Cidades

Mulheres vencem câncer a vão a festival

6º Festival Dragon Boat do Nordeste acontecerá de 25 a 28 de julho, em Paulo Afonso (BA), com presença de alagoanas

Por Valdete Calheiros – colaboradora / Tribuna Independente 05/07/2025 10h05
Mulheres vencem câncer a vão a festival
Grupo de remadoras alagoanas irá participar de festival na cidade baiana de Paulo Afonso - Foto: Cortesia

Pelo menos 38 mulheres alagoanas que venceram o câncer de mama estarão participando do 6º Festival Dragon Boat do Nordeste que acontecerá de 25 a 28 de julho, em Paulo Afonso, na Bahia. Além de Alagoas, participam da competição, os estados de Ceará, Pernambuco, Bahia e São Paulo. Este é o maior evento de Canoagem Rosa do Nordeste.

A competição reúne mulheres sobreviventes da doença e terá participação ativa das remadoras da Equipe Lisa Flor que levará 22 remadoras, uma voluntária (tamborinista) e a técnica da equipe que também é árbrita de Dragon Boat. Entre as competidoras, uma remadora de 73 anos.

Em Alagoas, além do Lisa Flor (Remadoras Rosas de Alagoas) existem remadoras nos grupos Girassol e Sobreviver. Para ajudar nas despesas da viagem, as competidoras estão sorteando um quadro marinho pintado a óleo (70x50 centímetros). O valor do bilhete é R$ 10,00. O sorteio será realizado no próximo dia 22, às 17 horas, no instagram @lisaflor_dragonboat.

Quem quiser comprar a rifa para ajudar pode entrar em contato com o número (82) 99997-1805n e falar com Ruth França Cizino de Trindade, enfermeira, de 64 anos, que venceu o câncer de mama.
Ruth França venceu a luta contra o câncer de mama e ressignificou sua vida. Docente aposentada da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), percebeu um nódulo na mama em 2015. Ela é a autora do quadro que está sendo rifado.

De imediato, a enfermeira procurou um médico mastologista. Sem histórico de câncer na família, foi ao especialista por excesso de zelo. Entre março e abril daquele ano, foram realizados os exames e chegou-se ao diagnóstico conclusivo: era câncer de mama. Ela foi a primeira pessoa e, até então, única a receber um diagnóstico de câncer na família.

“Em maio de 2015, fiz a cirurgia do quadrante da mama esquerda, retirei um linfonodo e em junho comecei a quimioterapia. Em setembro e novembro fiz a radioterapia. Foram 28 sessões. Perdi o cabelo. Fiquei careca, mas enfrentei tudo sem drama, sem problemas. Não passei por uma história de sofrimento. Eu tinha um problema e precisava resolvê-lo. Nunca me senti uma pessoa doente. Não deixei de fazer o que eu gostava”, relatou.

Curada e com a vida ressignificada, Ruth Franca Cizino da Trindade transformou a doença em novas possibilidades. E uma nova paixão na vida: a canoagem.

Membro e voluntária do Projeto Lisa Flor, a enfermeira segue ajudando e encorajando outras mulheres que tiverem câncer de mama.

Segundo ela, uma das primeiras dúvidas acerca do projeto é se a mulher precisa ser uma atleta para poder praticar o remo. E a resposta é não. “Qualquer pessoa pode aprender a remar, basta respeitar suas limitações”.

Clube da Canoagem João Tomasine nasceu em Alagoas em 2017

A idealização da criação do Clube de Canoagem João Tomasine nasceu, em Alagoas, em 2017 com a educadora física e fisioterapeuta Daniela C. Dantas Costa que conheceu o projeto de remadoras rosa em um evento da paracanoagem, em que atuava como classificadora funcional.

Na ocasião, surgiu a ideia de formar um grupo em Alagoas, visto que, no Nordeste, à época, não existia nenhuma equipe de canoagem que atendesse a este objetivo. Assim nasceu o projeto Lisa Flor, movimento de mulheres que tiveram câncer de mama, denominado “remadoras rosa”.

O Lisa Flor atende atualmente mais de 30 mulheres. As mulheres que fazem parte do Projeto Lisa Flor são filiadas à International Breast Cancer Paddlers Commission (IBCPC) e à Comissão Internacional de Remadoras Sobreviventes de Câncer de Mama, além de estarem associadas ao Clube de Canoagem João Tomasini e à CBCA.

