reconhecimento da AT-01 como área impactada;
• Indenização justa;
• Participação popular nos comitês técnicos;
• Perícia independente.

📍 Flexais existem. E resistem.