Cidades

Jornalistas exaltam a coragem de empreender

Profissionais apostaram no cooperativismo após queda de grupo político para manter o jornal vivo e nas bancas

Por Tribuna Hoje 10/07/2025 09h52 - Atualizado em 10/07/2025 10h04
Jornalistas exaltam a coragem de empreender
Jornalista Gerônimo Vicente foi um dos fundadores da Cooperativa dos Jornalistas e Gráficos - Foto: Divulgação

Os profissionais que fundaram a Cooperativa dos Joranlista e Gráficos de Alagoas (Jorgraf) lá em 2007 avaliam que a criação da empresa coletiva e de seu primeiro veículo, o jornal impresso Tribuna Independente, foi uma conquista histórica. Isso porque reunir as categorias de jornalismo e gráficos numa cooperativa, que promovesse trabalho e renda, foi considerado um feito inédito no estado e, possivelmente, no Mundo.

A reportagem ouviu alguns dos fundadores para saber como viram essa conquista, como se sentiram quando a primeira edição do jornal foi às ruas, como tem sido a convivência com os companheiros de trabalho, como avaliam toda a trajetória durante esses 18 anos de existência e como vislumbram o futuro.

Derrocada de grupo político

O editor do caderno Brasil e Mundo do jornal Tribuna Independente, jornalista Gerônimo Vicente, lembra o clima que precedeu o acampamento no prédio da Tribuna de Alagoas, porque os trabalhadores estavam com o salários atrasados há meses, e posteriormente a criação da cooperativa. Segundo ele, havia uma temeridade por parte dos jornalistas daquela empresa à época. O veículo, que tinha sido fundado pelo PC Fárias, resistia, mas estava fragilizado. “Naquele momento, em 2007, o projeto político era encampado pelo então governador Ronaldo Lessa, que tinha uma expectativa de ampliar, de ampliação de poder, mas que não deu certo. E o retrocesso ocorreu”, explica.

Gerônimo avalia que a fundação da cooperativa foi uma conquista histórica para os jornalistas e gráficos, que naquele momento estavam sem salários e sem emprego. “Foi, digamos assim, uma ousadia, uma audácia e a necessidade de sobrevivência, porque os trabalhadores da Tribuna de Alagoas, historicamente, sempre foram utilizados como bucha de canhão para um projeto político e que sempre acabava depois da eleição, tanto no caso do PC Farias como no de Ronaldo Lessa, como foi em 2007. Além de acabar depois da eleição, inclusive com a baixa expectativa do grupo, porque a intenção do grupo era ampliar o poder politicamente, deu tudo errado e atingiu diretamente o projeto político do grupo. E esse retrocesso político prevaleceu no bolso dos trabalhadores, que ficaram três meses sem receber.”

Muitos trabalhadores só tinham aquela fonte de renda. Como estavam passando dificuldades para manter o custo de vida, resolveram então fazer uma mobilização encampada pelo Sindicato dos Jornalistas de Alagoas e pelo Sindicato dos Gráficos de Alagoas. Gerônimo Vicente lembra que a ação dos sindicatos foi bastante eficiente na questão de reforçar a necessidade financeira dos trabalhadores que estavam em situação de vulnerabilidade. A ação foi decisiva para que não houvesse nenhuma transferência dos bens patrimoniais (móveis, imóveis e meios de produção) da Tribuna de Alagoas, para que não fossem devolvidos ao credor, que no caso era o Banco do Nordeste, enquanto não houvesse a liquidação dos débitos da empresa com os trabalhadores, tais como INSS, FGTS e rescisão contratual.

Sindicatos tiveram papel fundamental

Todo o movimento dos trabalhadores foi apoiado pelos sindicatos. Então, o papel de pessoas como o Carlos Roberto, que era presidente do sindicato, do próprio Paulo Gabriel, que segurou todos os gráficos lá, quando a gente já pensava nesse projeto de fundação de cooperativa, foi fundamental”, ressalta, ao tempo em que lembra que tudo isso aconteceu aproximadamente dois anos após um projeto de cooperativa de jornalistas não ter dado certo no estado.

“Então a gente ficava dentro daquela expectativa: vai dar certo ou não dá? Mas sempre naquela certeza de que vai dar certo, porque se não der, muita gente vai ser prejudicada, porque só tem uma fonte de renda. Então, eu acho que o fundamental dessa conquista foi justamente demonstrar para a sociedade que os trabalhadores estavam sendo vítimas de um projeto político patrocinado com dinheiro público, que foi um dinheiro do Banco do Nordeste, que financiou toda a estrutura de um jornal moderno para a época, 1999, por aí, mas que não deu certo. Eles desistiram do projeto com a morte do PC, mas o dinheiro público ficou. Todo o patrimônio público ficou sendo utilizado. Então, como houve esse calor, os trabalhadores foram lá e deram o seu recado apostando na cooperativa”, explica o jornalista.