Cidades
Ocupação e iniciativa dos jornalistas em um ato histórico
Tribuna Independente realizava reportagens contundentes nas segundas-feiras que não tinham tradição de impresso

Para Gerônimo, a ocupação do prédio foi um divisor de águas. “A gente começou a ocupar o espaço na segunda-feira. O jornal diário alagoano não tinha essa edição da segunda-feira. Nós tínhamos dois jornais concorrentes na época, a Gazeta de Alagoas e O Jornal, e nenhum deles funcionava depois do domingo, no caso a segunda-feira. Então, nós ocupamos esse espaço [da segunda-feira], acho que pelo menos por um mês, como teste, e foi uma coisa muito boa, porque ocupou um espaço que o leitor precisava. Eu, por exemplo, fazia [matérias de] esportes e sempre cobria aos domingos. A gente começou a trabalhar de forma voluntária, fechando o jornal num dia de domingo, domingo de manhã, domingo à tarde, até à noite, até às 23h, e, nesse processo, a gente começou a conquistar o público, porque saía com edição na segunda, inclusive coisa que os concorrentes não faziam.”
Nas edições, o jornal Tribuna Independente apostava em reportagens contundentes, que mexesse, enfocasse e criasse um sentimento, principalmente, de repulsa à corrupção, ao mau uso uso de dinheiro público. “Em uma das primeiras edições, eu acho que foi a terceira, nós abordamos a questão da pistolagem em Alagoas. Então, esses assuntos, aliados com assuntos policiais do final de semana e aliados também com as informações esportivas, começaram a dar uma credibilidade ao jornal perante a sociedade e também atrair anunciantes, aqueles anunciantes que viam na nossa história um ponto de resgate, de resistência e de revalorização dos trabalhadores jornalistas e gráficos. Então, acho que o ponto crucial de toda essa jornada, nesses 18 anos, acho que foi esse começo. A gente se preparou muito bem para as edições diárias. E, quando entrou, já tinha uma certa identidade, produzida exatamente pela proposta do movimento dessas edições de segunda-feira. A partir do jornal diário a gente já emendou com o site, prosseguiu e começou a ganhar progressão”, diz Gerônimo.
No início, ele não apostava que o projeto de cooperativa daria certo como algo planejado, porque era necessária assiduidade e abnegação, mas tinha fé que fluiria de alguma forma. “A fé foi botada lá desde o começo e vem sendo sustentada por esses, digamos assim, pioneiros na instalação da cooperativa. Eu acho que quem veio do início, que foi da turma mesmo que começou lá em 2007, botava fé no projeto. Se não houver essa abnegação, essa assiduidade, com a gente ocupando certos espaços, que de qualquer forma a gente ocupa um certo espaço em Alagoas hoje, nós somos hoje o principal jornal diário do Estado, então, se não houver essa abnegação, se não houver essa assiduidade, se não houver esse sentimento afetivo, a gente desanda”.
"Impresso deve recuperar seu espaço"
Embora o Tribuna Independente resista, Gerônimo lamenta o desaparecimento gradual do impresso nessa trajetória de 18 anos do jornal. “É outra resistência que a gente enfrenta hoje e eu acho essa resistência muito saudável, porque acredito que a internet daqui a alguns anos, e já há estudos sobre isso, será vista como um espaço de negação, um espaço onde não vai haver mais aquela credibilidade que se tinha um jornal diário, que se tinha, digamos assim, os veículos de comunicações tradicionais, como rádio, jornal e tv.”
Para o editor de esportes, jornalista Júnior de Melo, o projeto do cooperativismo tinha tudo para dar certo. Ainda mais com excelentes profissionais que a antiga Tribuna tinha tanto no setor dos gráficos como na redação. “Foi um marco. Lembro que iniciamos de forma semanal e depois passamos a pensar algo maior. Eu não tive dúvidas que o projeto daria certo, porque só tinha fera na Tribuna. Parece que foi ontem, mas valeu todo o esforço de todos. Não é fácil trilhar esse caminho da informação, da apuração e do compromisso com a qualidade todos esses anos. Seguiremos fortes e em frente”, destacou Júnior.
A primeira edição do jornal Tribuna Independente circulou no dia 1º de maio, Dia do Trabalhador. “A primeira edição era resultante da nossa identidade como trabalhadores que sofreram calote. Cobrávamos ali nosso salário, porque estávamos realmente em situação de alguma de vulnerabilidade, sem dinheiro para pagar as contas, sem nada. Então, toda uma estratégia foi montada para que a circulação ocorresse nesse dia. No dia 1º de maio, que é o dia de protesto na praia, nós ocupamos alguns espaços e distribuímos esse jornal de graça. Queríamos colher todo o apoio da sociedade alagoana. Nós já tínhamos o apoio também dos movimentos sociais, de um movimento sindical e precisava desse apoio da sociedade alagoana com, digamos assim, uma mídia alternativa. Inclusive, o nome Tribuna Independente surgiu exatamente dessa alternativa. Já não eram mais os grupos que comandaram o jornal por três meses, depois fecharam e deixaram os trabalhadores à míngua. Agora era um grupo efetivamente feito por trabalhadores”, lembrou Gerônimo, quem também atuava na editoria de esportes.
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