O Lisa Flor oferece a canoagem como prática de atividade física regular com o objetivo primeiro de reabilitação pós-tratamento do câncer de mama para prevenir e reduzir o linfedema pós-mastectomia, que é um quadro patológico crônico e progressivo, que gera déficit no equilíbrio das trocas de líquidos intersticiais, resultante principalmente da dissecção axilar do nódulo, da radioterapia na axila e da quimioterapia.

Outro benefício que o projeto oferece é a oportunidade para estas mulheres se manterem ativas, física, social e emocional contribuindo para uma melhor qualidade de vida, pois o câncer é uma doença que, ainda, carrega muitos estigmas. O grupo participa de competições locais e regionais na modalidade Dragon Boat e canoa polinésia.

O Clube de Canoagem João Tomasini (CCJT) é uma organização Social de direito privado, sem fins lucrativos, que recebeu uma qualificação jurídica concedida pela Administração Pública em 2021, presidido por Daniela C. Dantas Costa e por uma coordenação geral, formada pela capitã da equipe Rita Luiza Percia Name, segunda capitã Guendalina Lucas De Souza, maneger Ruth Franca C. da Trindade, segunda maneger Ivalda Bonfim de Gusmão e pela presidente do clube de canoagem João Tomasini.

Entre as atividades que fazem, as remadoras fazem alongamento, técnicas de remadas e canoagem propriamente dita. Ministram palestras, participam de roda de conversa sobre os benefícios da canoagem e compartilham histórias. O Lisa Flor é bastante dinâmico, sempre realiza atividades sociais, reuniões em grupo, avaliação e planejamento.

Em 2019, o grupo participou do 2º Festival Roama de Remadoras Rosa, em Paulo Afonso, na Bahia, e organizaram o primeiro evento “Rosa no Mar”, realizado na praia de Ponta Verde.

Também desde 2019, o Lisa Flor promove o “Festival Outubro Rosa”. O evento tem a dupla missão de promover a conscientização sobre o câncer de mama, incentivando homens e mulheres a realizarem o autoexame e buscarem o diagnóstico precoce e de divulgar e fomentar a prática de esportes aquáticos, com destaque para a canoagem em Dragon Boat e canoa polinésia e Stand Up Paddle.

Médico introduziu prática da modalidade para ex-pacientes

A prática da canoagem e do Dragon Boat entre pessoas que enfrentaram o câncer de mama teve início em 1996, quando o Dr. McKenzie1, professor emérito em Cinesiologia e Medicina Esportiva na Universidade de Colúmbia Britânica, Canadá, introduziu essa modalidade.

Desde então, essa prática vem se expandindo em todo o mundo, proporcionando não apenas reabilitação física, mas também fortalecimento emocional e inspiração para aqueles que enfrentam desafios de saúde.

Em 2013, na Argentina, mulheres que passaram pela experiência do câncer de mama formaram a primeira equipe latinoamericana, inspiradas pelo movimento “Abreast In A Boat”.

Atualmente, esse movimento se estende por seis países da América Latina, onde essas mulheres encontram nos esportes aquáticos não apenas uma forma de exercício, mas também de camaradagem e conexão com a natureza.

No Brasil, o movimento das “Remadoras Rosa do Brasil” teve início em 2016 e em Alagoas em 2017 com o projeto Lisa Flor.

Para a enfermeira Ruth Franca Cizino, “refletir sobre o que é uma vida boa é um convite para olhar para dentro e para fora de nós, percebendo o que dá sentido a nossa existência”, afirmou, inspirada na própria trajetória.

Segundo ela, aos 64 anos, pode enxergar que uma vida boa é aquela vivida com entrega, coragem, autenticidade e propósito. “Eu trago uma história de múltiplas vidas vividas em uma só”, resumiu a mulher que tem vontade de viver.

Enfermeira, professora universitária por mais de 30 anos, paraquedista durante mais de duas décadas, artista nas horas de criação e, atualmente, remadora dedicada ao Dragon Boat e à canoa polinésia.

Orgulhosa da própria história, ela recordou que de ter dito “sim” à vida, inclusive diante das adversidades, como o câncer de mama, que disse ter enfrentado com serenidade e força, recusando-se a aceitar a identidade de “doente”.

“Acredito que podemos ter uma vida boa, saudável, ativa, participativa mesmo após um diagnóstico e tratamento de um câncer de mama, pois a vida é para ser vivida em sua plenitude”, ensinou.

Também conhecido como neoplasia, o câncer de mama é caracterizado pelo crescimento de células cancerígenas na mama. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), é o segundo tumor mais comum entre as mulheres, atrás apenas para o câncer de pele, e o primeiro em letalidade.